Cidade do Vaticano, 16 out (RV) - No último dia 12 de Outubro lançamos diante
do Monumento ao Cristo Redentor e no final da Missa festiva na Quinta da Boa Vista
o projeto de comemorações dos 80 anos da inauguração do monumento ao Cristo Redentor.
Este símbolo que divulgado pelo Brasil e o mundo tem sido um símbolo do Rio de Janeiro
e do Brasil. As comemorações se estenderão durante um ano para comemorarmos a existência
do Santuário do Cristo Redentor, dedicado à Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
O
Imperador Pedro I, no ano de 1824, foi a primeira pessoa que empreendeu uma excursão
até o topo do Morro do Corcovado. D. Pedro sentiu-se atraído pelo local após conversas
com o célebre pintor Debret e com o arquiteto Grandjean de Montigny, responsável por
grandes obras realizadas na capital do Império, como o prédio da alfândega (atual
Casa França-Brasil). Seu filho, D. Pedro II, dando continuação ao interesse manifestado
pelo pai, reformou e ampliou o belvedere, alcunhado pela população de “Chapéu do Sol”.
Foi durante o seu reinado que primeiro se aventou a possibilidade de construir um
monumento religioso no alto do Corcovado, idéia essa concebida pelo padre francês
Pierre Marie Bos e repassada à Princesa Isabel, filha de D. Pedro II. Contudo, nada
foi construído na época e o padre morreu sem que fosse concretizada a sua idéia.
Coube
ao Imperador D. Pedro II, no ano de 1882, outorgar aos engenheiros Pereira Passos
(que, posteriormente, se tornou prefeito da cidade do Rio de Janeiro) e João Teixeira
Soares o direito de exploração de uma linha férrea até o cume do Corcovado, bem como
de um hotel de turismo, que ficou conhecido como “Hotel das Paineiras”, na forma de
uma concessão de uso pelo prazo de 50 (cinqüenta) anos. A primeira metade da obra
(Cosme Velho- Paineiras) foi concluída em outubro de 1884, sendo a ferrovia definitivamente
concluída apenas em 1885. Em 1903, a estrada de ferro foi transferida para Rodrigo
Otávio Langard e, posteriormente, comprada pela Light and Power (companhia que até
hoje fornece energia elétrica à cidade do Rio de Janeiro), que substituiu as antigas
locomotivas a vapor por trens elétricos, transformando a Estrada de Ferro Corcovado
na primeira linha férrea eletrificada da América do Sul.
São muitas, controversas
e disputadas as versões atuais e recentes da história e das pessoas envolvidas na
construção e conservação desse ícone. Segundo uma das tradições da história, que abaixo
resumo, vamos encontrar que somente em 1918 é retomada a idéia de construção de um
monumento religioso no cume do Corcovado, desta vez pelo Círculo Católico do Rio de
Janeiro, como parte das comemorações do centenário da independência do Brasil (que
ocorreriam no ano de 1922). Entretanto, as tratativas para a sua construção somente
se iniciariam em 20 de março de 1921, quando foi realizada no Círculo Católico a primeira
assembléia destinada a estudar o projeto, cuja construção foi aprovada pelo Cardeal
Joaquim Arcoverde, então Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro. O Corcovado foi o lugar
escolhido para a edificação, após descartados o Morro de Santo Antônio (considerado
muito baixo) e o Pão de Açúcar, sendo que, ainda em 1921, é constituída pela Igreja
Católica uma Comissão Executiva para gerenciar a construção do monumento, a qual passou
a ser presidida pelo Cardeal Dom Sebastião Leme, novo Cardeal Arcebispo da cidade.
Foi, então, realizado um concurso público para escolher qual engenheiro/arquiteto
ficaria responsável pela construção do monumento, sendo que, após avaliados os projetos,
foi escolhido o projeto de Heitor da Silva Costa, o qual posteriomente assinou contrato
de empreitada com a sociedade civil Comissão do Monumento ao “Christo” Redentor para
administrar o projeto e construção da obra, documento este devidamente arquivado no
2º Ofício de Notas do Rio de Janeiro, no Livro nº 711, fls. 062 v. Neste primeiro
projeto de Heitor, o Cristo era retratado com os atributos da redenção, quais sejam,
a cruz e o globo terrestre. Contudo, a primeira maquete do monumento, feita pelo escultor
Lorenzo Petrucci, foi rejeitada pelo próprio Heitor e sofreu violenta oposição dos
membros da Escola Nacional de Belas Artes. Tal oposição se explica pelo fato de que
um dos principais professoras daquela instituição era o arquiteto Adolfo Morales de
los Ríos, que fora derrotado por Heitor da Silva Costa no concurso para a construção
do Monumento ao Cristo Redentor e passou a atacar o projeto de Heitor pela imprensa,
escrevendo cartas sob o pseudônimo de Jacintho. É neste momento que o pintor ítalo-brasileiro
Carlos Oswald é convidado pelo Cardeal Leme e por Heitor da Silva Costa para integrar
o projeto.
