Cidade do Vaticano, 29 set (RV) - Hoje escrevo o meu artigo à sombra da Basílica
de São Pedro, no Vaticano, onde, nós, Bispos do Regional Leste 1 da CNBB, que congrega
as Províncias Eclesiásticas de São Sebastião do Rio de Janeiro e de Niterói, além
do Arcebispo de Juiz de Fora, do Arcebispo Maronita do Brasil e do Bispo de Tubarão.
Estamos em plena Visita Ad Limina Apostolorum na cidade eterna, Roma.
Nestes
dias intensos já visitamos vários dicastérios – que são espécies de ministérios que
ajudam o Romano Pontífice no Governo da Igreja Católica no mundo. Na manhã da sexta-feira,
dia 23, em Castelgandolfo, tive a alegria de manter um contacto pessoal com o Papa
Bento XVI, apresentando o relatório das atividades pastorais da bonita e querida Igreja
Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, falando de nossas esperanças, de
nossas alegrias, mas também dos grandes desafios que se apresentam na evangelização
de uma megalópe como a nossa. O Santo Padre se interessou por vários aspectos de nossa
cidade, principalmente pela juventude e formação dos cristãos, além, é claro, pelo
trabalho social que desenvolvemos.
No sábado, o Papa Bento XVI recebeu todos
os bispos que estão em visita “ad limina” na mesma residência de verão de Castelgandolfo,
quando, em nosso nome, dirigiu ao Santo Padre a sua saudação o Presidente do nosso
regional, que assim se expressou: “Em termos eclesiais, dentre as características
mais notórias do Regional Leste I, há de destacar-se a assinalada unidade entre as
Províncias e entre as Igrejas Particulares. Esta unidade, solidificada pelos encontros
periódicos entre os Bispos, tem um vigoroso denominador comum: a fidelidade ao Magistério
Pontifício, especificamente nas matérias mais delicadas, como a doutrina sobre a procriação,
a defesa da vida em todos os seus aspectos, as normas sobre os casamentos de segunda
união, a não participação na política partidarista, as últimas indicações pontifícias
sobre o comportamento moral dos clérigos. Saiba, Santo Padre, que estamos integral
e filialmente unidos a Sua Santidade. Nossas ações, nosso trabalho pastoral e nossas
orações estão intimamente ligados e direcionados ao sucessor de Pedro.
O nosso
povo do Estado do Rio de Janeiro é um povo fervorosamente religioso. Nos últimos cinco
anos tem aumentado sensivelmente o número dos que participam das celebrações eucarísticas,
e é notável o incremento das vocações sacerdotais. Há seminários do nosso Regional
que estão lotados, e alguns deles com cerca de cem seminaristas. Agradecemos a relevante
participação de Bento XVI na V Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe
e os imensos frutos dela decorrentes, como o desenvolvimento da Missão Continental,
que em muitas das nossas dioceses está em plena expansão através das missões populares.
As milhares de visitas domiciliares, já realizadas, têm propiciado o incremento substancial
do número de fiéis que frequentam os meios de formação das suas paróquias.”
Em
seguida, ao se dirigir a nós, o Papa Bento XVI abençoou a Igreja e o povo do Rio de
Janeiro: “Sobre todos e cada um desça, radiosa, a benevolência do Senhor: Ele «faça
brilhar sobre ti a Sua face, e Se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o Seu rosto
e te dê a paz» (Nm 6, 25-26).”
Falando sobre os jovens, esperança viva de nossas
Dioceses, o Papa Bento XVI manifestou a sua alegria com a juventude, aurora da Igreja:
“Rica de um longo passado sempre vivo, e caminhando para a perfeição humana no tempo
e para os destinos últimos da história e da vida, ela é a verdadeira juventude do
mundo. (…) Olhai-a e encontrareis nela o rosto de Cristo, o verdadeiro herói, humilde
e sábio, o profeta da verdade e do amor, o companheiro e o amigo dos jovens”. (Mensagem
do Concílio à humanidade: Aos jovens).
