2010-10-16 14:07:16

80 ANOS DO MONUMENTO AO CRISTO REDENTOR


Cidade do Vaticano, 16 out (RV) - No último dia 12 de Outubro lançamos diante do Monumento ao Cristo Redentor e no final da Missa festiva na Quinta da Boa Vista o projeto de comemorações dos 80 anos da inauguração do monumento ao Cristo Redentor. Este símbolo que divulgado pelo Brasil e o mundo tem sido um símbolo do Rio de Janeiro e do Brasil. As comemorações se estenderão durante um ano para comemorarmos a existência do Santuário do Cristo Redentor, dedicado à Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

O Imperador Pedro I, no ano de 1824, foi a primeira pessoa que empreendeu uma excursão até o topo do Morro do Corcovado. D. Pedro sentiu-se atraído pelo local após conversas com o célebre pintor Debret e com o arquiteto Grandjean de Montigny, responsável por grandes obras realizadas na capital do Império, como o prédio da alfândega (atual Casa França-Brasil). Seu filho, D. Pedro II, dando continuação ao interesse manifestado pelo pai, reformou e ampliou o belvedere, alcunhado pela população de “Chapéu do Sol”. Foi durante o seu reinado que primeiro se aventou a possibilidade de construir um monumento religioso no alto do Corcovado, idéia essa concebida pelo padre francês Pierre Marie Bos e repassada à Princesa Isabel, filha de D. Pedro II. Contudo, nada foi construído na época e o padre morreu sem que fosse concretizada a sua idéia.

Coube ao Imperador D. Pedro II, no ano de 1882, outorgar aos engenheiros Pereira Passos (que, posteriormente, se tornou prefeito da cidade do Rio de Janeiro) e João Teixeira Soares o direito de exploração de uma linha férrea até o cume do Corcovado, bem como de um hotel de turismo, que ficou conhecido como “Hotel das Paineiras”, na forma de uma concessão de uso pelo prazo de 50 (cinqüenta) anos. A primeira metade da obra (Cosme Velho- Paineiras) foi concluída em outubro de 1884, sendo a ferrovia definitivamente concluída apenas em 1885. Em 1903, a estrada de ferro foi transferida para Rodrigo Otávio Langard e, posteriormente, comprada pela Light and Power (companhia que até hoje fornece energia elétrica à cidade do Rio de Janeiro), que substituiu as antigas locomotivas a vapor por trens elétricos, transformando a Estrada de Ferro Corcovado na primeira linha férrea eletrificada da América do Sul.

São muitas, controversas e disputadas as versões atuais e recentes da história e das pessoas envolvidas na construção e conservação desse ícone. Segundo uma das tradições da história, que abaixo resumo, vamos encontrar que somente em 1918 é retomada a idéia de construção de um monumento religioso no cume do Corcovado, desta vez pelo Círculo Católico do Rio de Janeiro, como parte das comemorações do centenário da independência do Brasil (que ocorreriam no ano de 1922). Entretanto, as tratativas para a sua construção somente se iniciariam em 20 de março de 1921, quando foi realizada no Círculo Católico a primeira assembléia destinada a estudar o projeto, cuja construção foi aprovada pelo Cardeal Joaquim Arcoverde, então Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro. O Corcovado foi o lugar escolhido para a edificação, após descartados o Morro de Santo Antônio (considerado muito baixo) e o Pão de Açúcar, sendo que, ainda em 1921, é constituída pela Igreja Católica uma Comissão Executiva para gerenciar a construção do monumento, a qual passou a ser presidida pelo Cardeal Dom Sebastião Leme, novo Cardeal Arcebispo da cidade.

Foi, então, realizado um concurso público para escolher qual engenheiro/arquiteto ficaria responsável pela construção do monumento, sendo que, após avaliados os projetos, foi escolhido o projeto de Heitor da Silva Costa, o qual posteriomente assinou contrato de empreitada com a sociedade civil Comissão do Monumento ao “Christo” Redentor para administrar o projeto e construção da obra, documento este devidamente arquivado no 2º Ofício de Notas do Rio de Janeiro, no Livro nº 711, fls. 062 v. Neste primeiro projeto de Heitor, o Cristo era retratado com os atributos da redenção, quais sejam, a cruz e o globo terrestre. Contudo, a primeira maquete do monumento, feita pelo escultor Lorenzo Petrucci, foi rejeitada pelo próprio Heitor e sofreu violenta oposição dos membros da Escola Nacional de Belas Artes. Tal oposição se explica pelo fato de que um dos principais professoras daquela instituição era o arquiteto Adolfo Morales de los Ríos, que fora derrotado por Heitor da Silva Costa no concurso para a construção do Monumento ao Cristo Redentor e passou a atacar o projeto de Heitor pela imprensa, escrevendo cartas sob o pseudônimo de Jacintho. É neste momento que o pintor ítalo-brasileiro Carlos Oswald é convidado pelo Cardeal Leme e por Heitor da Silva Costa para integrar o projeto.

