DIA DE FINADOS: BENTO XVI REZA POR SEUS PREDECESSORES
Cidade do Vaticano, 02 nov (RV) - No dia em que a Igreja no mundo inteiro comemora
solenemente os fiéis defuntos, o Papa – seguindo a tradição – homenageia os seus predecessores.
No final da tarde desta terça-feira, Bento XVI desceu à cripta vaticana para um momento
de oração, de forma privada, diante dos túmulos dos Pontífices defuntos. Nestes anos,
o aproximar-se desse momento litúrgico ofereceu ao Papa oportunidade de refletir sobre
a visão cristã da morte e da Ressurreição.
Dois abismos, a morte e a fé em
Cristo: a primeira provoca na mente humana a difícil busca de uma lógica que console,
a segunda sedimenta-se no coração com a promessa da Ressurreição.
Diante dessa
bifurcação interior, aproximar-se do túmulo de um ente querido pode renovar um desconfortável
sentimento de perda ou abrir o espírito à esperança da vida que existe além da vida.
Nesta segunda-feira, Bento XVI chamou a atenção dos fiéis sobre esse mistério:
"A
Liturgia de 2 de novembro e o pio exercício de visitar os cemitérios recordam-nos
que a morte cristã faz parte do caminho de assimilação a Deus e desaparecerá quando
Deus tornar-se tudo em todos. A separação dos afetos terrenos é certamente dolorosa,
mas não devemos temê-la, porque ela, acompanhada da oração de sufrágio da Igreja,
não pode romper o laço profundo que nos une em Cristo." (Angelus de 1º de novembro
de 2010)
Mas que sentido tem essa união com Cristo quando se pensa na morte,
se nunca ou quase nunca se pensa em Cristo durante a vida, e se a promessa de Deus
da imortalidade da alma e do corpo é, para muitos, mais ou menos como uma bonita e
inconsistente "fábula"?
"O homem moderno espera ainda essa vida eterna, ou
considera que ela pertença a uma mitologia já superada? Neste nosso tempo, mais do
que no passado, o homem se encontra de tal modo concentrado nas coisas terrenas, que
por vezes se torna difícil pensar em Deus como protagonista da história e da nossa
própria vida." (Audiência Geral de 2 de novembro de 2005)
Em outra data, o
Papa ressaltou:
"É necessário também hoje evangelizar a realidade da morte
e da vida eterna, realidades particularmente sujeitas a crenças supersticiosas e a
sincretismo, para que a verdade cristã não corra riscos de misturar-se com mitologias
de todo tipo." (Angelus de 2 de novembro de 2008)
Aí está o grande paradoxo
do homem de hoje, que em grande parte desistiu da espiritualidade cristã e, porém
acaba, mais cedo ou mais tarde, por cair em algum tipo de transcendência paralela,
quando deve enfrentar aquilo que não pode controlar, ou seja, a vida que acaba, a
sua ou a de pessoas que ama. O homem não pode subtrair-se dessa inquietação, porque
– afirmou o Santo Padre – a existência humana "por sua natureza, é propensa a algo
maior":
"Na realidade, como já observava Santo Agostinho, todos queremos a
"vida beata", a felicidade. Não sabemos bem o que é e como é, mas nos sentimos atraídos
por ela. Essa una esperança universal é comum aos homens de todos os tempos e lugares.
A expressão "vida eterna" quer dar um nome a essa expectativa insuprível: não uma
sucessão sem fim, mas o imergir-se no oceano do infinito amor, no qual o tempo, o
antes e o depois não mais existem. Uma plenitude de vida e de glória: é isso que esperamos
e aguardamos do nosso estar com Cristo." (Angelus de 2 de novembro de 2008)
A
eternidade – disse ainda o Papa no Angelus de ontem – "não é um contínuo suceder-se
de dias do calendário, mas algo como o momento pleno de realização, cuja totalidade
nos abraça e nós abraçamos a totalidade do ser, da verdade, do amor".
Aquela
totalidade que se tornou história terrena e promessa do céu quando dois mil anos atrás
a pedra rolou e Jesus saiu do sepulcro com uma mensagem que nenhum homem jamais poderá
prometer a um seu semelhante e que o Papa expressou assim:
"Ressuscitei e agora
estarei sempre com você – nos diz o Senhor – e a minha mão o sustentará. Onde possa
cair, cairá em minhas mãos e estarei sempre presente até mesmo na porta da morte.
Onde ninguém mais poderá acompanhá-lo e aonde você não poderá levar nada, lá o esperarei
para transformar para você as trevas em luz." (Angelus de 2 de novembro de
2008) (RL)