O Papa ensinou-nos uma verdade que
precisa ser sempre reafirmada e proclamada: “Deixando transparecer o rosto de Cristo,
a Igreja é a juventude do mundo. Mas será muito difícil convencer alguém disso mesmo
se não se revê nela a geração jovem de hoje. Por isso, como certamente vos destes
conta, um tema habitual nos meus colóquios convosco é a situação dos jovens na respectiva
diocese. Confiando na providência divina que amorosamente preside os destinos da história,
não cessando de preparar os tempos futuros, apraz-me ver raiar o dia de amanhã nos
jovens de hoje. Já o Venerável Papa João Paulo II, vendo Roma tornar-se «jovem com
os jovens», no ano 2000, saudou-os como «as sentinelas da manhã» (Carta ap. Novo millennio
ineunte, 9; cf. Homilia na Vigília de Oração da XV Jornada Mundial da Juventude, 19/VIII/2000,
6), com a tarefa de despertar os seus irmãos para se fazerem ao largo no vasto oceano
do terceiro milênio. E, a comprová-lo, para além do mais aflui à memória a imagem
das longas filas de jovens que esperavam para se confessar no Circo Máximo, e que
voltaram a dar a muitos sacerdotes a confiança no sacramento da Penitência”.
Aí,
o Papa recordou-se de um outro tema também importante: “como bem sabeis, amados Pastores,
o núcleo da crise espiritual do nosso tempo tem as suas raízes no obscurecimento da
graça do perdão. Quando este não é reconhecido como real e eficaz, tende-se a libertar
a pessoa da culpa, fazendo com que as condições para a sua possibilidade nunca se
verifiquem. Mas, no seu íntimo, as pessoas assim «libertadas» sabem que isso não é
verdade, que o pecado existe e que elas mesmas são pecadoras. E, embora algumas linhas
da psicologia sintam grande dificuldade em admitir que entre os sentidos de culpa
possa haver também os devidos a uma verdadeira culpa, quem for tão frio que não prove
sentimentos de culpa nem sequer quando deve, procure por todos os meios recuperá-los,
porque no ordenamento espiritual são necessários para a saúde da alma. De fato, Jesus
veio salvar não aqueles que já se libertaram por si mesmos pensando que não têm necessidade
d’Ele, mas quantos sentem que são pecadores e precisam d’Ele (cf. Lc 5, 31-32). “
O
Papa nos convida a buscar a educação na verdade, que é sempre nova: JESUS CRISTO RESSUSCITADO!
Insistindo em uma vida eclesial mais transparente, sem busca de poder, ou sem querer
jamais destruir o outro, o Papa fala do Perdão: “Precisamos do perdão, que constitui
o cerne de toda a verdadeira reforma: refazendo a pessoa no seu íntimo, torna-se também
o centro da renovação da comunidade. Com efeito, se forem retirados o pó e o lixo
que tornam irreconhecível em mim a imagem de Deus, torno-me verdadeiramente semelhante
ao outro, que é também imagem de Deus, e, sobretudo, torno-me semelhante a Cristo,
que é a imagem de Deus sem defeito nem limite algum – o modelo segundo o qual todos
nós fomos criados. São Paulo exprime isto de modo muito concreto: «Já não sou eu que
vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). Sou arrancado ao meu isolamento e acolhido
numa nova comunidade-sujeito; o meu «eu» é inserido no «eu» de Cristo e assim é unido
ao de todos os meus irmãos. Somente a partir desta profundidade de renovação do indivíduo
é que nasce a Igreja, nasce a comunidade que une e sustenta na vida e na morte. Ela
é uma companhia na subida, na realização daquela purificação que nos torna capazes
da verdadeira altura do ser homens, da companhia com Deus. À medida que se realiza
a purificação, também a subida – que a princípio é árdua – vai-se tornando cada vez
mais jubilosa. Esta alegria deve transparecer cada vez mais na Igreja, contagiando
o mundo, porque ela é a juventude do mundo.”
Realmente valeu muito a pena ouvir
as Palavras do Papa, que nos pede para arrancarmos o pé da rivalidade, da disputa
de poder, da falta de senso comunitário que leva ao escândalo aqueles que, na Igreja
ou fora dela, querem destruir o irmão, a pessoa humana e viver em contra-valores que
não são os valores do Reino. Que as palavras do Papa nos ajudem, no Estado do
Rio de Janeiro e no Brasil, a buscar uma renovação completa, radical – na força do
Espírito de Deus, espírito de justiça, espírito de verdade, espírito de graça!
Bento
XVI nos convoca a formação de mentes e de corações, particularmente de nossos jovens.
Que possamos, ouvindo a sua voz, colocar em prática a face jovem das Dioceses do Rio,
investindo na autêntica formação da juventude na busca dos valores sempre atuais da
vida, da verdade, da santidade e da espiritualidade. Vi Pedro, vi Bento XVI, por isso
vejo Jesus Cristo nos jovens do Rio de Janeiro e em cada fiel batizado. Amém!
†
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