Assim é que Heitor da Silva Costa e Carlos Oswald passariam os anos
de 1922 e 1923 buscando a melhor concepção para o Cristo. Para tanto, Heitor da Silva
Costa começou a observar a montanha do Corcovado de diversos pontos da cidade, de
modo a verificar como a montanha era avistada desde os bairros mais próximos até aqueles
mais afastados, para que o monumento ao Cristo Redentor fosse construído em uma escala
que o tornasse visível em toda a cidade. Paralelamente, Carlos Oswald elaborava pinturas
com vistas do monumento nos mais diversos ângulos, condições de luminosidade e estações
do ano. Estes estudos preparados por Carlos Oswald tinham por objetivo analisar o
impacto da obra e culminaram com o esboço do Cristo Redentor de braços abertos, abandonando
a concepção inicialmente realista do primeiro desenho de Heitor da Silva Costa e adotando
uma concepção simbolista. Enquanto Heitor e Carlos Oswald trabalhavam no projeto,
a pedra fundamental do monumento foi lançada em 1922, mas as obras no Corcovado somente
começariam, de fato, em 1926. Em 02 de setembro de 1923, a Arquidiocese do Rio de
Janeiro iniciou uma intensa campanha para arrecadação de doações para a construção
da imagem, angariando óbolos de católicos de todo o país.
Em 1924, Heitor da
Silva Costa partiu para a Europa, já com suas convicções pessoais sobre a escala do
monumento, sua posição e sua orientação no cimo da rocha, bem como o material que
seria utilizado na construção (concreto armado). Seu objetivo no continente europeu
era encontrar um escultor que pudesse, a partir de seus esboços e das pinturas de
Carlos Oswald, preparar a maquete final do projeto. Ademais, Heitor buscava solucionar
os problemas impostos pela escolha do concreto armado, pois sua utilização era relativamente
recente e nenhum monumento da escala do Cristo Redentor havia sido construído naquele
material até aquele momento. Assim, na França, Heitor da Silva Costa contratou o engenheiro
francês Albert Caquot para executar os cálculos estruturais e o escultor franco-polonês
Paul Landowski para realizar as maquetes finais do projeto e a parte de escultura
da obra, tendo o trabalho por base os desenhos e projetos de Carlos Oswald e Heitor
da Silva Costa, sendo que a Heitor coube supervisionar e coordenar os trabalhos de
ambos.
Landowski principiou seu trabalho fazendo pequenos modelos em gesso
e imprimindo ao monumento feições art déco, estilo em voga na época. Sempre em conjunto
com Heitor da Silva Costa, com quem assinou a maquete final do projeto, Landowski
passou a trabalhar em um modelo de quatro metros para estudos de ampliação. Estes
estudos de ampliação foram coordenados por Heitor da Silva Costa e executados por
cinco turmas de dois desenhistas e, segundo relato do engenheiro brasileiro, resultaram
bastante complexos, na medida em que a escultura deveria ter estabilidade, ao mesmo
tempo que a estrutura de estabilidade não poderia ser tão rígida que não pudesse atender
a uma conveniência de forma. Assim, enquanto Paul Landowski ocupava-se de esculpir
a cabeça e as mãos do monumento (que seriam depois trasladadas ao Brasil), Albert
Caquot e sua equipe ocupavam-se do estudo definitivo da estrutura, com todos os detalhes
necessários. Flávio Castellotti reporta que o escultor italiano Lelio Landucci, colaborador
próximo de Paul Landowski, também tomou parte no processo de elaboração do projeto
definitivo.
A solução encontrada por Albert Caquot e sua equipe para fazer
com que o monumento suportasse os ventos da Baía de Guanabara foi dotar o Cristo de
um esqueleto formado por quatro pilares unidos por vigas que, a cada 2,60 metros,
sustentam doze lajes retangulares, ligadas por escadas, conforme minuciosamente descrito
por Heitor à Revista “O Cruzeiro”, sendo possível caminhar por dentro do monumento.
