MISSIONÁRIO XAVERIANO: POVO DE SERRA LEOA DESEJA PAZ
Freetown, 06 out (RV) - "Serra Leoa fez, sem dúvidas, progressos nestes últimos
anos, que devem ser acompanhados pela comunidade internacional": foi o que disse o
missionário xaveriano Pe. Gerardo Caglioni, comentando a decisão do Conselho de Segurança
da Onu, de cancelar o embargo sobre as armas nesse país africano.
Segundo a
Onu, esse é um sinal de confiança no pleno controle do território por parte do Governo
de Freetown, e na conclusão das operações de desarmamento e desmobilização das milícias
que se enfrentaram numa sangrenta guerra civil concluída em 2002.
"A população
quer paz, não há dúvidas a esse respeito" – disse Pe. Caglioni. "Ao mesmo tempo, porém,
devemos estar atentos para alguns indicadores sociais e econômicos que podem influenciar
negativamente o processo de pacificação do país" – frisou.
"O elevado índice
de desemprego entre os jovens, por exemplo, é uma verdadeira bomba relógio" – afirmou
o missionário, confirmando o que foi dito pelo arcebispo de Freetown, Dom Edward Tamba
Charles. "A crise econômica global está tendo um forte impacto em Serra Leoa, porque
diminuíram as remessas dos imigrantes que são, muitas vezes, a única fonte de sustento
para as famílias" – disse Pe. Caglioni.
Além disso, "se os recursos naturais
do país não forem bem administrados, podem ser uma fonte de desestabilização". "O
que estava em jogo durante a guerra que durou de 1991 a 2002, era o controle das minas
de diamante do país. Além dos diamantes, agora estão adquirindo valor as reservas
de ferro, petróleo, rutênio e bauxita. É preciso estar atentos para que essas riquezas
não atraiam os interesses de forças que atuam com poucos escrúpulos e colocam em risco
a pacificação nacional" – sublinhou o missionário.
Pe. Caglioni explicou que
Serra Leoa tornou-se uma área de distribuição da produção de cocaína proveniente da
América Latina e destinada à Europa, com as relativas conseqüências para a segurança,
além do aumento da corrupção.
O missionário falou sobre o papel das confissões
religiosas em Serra Leoa: "As várias confissões religiosas, desde as Igrejas cristãs
à comunidade muçulmana, desempenharam um papel importante no convencer as pessoas
a restabelecerem a paz; e depois, nas fases iniciais da pacificação. Agora, porém,
parece que perderam seu papel de agente social de integração, em benefício das estruturas
governamentais. Creio que a política sozinha não seja suficiente para prosseguir a
obra de pacificação. É necessário, portanto, reavaliar a ação das confissões religiosas."
(MJ/AF)