Rio de Janeiro, 29 set (RV) - Estamos para findar o mês da Bíblia, setembro.
E no final deste mês comemoramos o grande patrono das traduções bíblicas, que é São
Jerônimo.
Jerônimo quer dizer nome sagrado. Nasceu na Dalmácia, antiga Iugoslávia,
em 342. Seus pais eram ricos e puderam mandá-lo para Roma realizar seus estudos. Ele
morreu a 30 de setembro de 420.
Em Roma estudou latim sob a direção de um famoso
professor, Donato, que era pagão, mas extremamente versado na língua do Lácio. Com
Donato, Jerônimo também aprendeu o grego e outras línguas afins. Passava horas de
estudo e de leituras com os livros dos grandes autores latinos, como Cícero, Virgílio,
Horácio e Tácito, e gregos como Homero e Platão. Porém, devido à origem de seu mestre,
não se dedicava aos livros religiosos ou de cunho espiritual.
Jerônimo estudou
também gramática, retórica e filosofia. Viveu dois anos num deserto como eremita,
em 375. De 382-385 atuou como secretário do Papa Dâmaso, e em 386 mudou-se para Belém,
onde viveu num mosteiro. Chegou a traduzir 39 sermões de Orígenes, e fez apologias
contra Pelágio e contra a sua heresia pelagiana.
Ele logo percebeu, após seu
encontro com o mundo cristão, que as traduções da bíblia, em seu tempo, eram imperfeitas
na linguagem e cheia de imprecisões.
Iniciou, então, o seu trabalho de tradução
dos textos hebraico e grego para o latim, que foi magnífico à época. Tradução que
foi realizada com muita elegância, e o fez por completo, traduzindo todo o texto das
Sagradas Escritura, do Gênesis ao Apocalipse.
A sua preocupação não era um
texto erudito, para professores e sábios, mas queria atingir o povo simples. Um texto
enxuto para os simples. Daí o nome de sua tradução VULGATA. (Ou seja, vulgar, do povo,
para pessoas comuns).
A tradução foi de tamanha magnitude que o seu texto
foi usado em toda a Igreja Católica durante 15 séculos ininterruptos. Somente nos
últimos anos, com a valorização da leitura e dos estudos bíblicos, novas traduções
surgiram.
Num trecho famoso – comentário sobre Isaías e usado no oficio das
leituras na memória de São Jerônimo – ele afirma, com a firmeza de suas convicções,
que “ignoratio Scripturarum, ignoratio Christi est”, ou seja, “a ignorância da Escritura
é a ignorância de Cristo”. Sem dúvida, uma forte exortação de um Padre e Doutor da
Igreja para os cristãos não só do seu tempo, mas, sobretudo, nos dias de hoje.
O
estudo sério da Bíblia é uma necessidade e não um opcional para o católico que quer
viver com seriedade e convicção a sua fé.
São Jerônimo encontrou o caminho
de sua vida na Bíblia. Graças a ele, muitos hoje podem voltar também o seu olhar para
a Palavra de Deus, onde podem encontrar a plena felicidade, impossível de alcançar
na simples realidade humana. Mas que felicidade? Jesus Cristo, o Ressuscitado, cuja
Palavra é Ele mesmo.
Só amamos o Cristo se O conhecemos, e O amamos como Verdade,
Caminho e Vida! Verdade que encontramos nos seus ensinamentos, algo que o escritor
sagrado nos deixou, mormente nos Evangelhos.
Caminho que Ele nos pede para
seguir. Que nos encoraja a trilhar, e que nos dá a Paz. Caminho traçado pelo Cristo:
paixão e ressurreição, que ilumina nossas vidas, nossas ações e nossos relacionamentos.
Caminho que nos traça, enfim, a nossa salvação.
E vida, que nos é apresentada
na fonte da felicidade, que nos é apresentada no texto bíblico: a ressurreição de
nossas vidas em Deus.
Este encontro com o Cristo na Bíblia vai nos facilitar
esse encontro com Ele. Assim, Jesus é para nós, hoje, a Verdade na Bíblia, a Vida
na Eucaristia e o Caminho que seguimos com os irmãos, tal como Ele nos ensinou. Lembremos
do Seu encontro com os viajantes em Emaús.
Portanto, o estudo bíblico é de
fundamental e crucial importância para a nossa vida de fé. Algo que deve ter sido
muito bem percebido por São Jerônimo. Porém, como ele, além do conhecimento e da erudição,
o que nos faz santos é viver a Palavra de Deus, colocando-a em prática na vida de
cada dia. Os Santos fazem a diferença no mundo.
Não há amor verdadeiro e
convicto se por nossa inteligência for ignorado. O amor cresce quando o conhecimento
cresce. Isso é dado para a experiência humana, mas também se aplica à experiência
espiritual.
Em resumo: não há conhecimento sem o amor de Cristo no estudo
da Bíblia com Ele. Esta é a mensagem profunda de Jerônimo.
O legado espiritual
que São Jerônimo nos deixa é, por conseguinte, profundo e desafiador. Ele encontrou
na escritura o seu fio condutor para Deus, a fonte e a raiz de sua caminhada de santidade.
O seu extremo zelo na tradução, o seu hercúleo trabalho desenvolvido ao longo
de anos, a sua dedicação no serviço da Palavra, concretizam-se na sua vida de fé,
e demonstrou o seu imenso amor a Cristo e à Sua Igreja.
Assim, também, Irmãos
e Irmãs, não deveria ser a nossa caminhada cristã? Esta perspectiva de Jerônimo poderia
servir para nosso itinerário de fé.
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