No Médio Oriente os cristãos são “não-cidadãos“. Relator geral do Sínodo denuncia
a indiferença da “política mundial”.
(12/10/2010) “Em geral, os muçulmanos não distinguem entre religião e política”,
sendo esta a principal causa de atritos com os cristãos, afirmou o relator do Sínodo
dos Bispos para o Médio Oriente. Intervindo perante a assembleia, que decorre no Vaticano
até 24 de Outubro, o Patriarca de Alexandria dos Coptas (Egipto), Antonios Naguib
afirmou que os cristãos “se sentem numa situação de não-cidadãos, ainda que se encontrem
na sua pátria, nos seus países muito antes do Islão”. “O Ocidente é identificado
com o cristianismo e as decisões dos seus Estados são atribuídas à Igreja”, quando
na verdade “os seus governos são laicos e cada vez mais se opõem aos princípios da
fé cristã”, disse o prelado, que realçou a importância de “explicar esta realidade
e o sentido de uma laicidade positiva que distingue o político do religioso”. Na
presença do Papa Bento XVI, D. Antonios Naguib apelou a “um reconhecimento que passe
da tolerância à justiça e à igualdade, baseado na cidadania, liberdade religiosa e
direitos humanos”. O Patriarca de Alexandria recordou que a posição dos cristãos
árabes “é muito delicada”, tendo-se referido à sua situação nos territórios palestinos,
onde “a vida é muito difícil, às vezes insustentável”. D. Antonios Naguib também
denunciou a indiferença da “política mundial” ao não ter “em suficiente consideração
a situação trágica dos cristãos no Iraque, que são as “vítimas principais da guerra
e das suas consequências”. A liberdade de culto está constitucionalmente garantida
na maior parte dos países do Médio Oriente, mas o prelado denunciou a existência de
leis e práticas limitadoras da liberdade de consciência. Sublinhando que a “Igreja
Católica condena com firmeza todo o proselitismo”, o patriarca lamentou a existência
de obstáculos, em alguns países, a quem deseja aderir ao Evangelho “por temor de represálias”. O
relator do Sínodo dos Bispos reconheceu que o conflito israelo-palestiniano tem consequências
negativas na relação entre cristãos e judeus, mas salientou a recusa do anti-semitismo:
“Distinguimos a realidade religiosa da realidade política”, disse. Para o Patriarca
de Alexandria, a presença dos cristãos no Médio Oriente deve distinguir-se pelo “serviço
aos demais” e não pela “pertença confessional”: “A nossa tarefa primordial é viver
a fé, deixar que as nossas acções falem por si, ver a verdade e proclamá-la na caridade,
com coragem”. Os “numerosos” estabelecimentos de ensino, os centros médicos e as
instituições de apoio social da Igreja “constituem um testemunho eloquente do amor
ao próximo, sem distinção nem discriminação alguma”, assinalou o prelado.