Rio de Janeiro, 10 out (RV) - Em outubro comemoramos o mês das missões e do
rosário. Celebramos várias festas Marianas e acontecimentos históricos marcantes como
o início da evangelização nas Américas, o novo mundo que então se descortinava. Nós
iniciamos este mês com a Semana Nacional da Vida e o Dia do Nascituro. A semana e
o dia da criança nos levam a refletir sobre a nossa responsabilidade atual para que
a dignidade humana se inicie logo nos primeiros momentos da vida. Porém, em geral,
a marca maior deste mês são as Missões. A Igreja nasce na missão e da missão. Neste
ano o tema está inspirado no da Campanha da Fraternidade e é “Missão e Partilha” cuja
novena aprofunda o sentido da Campanha Missionária, inclusive da Coleta pelas Missões,
o trabalho missionário nas grandes cidades, nas periferias, na partilha com os povos
famintos, na religiosidade popular, na questão dos migrantes e refugiados, com relação
ao meio ambiente e partilha de pessoas. O papa Bento XVI, como faz todos os anjos,
escreveu a sua mensagem para o Dia Missionário Mundial com tema “A construção da comunhão
eclesial é a chave da missão”. Temos assim muitas reflexões a ser feitas durante este
tempo. O documento de Aparecida ao lançar a Missão Continental, lembra que isso
significa viver em estado permanente de missão – grande desafio para nossa mentalidade
e nossos costumes. Por isso, não é suficiente nos lembrarmos de missão apenas
daqueles que partiram para terras distantes, ou que trabalham nas fronteiras da Igreja
na sua obra evangelizadora que, certamente, é universal, pois temos muito serviço
nas portas de nossas casas. Porém, ressaltamos que as fronteiras da evangelização
não é apenas uma relação geográfica, mas os limites da cultura, da religião que nascem
em nossas sociedades e em nossas cidades, na nossa família, no trabalho e na escola.
A missão, neste sentido, está bem ao nosso lado, à nossa porta e janela. Temos necessidades
enormes de trabalhos bem concretos em várias pastorais em nossas comunidades. É o
exercício do apostolado cristão entusiasmado e coerente. A missão hoje é abrir
portas para aquele que está perto de nós, e que precisa da nossa palavra de fé. A
nossa omissão neste caso pode ser fatal no testemunho de vida. Hoje urge, mais do
que em todos os tempos, irmos ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades
e povos. Devemos encontrar as pessoas lá onde elas estão, e não onde gostaríamos de
encontrá-las. Devemos ir ao encontro do real e não do imaginário. E para tanto o missionário
é antes de tudo um destemido, um audacioso. A formação de pessoas no sentido
da consciência de sua vocação missionária é uma necessidade urgente. Aliás, esse assunto
esteve muito presente nas reuniões das foranias que realizei nesta semana. Para que
tenhamos bons missionários, precisamos informar e formar os cristãos das necessidades
da Igreja e de sua efetiva participação na obra evangelizadora. Também essa foi uma
das preocupações do Papa Bento XVI em nossa conversa pessoal durante a visita “ad
limina” – a formação do cristão. É necessários estarmos sensibilizados para o
apoio mais efetivo às missões, seja no cunho espiritual, seja também no material,
como é o caso da coleta mundial pelas missões católicas que ocorrerá no quarto final
de semana deste mês. A nossa Arquidiocese tem trabalhos missionários fora dos
limites territoriais em duas Dioceses Irmãs, tanto com o envio missionário em alguns
meses durante o ano, como também com presença contínua de missionários partilhando
da vida de comunidades e trabalhando pela evangelização. É necessário promovermos,
especialmente, entre os jovens uma sensibilidade maior para a missão, levando-os a
se oferecerem para esta empreitada e também fomentarmos uma solidariedade econômica,
uma mais ampla generosidade dos cristãos para as necessidades essenciais da Igreja
nos territórios de missão. A missão a que somos impulsionados para nós deve ser
um dom, pois a tarefa de anunciar o evangelho é um compromisso generoso que deve ser
assumido por cada batizado anunciando com coragem o evangelho, com todas as suas conseqüências.
Devemos afastar o medo e a indiferença, que no final paralisam o coração. O
mundo à nossa volta precisa de discípulos-missionários, que “significa, antes de tudo,
anunciar Jesus, fazê-lo conhecido e amado, testemunhando na vida cotidiana essa vida
coerente, humilde e alegre de viver no seu amor. Significa anunciar com fidelidade
e integridade cada um dos seus ensinamentos, tal como guardados e ensinados pela Igreja.
Ser missionário é enfrentar os problemas pela luz de Cristo, luz das nações e dos
povos.” Portanto, a evangelização é mais do que ensinar é principalmente testemunhar
com a própria vida os valores do Reino e a alegria do seguimento de Jesus Cristo.
A missão é instrumento de mudança, de transformação, deve permear toda a cultura. Mas
não nos esqueçamos da oração, pois nada pode substituir a ação do Espírito Santo.
Nada tem efeito sem esta ação, e nada pode convencer as mentes mais duras sem sua
eficácia transformadora pelo interior da pessoa. Sem sua colaboração todos os esquemas
se tornam apenas ações humanas, o que é pouco para converter pessoas. A Igreja
precisa hoje de homens e mulheres que se deixem conduzir pelo Espírito Santo, que
sejam pessoas de oração, ungidas pelo poder de Deus. Peçamos à Maria, a Estrela
da Evangelização, a nossa boa e terna mãe do Rosário, de Aparecida, de Nazaré, da
Penha, que nos ajude com a sua intercessão a vivermos com entusiasmo a missão. Que
a força do sim de Maria, a sua entrega total e destemida possa ser contagiante para
todos nós neste mês e em toda a nossa caminhada eclesial. † Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.