2010-11-05 14:53:20

Bento XVI em viagem apostólica á Espanha neste fim de semana. As expectativas na crónica do enviado Pacheco Gonçalves


(5/11/2010) O Santuário galego de Santiago de Compostela e a igreja da Sagrada Família, em Barcelona, são o destino da 18ª viagem de Bento XVI ao estrangeiro, no próximo sábado e Domingo, 6 e 7 de Novembro.
Bento XVI vai cumprir todos os passos típicos que os peregrinos cumprem em Compostela, desde a passagem pela porta santa ao abraço à imagem de S. Tiago, incluindo a visita ao túmulo do Apóstolo.
Em Barcelona, “arte e família” são os temas escolhidos por Bento XVI, na dedicação da igreja de Gaudì, que passará a ser designada como Basílica menor.
De Santiago de Compostela o enviado da Rádio Vaticano Pacheco Gonçalves. RealAudioMP3 -A intensa neblina que esta manhã cobria Santiago, a vinte e quatro horas da chegada de Bento XVI, constitui um belo símbolo do que esta visita pretende ser. “Peregrino da fé. Testemunha de Cristo Ressuscitado” é de facto o lema da primeira etapa desta segunda deslocação do Papa Ratzinger a terras espanholas. Como há quatro anos, em Valência, para o Encontro Mundial das Famílias, também agora Bento XVI deseja propor a Luz de Cristo no meio da neblina de uma sociedade em crise, não só financeira e social, mas também religiosa e cultural.
Inevitavelmente, é de certa tensão o ambiente que se respira nos locais onde se ultimam os preparativos: quer na esplêndida Praça da Obradoro, em frente à catedral, onde se dão os últimos retoques a um amplo cenário que acolhe, ao abrigo do vento e da chuva, o altar da Missa que o Papa concelebrará com a maioria dos bispos espanhóis; mas também no moderno Centro de Congressos da “Xunta da Galicia” que acolhe já hoje muitas centenas de jornalistas para cobrirem aqui o acontecimento. Espaço este já completamente “blindado”, à entrada, como um aeroporto de alta segurança. De facto, como referem com insistência todos os jornais e outros meios de comunicação espanhóis, é máxima a atenção (preocupação) reservada à segurança. O percurso papal está a ser policiado desde há dias e grandes são as restrições de movimento que os próprios citadinos se vêem impor, sobretudo no centro da cidade, no dia de sábado. Mas é ao nível de todo o país, não só na Galiza e na Catalunha, que esta visita do Papa suscita posições contrastantes: a satisfação e mesmo entusiasmo de muitos (católicos) não conseguem dissipar as críticas que tantos outros cidadãos exprimem, sobretudo pelos elevados custos de toda a viagem num momento tão difícil para o país.
É verdade que a presença de Bento XVI assegura às duas cidades visitadas uma visibilidade internacional que poderá resultar num incremento do turismo e do comércio. Mas não é que tal irá minimamente contrabalançar a curto prazo o significativo esforço financeiro das autoridades. Pode parecer um falso problema, ao jeito do que já ocorrera, recentemente, na Grã Bretanha, e mesmo em Portugal. Mas há que reconhecer que esta dimensão dos aspectos organizativos da viagem assume em Espanha especial relevo em razão das profundas contraposições, históricas e ideológicas, que contrapõem neste Estado já de si tão variegado, crentes e não crentes, católicos e não católicos. É como se as feridas da guerra civil de há 80 anos atrás continuassem a fazer-se sentir ainda hoje, de algum modo, em reacções emotivas e pré-concebidas, de ambas as partes, bem demarcadas entre si.
É no meio destas lacerações do passado e do presente, a requerer uma profunda purificação da memória e do coração que se insere, na sua autêntica dimensão religiosa, com toda a carga positiva do Evangelho do Deus-Amor, esta viagem papal. Como tem acontecido sistematicamente nas anteriores viagens internacionais, bem mais complexas e problemáticas do que esta, espera-se que também agora Bento XVI, na simplicidade do seu estilo e na clareza do seu pensamento, consiga – digamos – “desarmar” os espíritos e contribuir para um clima de fraterna convivência civil entre todos os espanhóis. Seria um precioso fruto dos que se aguardam de uma viagem iminentemente pastoral.
De Santiago de Compostela, para a RV, Pacheco Gonçalves








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