A armação dos braços foi constituída com vigas em treliça, concreto armado e aço,
sendo que todo o cálculo estrutural foi feito tendo por base a circular ministerial
francesa de 1906.
Por escolha feita por Heitor da Silva Costa, a estátua do
Cristo Redentor foi revestida de pedra-sabão, material que já se provara bastante
resistente e que já fora empregado nas esculturas dos profetas de Aleijadinho. Assim,
foram recortados pequenos triângulos de pedra-sabão, que foram cuidadosamente colados
sobre papel como um mosaico pelas senhoras do Círculo Católico do Rio de Janeiro.
Nesta restauração do monumento, talvez a maior realizada ate hoje, um dos trabalhos
foi justamente repor esse revestimento feitos do mesmo material.
As obras no
cume do Corcovado iniciaram-se em 1926, sendo finalizadas em 1931. Concluído o monumento,
foi agendada a inauguração para o dia 12/10/1931, dia de Nossa Senhora Aparecida,
a padroeira do Brasil. O topo do Corcovado foi entregue aos cuidados da Arquidiocese
de São Sebastião do Rio de Janeiro, responsável pela idéia, construção e conservação
desse monumento assim como os direitos autorais dos vários projetos dessa construção.
Todo
este histórico eu peço licença aos ilustres advogados Dr. Gabriel F. Leonardos e Dra.
Aline Ferreira de C. da Silva para tomar de conhecimento público de seu magnífico
parecer em que demonstra que o direito de imagem do Cristo Redentor é da nossa Arquidiocese,
sendo ela a única responsável pela sua idealização e de seu uso público (que por sinal
nunca são cobrados). Estes esclarecimentos históricos são fundamentais e devem ser
precisos neste quadra de 12 de outubro em que comemoramos os 79 anos da inauguração
do Monumento ao Cristo Redentor, que se confunde como ícone da imagem brasileira pelo
mundo, como uma de suas sete maravilhas modernas, para assinalarmos o início das comemorações
dos 80 anos de inauguração do monumento, neste ano amplamente reformado e entregue
à nossa Arquidiocese e ao Brasil.
O Papa João Paulo II, o saudoso João de Deus
que encantou os cariocas, no alto do Corcovado, diante da imagem magnífica do Cristo
Redentor de braços abertos para o Rio, nos ensinou: “Sim, no cume destes montes não
há quem não possa contemplar a sua imagem, em atitude de acolher e abraçar, e imaginá-lo
como é, sempre disposto ao encontro com o homem, desejoso de que o homem venha ao
seu encontro. Ora, esta é a única finalidade que a Igreja – e com ela o Papa neste
momento – tem diante dos olhos e no coração: que cada homem possa encontrar Cristo,
a fim de que Cristo possa percorrer com cada homem os caminhos da vida (Redemptor
Hominis, n. 13). Símbolo do amor, apelo à reconciliação e convite à fraternidade,
Cristo Redentor aqui proclama continuamente a força da verdade sobre o homem e sobre
o mundo, da verdade contida no mistério da sua Encarnação e Redenção (cf. Ibid, n.
13 Discurso, 2 de julho de 1980).
João Paulo II, ao se referir do alto do Corcovado,
que o Papa com Cristo, “gostaria de confortar, infundir esperança e animar a todos,
sem esquecer ninguém: crianças, jovens, pais e mães de família, anciãos, doentes,
detentos, desalentados e angustiados. Para todos desejaria ser portador de confiança,
de amor e de paz. É esse o sentido e a intenção da bênção sobre a cidade e sobre todos
os seus habitantes, que darei a seguir, em nome de Cristo Redentor, Redentor do homem
na plenitude da verdade”.
Realmente o Cristo Redentor, de braços abertos ao
Rio de Janeiro, reforça a vocação desta cidade e de nossa Igreja: sempre de braços
abertos acolher a todos, crianças, jovens, famílias, idosos, e dizer que somente teremos
paz e tranquilidade nesta cidade maravilhosa quando o abraço de Jesus Cristo, o Cristo
Redentor, encantar os corações de nosso querido povo carioca, para seguirmos a Jesus
Cristo que é caminho, verdade e vida.
Que o Cristo Redentor continue nos convidando
sempre à solidariedade, à fraternidade e à reconciliação. Este é o espírito, dentro
do espírito de discípulos-missionários que a Igreja nos convoca, a celebrar os 80
anos do Cristo que abre seus braços ao Brasil e ao mundo, relembrando a nossa identidade
cristã, que nos ilumina no dia a dia a buscar a redenção de Cristo na vida cotidiana.
†
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