Cristãos numa encruzilhada, no Médio Oriente: Conflitos, desconfiança e crescimento
do fundamentalismo ameaçam esta pequena comunidade
(11/10/2010) O eclodir da guerra no Iraque e, sobretudo, o arrastar do conflito entre
Israel e a Palestina estão na base do êxodo das comunidades cristãs no Médio Oriente,
colocando em causa o futuro do Cristianismo na região. Esta questão estará no
centro do primeiro Sínodo de Bispos dedicado ao Médio Oriente que decorre no Vaticano
até ao próximo dia 24 de Outubro. O documento de trabalho entregue pelo próprio
Papa aos líderes das Igrejas desta zona geográfica afirma que “a emigração é particularmente
prevalente por causa do conflito israelo-palestiniano e a resultante instabilidade
em toda a região”. A persistência de conflitos armados, alerta o Vaticano, tem
sido explorada, no Médio Oriente, “pelos elementos mais radicais no terrorismo global”. O
“instrumento de trabalho” do Sínodo sublinha que os conflitos regionais tornam ainda
mais frágil a situação dos cristãos, que se encontram também entre as vítimas principais
da guerra no Iraque. “A presente tensão política na região tem uma influência directa
nas vidas dos cristãos, tanto como cidadãos como na prática da religião, colocando-se
numa situação particularmente delicada e precária”, pode ler-se. No Líbano, os
cristãos estão divididos no plano político e confessional. No Egipto, o crescimento
do Islão político e o desempenho, em parte forçado, dos cristãos em relação à sociedade
civil expõem as suas vidas a sérias dificuldades. Na Turquia, o conceito de laicidade
cria ainda problemas à plena liberdade religiosa do país. Noutros países, as ditaduras
levam a população, inclusivamente os cristãos, a tudo suportar em silêncio para salvar
o essencial. No Oriente, salienta o documento de trabalho, liberdade de religião
significa geralmente “liberdade de culto”, ficando excluída daquele conceito a “liberdade
de consciência”, isto é, a possibilidade de acreditar ou não acreditar em Deus, de
praticar uma religião isoladamente ou em público ou de mudar de convicções religiosas. Tanto
o instrumento de trabalho, de Junho de 2010, como o documento que traçava as linhas
gerais do Sínodo, em Dezembro de 2009, colocavam uma mesma questão final, sobre o
futuro dos cristãos no Médio Oriente. Esta “presença bastante reduzida”, referia-se,
“é uma consequência da história” e os dados confirmam essa quebra estatística, numa
região em que os católicos representam apenas 1,6% da população. Na Palestina,
as comunidades cristãs têm vindo a diminuir nas últimas décadas e nas cidades de Belém
e Nazaré, outrora maioritariamente cristãs, essa presença ronda agora os 10-15 % da
população. Na Turquia, a presença cristã passou dos 25% para 0,13% da população,
apenas num século. Egipto, Irão, Jordânia, Líbano e Síria são outros locais onde a
presença cristã está em declínio, apesar de uma relevância histórica muito significativa. O
documento de trabalho do Sínodo afirma que "demasiadas vezes, as pessoas dos países
do Médio Oriente identificam o Cristianismo com o Ocidente", gerando conflitos e desconfiança
recíproca.