Assim é que Heitor da Silva Costa e Carlos Oswald passariam os anos de 1922 e 1923 buscando a melhor concepção para o Cristo. Para tanto, Heitor da Silva Costa começou a observar a montanha do Corcovado de diversos pontos da cidade, de modo a verificar como a montanha era avistada desde os bairros mais próximos até aqueles mais afastados, para que o monumento ao Cristo Redentor fosse construído em uma escala que o tornasse visível em toda a cidade. Paralelamente, Carlos Oswald elaborava pinturas com vistas do monumento nos mais diversos ângulos, condições de luminosidade e estações do ano. Estes estudos preparados por Carlos Oswald tinham por objetivo analisar o impacto da obra e culminaram com o esboço do Cristo Redentor de braços abertos, abandonando a concepção inicialmente realista do primeiro desenho de Heitor da Silva Costa e adotando uma concepção simbolista. Enquanto Heitor e Carlos Oswald trabalhavam no projeto, a pedra fundamental do monumento foi lançada em 1922, mas as obras no Corcovado somente começariam, de fato, em 1926. Em 02 de setembro de 1923, a Arquidiocese do Rio de Janeiro iniciou uma intensa campanha para arrecadação de doações para a construção da imagem, angariando óbolos de católicos de todo o país.

Em 1924, Heitor da Silva Costa partiu para a Europa, já com suas convicções pessoais sobre a escala do monumento, sua posição e sua orientação no cimo da rocha, bem como o material que seria utilizado na construção (concreto armado). Seu objetivo no continente europeu era encontrar um escultor que pudesse, a partir de seus esboços e das pinturas de Carlos Oswald, preparar a maquete final do projeto. Ademais, Heitor buscava solucionar os problemas impostos pela escolha do concreto armado, pois sua utilização era relativamente recente e nenhum monumento da escala do Cristo Redentor havia sido construído naquele material até aquele momento. Assim, na França, Heitor da Silva Costa contratou o engenheiro francês Albert Caquot para executar os cálculos estruturais e o escultor franco-polonês Paul Landowski para realizar as maquetes finais do projeto e a parte de escultura da obra, tendo o trabalho por base os desenhos e projetos de Carlos Oswald e Heitor da Silva Costa, sendo que a Heitor coube supervisionar e coordenar os trabalhos de ambos.

Landowski principiou seu trabalho fazendo pequenos modelos em gesso e imprimindo ao monumento feições art déco, estilo em voga na época. Sempre em conjunto com Heitor da Silva Costa, com quem assinou a maquete final do projeto, Landowski passou a trabalhar em um modelo de quatro metros para estudos de ampliação. Estes estudos de ampliação foram coordenados por Heitor da Silva Costa e executados por cinco turmas de dois desenhistas e, segundo relato do engenheiro brasileiro, resultaram bastante complexos, na medida em que a escultura deveria ter estabilidade, ao mesmo tempo que a estrutura de estabilidade não poderia ser tão rígida que não pudesse atender a uma conveniência de forma. Assim, enquanto Paul Landowski ocupava-se de esculpir a cabeça e as mãos do monumento (que seriam depois trasladadas ao Brasil), Albert Caquot e sua equipe ocupavam-se do estudo definitivo da estrutura, com todos os detalhes necessários. Flávio Castellotti reporta que o escultor italiano Lelio Landucci, colaborador próximo de Paul Landowski, também tomou parte no processo de elaboração do projeto definitivo.

A solução encontrada por Albert Caquot e sua equipe para fazer com que o monumento suportasse os ventos da Baía de Guanabara foi dotar o Cristo de um esqueleto formado por quatro pilares unidos por vigas que, a cada 2,60 metros, sustentam doze lajes retangulares, ligadas por escadas, conforme minuciosamente descrito por Heitor à Revista “O Cruzeiro”, sendo possível caminhar por dentro do monumento. A armação dos braços foi constituída com vigas em treliça, concreto armado e aço, sendo que todo o cálculo estrutural foi feito tendo por base a circular ministerial francesa de 1906.

