Campanha, 05 nov (RV) – Quando eu era criança, em 1980, iniciava os meus estudos
na Escola Estadual Belmiro Braga, na minha cidade de Boa Esperança, quando aprendi
a cantar aquela música que encantou a minha infância: "A bênção João de Deus, nosso
povo te abraça! Tu vens em missão de paz, sê bem vindo, abençoa este que te ama!".
Esta música eletrizou o Brasil - e depois da visita ao nosso País, João Paulo II a
cantava pelos corredores do Vaticano - foi um legado do Cardeal Eugênio de Araujo
Sales, Arcebispo do Rio de Janeiro, que se esmerou em receber, com grande alegria,
o Papa bom que conquistou o Brasil e que até hoje é amado por todos os cariocas, cidade
em que atravessou de lado a lado, avenida a avenida, subindo o Morro do Vidigal e
demonstrando a sua alegria em visitar o Brasil.
Recordo este fato porque
desde esta quadra, não havia domingo que não ligava a Rede Globo nas manhãs de Domingo
para assistir a Santa Missa em seu lar, dirigida pelo assessor de imprensa Adionel
Carlos e ouvir Gil Ferreira anunciar o Jornal da Arquidiocese e a Voz grave e segura
do Pastor, pela pregação dominical do Cardeal Eugênio Sales que, naquele tempo, já
era a voz abalizada da Igreja em sintonia com a voz do Santo Padre. Dom Eugênio,
ontem e hoje, é o Cardeal não só do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil. Homem de
fé, humilde e simples, é afável e acolhedor, conquistando o seu interlocutor pela
sua postura serena e decidida de "sentir com Cristo e com a Igreja" não se preocupando,
como diz o Papa Bento XVI, em ser "impopular" ou "incompreendido" ao anunciar e testemunhar
o Evangelho, o Magistério da Igreja e o ensinamento dos Romanos Pontífices acerca
dos fundamentos da fé católica, apostólica e romana. Na oração e na discrição Dom
Eugênio libertou muitos e muitos presos políticos, sem nunca ofender aos militares,
mantendo a sua inteligente posição que não foi nem de alinhamento, nem de condenação
e nem muito menos de menosprezo em vista ao regime vigente, mas como Pastor da Igreja
de Cristo, cumpria as obrigações civis, com independência, mas como Pastor acolhia
os presos políticos, encaminhava a sua delicada situação e a quantos que necessitaram
de amparo financeiro não mediu esforços para minorar a dor daqueles que eram perseguidos
pelo regime de exceção.
O Palácio São Joaquim foi, nos anos revolucionários,
o porto seguro de todos os refugiados políticos que aportavam no Rio de Janeiro. Por
Dom Eugênio e pelo seu administrador, Doutor Cândido, eram encaminhados e recebiam,
não só carinho, mas a atenção a sua difícil e penosa situação, mesmo que o refugiado
fosse ateu ou comunista. Não era importante a conotação política ou mesmo a confissão
religiosa, mas dar uma chance a qualquer pessoa que era perseguida. Dom Eugênio
chega a recompensa dos justos vivendo, lúcido e atuante, os seus 90 anos de vida,
dos quais, até os oitenta anos regeu, com singular importância histórica e religiosa,
a Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro que tem a sua feição, tem o seu jeito
e tem a sua fidelidade, porque Dom Eugênio é o divisor de águas na Igreja no Brasil,
em que o social somente tem valor se precedido da conotação espiritual e pastoral.
No silêncio, na oração, na fidelidade a Cristo e na fidelidade a Igreja, Dom Eugênio
será sempre lembrando como o homem da fidelidade e da santidade aos valores do Reino
e da Igreja. Os mais pobres ou os mais ricos, aos quais tratava da mesma forma como
filhos e filhas de Deus, esses nunca esquecerão o Cardeal Sales pelo carinho que
tinha por todos.
Que possamos imitar em Dom Eugênio a frase lapidar: "obedecer
sempre a Deus e a voz do Papa e da Igreja" é a receita da santidade e da serenidade.
A serenidade que ele demonstra e que todos nós queremos seguir é esta servir a Deus,
seguindo a voz da Igreja e do Papa. Que Dom Eugênio receba a coroa dos justos nesta
vida, gozando de saúde, da amizade, do carinho e das orações não só dos cariocas,
mas de todos os brasileiros que com ele querem aprender com o seu lema episcopal:
"Impendam et superimpendar", (2Cor 12, 15): "Quanto a mim, de muita boa vontade gastarei
o que for preciso e me gastarei inteiramente por vós." Até quando Deus der saúde
ao Patriarca Eugênio, Cardeal Sales ele nos iluminará a gastar, com boa vontade, o
que for preciso para Deus Nosso Cristo Redentor!