Tagaitay, 31 out (RV) - Uma das características da missão é seu dinamismo impulsionado
por um espírito criativo em contanto permanente com o novo e desconhecido. Ao mesmo
tempo é preciso ter o olhar voltado para a história que as pessoas escrevem com suas
experiências de vida. Além de ler, revistas e livros sobre tudo o que acontece no
mundo, é preciso saber ler o significado dos fatos relacionados com o momento, ambiente
e pessoas que os produzem. Embora ler a realidade dessa forma pareça complexo, é valioso
mergulhar nas culturas, história e experiência dos seres humanos, na busca da felicidade
e do sentido da vida.
O missionário é aquele que tenta encontrar espaço no
qual ele pode dar testemunho de seu convívio com o Pai, conduzido pela presença de
Cristo, energizando suas ações com a força do Espírito Santo.
Inspirados pela
atitude de Cristo que convidou seus discípulos para se afastarem, num lugar calmo
e longe da agitação e do burburinho, para um tempo de descanso e renovação das energias,
24 missionários da Congregação dos Missionários de São Carlos - escalabrinianos -
cujo carisma é o exercício da missão entre os migrantes, juntamente com outros 17
jovens em formação, recolheram-se numa região montanhosa na cidade de Tagaitay na
ilha de Luzon, Filipinas, de 27 a 30 de outubro de 2010. Missionários provenientes
do Japão, Taiwan, Indonésia, Vietnã e Filipinas transformaram uma casa de retiros
em cenáculo temporário.
O tema "Comunidade e Missão" foi a referência para
que, além das preces ao Deus de todos os povos, fossem partilhadas as experiências
missionárias com os migrantes nos países onde exercem a missão. A nota fundamental
nos testemunhos apresentados foi satisfação e gratificação que os missionários entesouraram,
acolhendo o migrante que deixou sua terra em busca do essencial para sua família,
mitigando-lhe as feridas profundas no coração, causadas pela rejeição, desprezo e
humilhações, tendo compaixão para com quem perdeu a confiança nos seres humanos, por
ter sido explorado por seus semelhantes de outra cultura, sendo a força de quem chegou
desanimado e abatido.
Longe da tendência de que estar perto de pessoas que
sofrem seria uma fonte de tristeza, os missionários sentem-se profundamente felizes
por dar amor fraterno a quem chega machucado, na busca de trabalho ou fugindo das
perseguições ou até da ameaça de morte.
Certamente parece estranho que, em
nossos dias, muitos jovens busquem a felicidade, no serviço aos migrantes ao invés
de esnobar, montando uma moto, galanteando-se diante das pessoas, disputando poder
ou buscando prazeres com intensidade em momentos fugazes. Esses jovens investem suas
energias naquilo que continua e passa a ser fonte permanente da alegria e felicidade
que ninguém lhes pode subtrair.
Muito enriquecedora a partilha de Dom Luis
Antonio Chito Tagle, Bispo da Diocese de Imus, Cavite, apresentando a situação da
Ásia e seus desafios. Como espaço humano a Ásia caracteriza-se pela imensa variedade
de rostos, culturas e religiões diferentes com histórias milenares. Por outro lado,
as belas cores da Ásia são ofuscadas por conflitos, pobreza e degradação da natureza.
Embora os praticantes do cristianismo sejam uma mínima minoria, na Ásia existe espaço
para o profetismo solidário.
Contudo, o cenáculo não é um lugar de permanência,
mas de saída para alinhar a ação e a vida com o mandato de Cristo: "Ide a todas as
nações..." De fato a essência da missão é sair carregando a riqueza da Palavra, no
coração e na vida, para brindá-la às mulheres e aos homens de qualquer raça, língua
e cultura, sendo ponte entre as diferenças.
Religiões e culturas são como
ilhas extraordinariamente ricas que procuram estabelecer pontes entre si para se interligar,
permitindo que seu enorme cabedal transite de uma para a outra, num movimento intenso
de vai e vem, cujo resultado é a globalização de seus fatores positivos.
Chegou
o momento de sair do cenáculo para, reabastecidos e renovados, retornar aos migrantes
que buscam nos países ricos os recursos para dar dignidade às suas famílias que os
acompanham ou que foram deixadas, temporariamente, nos seus países de origem. Divisa-se
um vasto campo com poucos trabalhadores. A messe exige não só sacerdotes ou operários
religiosos, mas talvez muito mais de batizados comprometidos alegremente com o envio
de Cristo, atraídos pela aventura do amor aos migrantes. (Pe. Olmes Milani)