Por escolha feita por Heitor da Silva Costa, a estátua do Cristo Redentor foi revestida de pedra-sabão, material que já se provara bastante resistente e que já fora empregado nas esculturas dos profetas de Aleijadinho. Assim, foram recortados pequenos triângulos de pedra-sabão, que foram cuidadosamente colados sobre papel como um mosaico pelas senhoras do Círculo Católico do Rio de Janeiro. Nesta restauração do monumento, talvez a maior realizada ate hoje, um dos trabalhos foi justamente repor esse revestimento feitos do mesmo material.

As obras no cume do Corcovado iniciaram-se em 1926, sendo finalizadas em 1931. Concluído o monumento, foi agendada a inauguração para o dia 12/10/1931, dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. O topo do Corcovado foi entregue aos cuidados da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, responsável pela idéia, construção e conservação desse monumento assim como os direitos autorais dos vários projetos dessa construção.

Todo este histórico eu peço licença aos ilustres advogados Dr. Gabriel F. Leonardos e Dra. Aline Ferreira de C. da Silva para tomar de conhecimento público de seu magnífico parecer em que demonstra que o direito de imagem do Cristo Redentor é da nossa Arquidiocese, sendo ela a única responsável pela sua idealização e de seu uso público (que por sinal nunca são cobrados). Estes esclarecimentos históricos são fundamentais e devem ser precisos neste quadra de 12 de outubro em que comemoramos os 79 anos da inauguração do Monumento ao Cristo Redentor, que se confunde como ícone da imagem brasileira pelo mundo, como uma de suas sete maravilhas modernas, para assinalarmos o início das comemorações dos 80 anos de inauguração do monumento, neste ano amplamente reformado e entregue à nossa Arquidiocese e ao Brasil.

O Papa João Paulo II, o saudoso João de Deus que encantou os cariocas, no alto do Corcovado, diante da imagem magnífica do Cristo Redentor de braços abertos para o Rio, nos ensinou: “Sim, no cume destes montes não há quem não possa contemplar a sua imagem, em atitude de acolher e abraçar, e imaginá-lo como é, sempre disposto ao encontro com o homem, desejoso de que o homem venha ao seu encontro. Ora, esta é a única finalidade que a Igreja – e com ela o Papa neste momento – tem diante dos olhos e no coração: que cada homem possa encontrar Cristo, a fim de que Cristo possa percorrer com cada homem os caminhos da vida (Redemptor Hominis, n. 13). Símbolo do amor, apelo à reconciliação e convite à fraternidade, Cristo Redentor aqui proclama continuamente a força da verdade sobre o homem e sobre o mundo, da verdade contida no mistério da sua Encarnação e Redenção (cf. Ibid, n. 13 Discurso, 2 de julho de 1980).

João Paulo II, ao se referir do alto do Corcovado, que o Papa com Cristo, “gostaria de confortar, infundir esperança e animar a todos, sem esquecer ninguém: crianças, jovens, pais e mães de família, anciãos, doentes, detentos, desalentados e angustiados. Para todos desejaria ser portador de confiança, de amor e de paz. É esse o sentido e a intenção da bênção sobre a cidade e sobre todos os seus habitantes, que darei a seguir, em nome de Cristo Redentor, Redentor do homem na plenitude da verdade”.

Realmente o Cristo Redentor, de braços abertos ao Rio de Janeiro, reforça a vocação desta cidade e de nossa Igreja: sempre de braços abertos acolher a todos, crianças, jovens, famílias, idosos, e dizer que somente teremos paz e tranquilidade nesta cidade maravilhosa quando o abraço de Jesus Cristo, o Cristo Redentor, encantar os corações de nosso querido povo carioca, para seguirmos a Jesus Cristo que é caminho, verdade e vida.

Que o Cristo Redentor continue nos convidando sempre à solidariedade, à fraternidade e à reconciliação. Este é o espírito, dentro do espírito de discípulos-missionários que a Igreja nos convoca, a celebrar os 80 anos do Cristo que abre seus braços ao Brasil e ao mundo, relembrando a nossa identidade cristã, que nos ilumina no dia a dia a buscar a redenção de Cristo na vida cotidiana.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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