Bento XVI em viagem apostólica á Espanha neste fim de semana. As expectativas na
crónica do enviado Pacheco Gonçalves
(5/11/2010) O Santuário galego de Santiago de Compostela e a igreja da Sagrada Família,
em Barcelona, são o destino da 18ª viagem de Bento XVI ao estrangeiro, no próximo
sábado e Domingo, 6 e 7 de Novembro. Bento XVI vai cumprir todos os passos típicos
que os peregrinos cumprem em Compostela, desde a passagem pela porta santa ao abraço
à imagem de S. Tiago, incluindo a visita ao túmulo do Apóstolo. Em Barcelona, “arte
e família” são os temas escolhidos por Bento XVI, na dedicação da igreja de Gaudì,
que passará a ser designada como Basílica menor. De Santiago de Compostela o enviado
da Rádio Vaticano Pacheco Gonçalves. -A
intensa neblina que esta manhã cobria Santiago, a vinte e quatro horas da chegada
de Bento XVI, constitui um belo símbolo do que esta visita pretende ser. “Peregrino
da fé. Testemunha de Cristo Ressuscitado” é de facto o lema da primeira etapa desta
segunda deslocação do Papa Ratzinger a terras espanholas. Como há quatro anos, em
Valência, para o Encontro Mundial das Famílias, também agora Bento XVI deseja propor
a Luz de Cristo no meio da neblina de uma sociedade em crise, não só financeira e
social, mas também religiosa e cultural. Inevitavelmente, é de certa tensão o ambiente
que se respira nos locais onde se ultimam os preparativos: quer na esplêndida Praça
da Obradoro, em frente à catedral, onde se dão os últimos retoques a um amplo cenário
que acolhe, ao abrigo do vento e da chuva, o altar da Missa que o Papa concelebrará
com a maioria dos bispos espanhóis; mas também no moderno Centro de Congressos da
“Xunta da Galicia” que acolhe já hoje muitas centenas de jornalistas para cobrirem
aqui o acontecimento. Espaço este já completamente “blindado”, à entrada, como um
aeroporto de alta segurança. De facto, como referem com insistência todos os jornais
e outros meios de comunicação espanhóis, é máxima a atenção (preocupação) reservada
à segurança. O percurso papal está a ser policiado desde há dias e grandes são as
restrições de movimento que os próprios citadinos se vêem impor, sobretudo no centro
da cidade, no dia de sábado. Mas é ao nível de todo o país, não só na Galiza e na
Catalunha, que esta visita do Papa suscita posições contrastantes: a satisfação e
mesmo entusiasmo de muitos (católicos) não conseguem dissipar as críticas que tantos
outros cidadãos exprimem, sobretudo pelos elevados custos de toda a viagem num momento
tão difícil para o país. É verdade que a presença de Bento XVI assegura às duas
cidades visitadas uma visibilidade internacional que poderá resultar num incremento
do turismo e do comércio. Mas não é que tal irá minimamente contrabalançar a curto
prazo o significativo esforço financeiro das autoridades. Pode parecer um falso problema,
ao jeito do que já ocorrera, recentemente, na Grã Bretanha, e mesmo em Portugal. Mas
há que reconhecer que esta dimensão dos aspectos organizativos da viagem assume em
Espanha especial relevo em razão das profundas contraposições, históricas e ideológicas,
que contrapõem neste Estado já de si tão variegado, crentes e não crentes, católicos
e não católicos. É como se as feridas da guerra civil de há 80 anos atrás continuassem
a fazer-se sentir ainda hoje, de algum modo, em reacções emotivas e pré-concebidas,
de ambas as partes, bem demarcadas entre si. É no meio destas lacerações do passado
e do presente, a requerer uma profunda purificação da memória e do coração que se
insere, na sua autêntica dimensão religiosa, com toda a carga positiva do Evangelho
do Deus-Amor, esta viagem papal. Como tem acontecido sistematicamente nas anteriores
viagens internacionais, bem mais complexas e problemáticas do que esta, espera-se
que também agora Bento XVI, na simplicidade do seu estilo e na clareza do seu pensamento,
consiga – digamos – “desarmar” os espíritos e contribuir para um clima de fraterna
convivência civil entre todos os espanhóis. Seria um precioso fruto dos que se aguardam
de uma viagem iminentemente pastoral. De Santiago de Compostela, para a RV, Pacheco
Gonçalves