Cidade do Vaticano, 05 nov (RV) – O Papa Bento XVI recebeu nesta manhã de sexta-feira
o grupo de bispos do Regional Sul 2 da CNBB (Estado do Paraná), no âmbito de sua visita
“ad Limina”. A eles o Santo Padre fez um discurso que publicamos a seguir:
Venerados
Irmãos no Episcopado,
«O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz
em vossa vida de fé, para que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo»
(Rm 15, 13) a fim de guiar o vosso povo à plenitude da salvação em Cristo. De coração
saúdo a todos e cada um de vós, amados Pastores do Regional Sul 2 em Visita ad limina
Apostolorum, e agradeço as palavras que me dirigiu o vosso Presidente, Dom Moacyr,
fazendo-se intérprete dos sentimentos de comunhão que vos unem ao Sucessor de Pedro.
Por isso vos estou grato. Esta casa é também a vossa: sede bem-vindos! Nela podeis
experimentar a universalidade da Igreja de Cristo que se estende até aos extremos
confins da terra.
Por sua vez, cada uma das vossas Igrejas particulares, queridos
Bispos, é o generoso ponto de chegada de uma missão universal, o aflorar «aqui e agora»
da Igreja universal. Neste caso, a justa relação entre «universal» e «particular»
verifica-se não quando o universal retrocede diante do particular, mas quando o particular
se abre ao universal e se deixa atrair e valorizar por ele. Na idéia divina, a Igreja
é uma só: o Corpo de Cristo, a Esposa do Cordeiro, a Jerusalém do Alto, esta Cidade
definitiva que seria o objetivo mais profundo da criação querida como o lugar onde
se realiza a vontade de Deus e a terra se torna céu. Recordo-vos estes princípios,
não porque os ignoreis, mas porque nos ajudam a bem situar as pessoas consagradas
na Igreja. Com efeito, nesta, a unidade e a pluralidade não só não se opõem mas enriquecem-se
reciprocamente na medida em que procuram a edificação do único Corpo de Cristo, a
Igreja, por meio do «amor que une a todos na perfeição» (Cl 3, 14).
Porção
eleita do Povo de Deus, os consagrados e consagradas lembram hoje «uma planta com
muitos ramos, que assenta as suas raízes no Evangelho e produz abundantes frutos em
cada estação da Igreja» (Exort. ap. Vita consecrata, 5). Sendo a caridade o primeiro
fruto do Espírito (cf. Gl 5, 22) e o maior de todos os carismas (cf. 1 Cor 12, 31),
a comunidade religiosa enriquece a Igreja de que é parte viva, antes de tudo com o
seu amor: ama a sua Igreja particular, enriquece-a com seus carismas e abre-a a uma
dimensão mais universal. As delicadas relações entre as exigências pastorais da Igreja
particular e a especificidade carismática da comunidade religiosa foram tratadas pelo
documento Mutuae relationes, do qual está longe tanto a idéia de isolamento e de independência
da comunidade religiosa em relação à Igreja particular, como a da sua prática absorção
no âmbito da Igreja particular. «Como a comunidade religiosa não pode agir independentemente
ou como alternativa ou, menos ainda, contra as diretrizes e a pastoral da Igreja particular,
assim a Igreja particular não pode dispor a seu bel-prazer, segundo as suas necessidades,
da comunidade religiosa ou de alguns dos seus membros» (Doc. Vida fraterna em comunidade,
60).
Perante a diminuição dos membros em muitos Institutos e o seu envelhecimento,
evidente em algumas partes do mundo, muitos se interrogam se a vida consagrada seja
ainda hoje uma proposta capaz de atrair os jovens e as jovens. Bem sabemos, queridos
Bispos, que as várias Famílias religiosas desde a vida monástica até às congregações
religiosas e sociedades de vida apostólica, desde os institutos seculares até às novas
formas de consagração tiveram a sua origem na história, mas a vida consagrada como
tal teve origem com o próprio Senhor que escolheu para Si esta forma de vida virgem,
pobre e obediente. Por isso a vida consagrada nunca poderá faltar nem morrer na Igreja:
foi querida pelo próprio Jesus como parcela irremovível da sua Igreja. Daqui o apelo
ao compromisso geral na pastoral vocacional: se a vida consagrada é um bem de toda
a Igreja, algo que interessa a todos, também a pastoral que visa promover as vocações
à vida consagrada deve ser um empenho sentido por todos: Bispos, sacerdotes, consagrados
e leigos.
Entretanto, como afirma o decreto conciliar Perfectae caritatis,
«a conveniente renovação dos Institutos depende sobretudo da formação dos membros»
(n. 18). Trata-se de uma afirmação fundamental para toda a forma de vida consagrada.
A capacidade formativa de um Instituto, quer na sua fase inicial quer nas fases sucessivas,
está no centro de todo o processo de renovação. «De fato, se a vida consagrada é,
em si mesma, uma progressiva assimilação dos sentimentos de Cristo, resulta evidente
que um tal caminho terá de durar a vida inteira para permear toda a pessoa (...) e
torná-la semelhante ao Filho que Se entrega ao Pai pela humanidade. Assim entendida,
a formação já não é apenas um tempo pedagógico de preparação para os votos, mas representa
um modo teológico de pensar a própria vida consagrada, que em si mesma é uma formação
jamais terminada, uma participação na ação do Pai que, através do Espírito plasma
no coração os sentimentos do Filho» (Instr. Partir de Cristo, 15).
Pelo modo
que considerardes mais oportuno, venerados Irmãos, fazei chegar às vossas comunidades
de consagrados e consagradas, independentemente do serviço claustral ou apostólico
que estão desempenhando, a viva gratidão do Papa que de todas e todos se recorda nas
suas orações, lembrando em especial os idosos e doentes, quantos atravessam momentos
de crise e de solidão, quem sofre e se sente confuso e também os jovens e as jovens
que hoje batem à porta das suas Casas e pedem para se entregar a Jesus Cristo na radicalidade
do Evangelho. Agora, invocando o celeste patrocínio de Maria, modelo perfeito de consagração
a Cristo, confirmo-vos mais uma vez a minha estima fraterna e concedo-vos, extensiva
a todos os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais, uma propiciadora Bênção
Apostólica. (SP)