A Igreja ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união
com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social.
Bento XVI aos bispos brasileiros do Regional Nordeste V
(28/10/2010) Na manhã desta quinta feira Bento XVI recebeu no Vaticano um grupo de
bispos do regional nordeste V da conferencia nacional dos bispos do Brasil, em visita
ad limina apostolorum. O regional nordeste V corresponde aos limites geográficos da
Província Eclesiástica de São Luís do Maranhão. No discurso que lhes dirigiu o
Papa falou de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana
com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação
à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz
social, conforme à sabedoria divina. O Santo Padre recordou antes de mais que
o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos,
que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a recta configuração
da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf.
Deus caritas est, 29). Aos bispos e ao clero – salientou depois o Papa - compete
contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias
para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais
da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir
um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. GS, 76). E a este propósito Bento
XVI salientou: “Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor
absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a
escolha de uma determinada acção intrinsecamente má e incompatível com a dignidade
da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção,
consequência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer
defesa dos direitos humanos políticos, económicos e sociais que não compreendesse
a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles
laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos,
quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal?
Quando os projectos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização
do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando
reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases
(cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida
«não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e
ambiguidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem, 82). Além
disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político
de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma
catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito
útil para isso o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja"» (Discurso inaugural da
V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa
também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos
o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção
do bem comum” . No seu discurso aos bispos brasileiros do regional Nordeste V
Bento XVI acrescentou que só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a
natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim,
Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural,
social, económica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso,
o Papa quis unir a sua voz à dos bispos num vivo apelo a favor da educação religiosa,