2010-09-29 12:04:16

CONFIRMA TEUS IRMÃOS


Cidade do Vaticano, 29 set (RV) - Hoje escrevo o meu artigo à sombra da Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde, nós, Bispos do Regional Leste 1 da CNBB, que congrega as Províncias Eclesiásticas de São Sebastião do Rio de Janeiro e de Niterói, além do Arcebispo de Juiz de Fora, do Arcebispo Maronita do Brasil e do Bispo de Tubarão. Estamos em plena Visita Ad Limina Apostolorum na cidade eterna, Roma.

Nestes dias intensos já visitamos vários dicastérios – que são espécies de ministérios que ajudam o Romano Pontífice no Governo da Igreja Católica no mundo. Na manhã da sexta-feira, dia 23, em Castelgandolfo, tive a alegria de manter um contacto pessoal com o Papa Bento XVI, apresentando o relatório das atividades pastorais da bonita e querida Igreja Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, falando de nossas esperanças, de nossas alegrias, mas também dos grandes desafios que se apresentam na evangelização de uma megalópe como a nossa. O Santo Padre se interessou por vários aspectos de nossa cidade, principalmente pela juventude e formação dos cristãos, além, é claro, pelo trabalho social que desenvolvemos.

No sábado, o Papa Bento XVI recebeu todos os bispos que estão em visita “ad limina” na mesma residência de verão de Castelgandolfo, quando, em nosso nome, dirigiu ao Santo Padre a sua saudação o Presidente do nosso regional, que assim se expressou: “Em termos eclesiais, dentre as características mais notórias do Regional Leste I, há de destacar-se a assinalada unidade entre as Províncias e entre as Igrejas Particulares. Esta unidade, solidificada pelos encontros periódicos entre os Bispos, tem um vigoroso denominador comum: a fidelidade ao Magistério Pontifício, especificamente nas matérias mais delicadas, como a doutrina sobre a procriação, a defesa da vida em todos os seus aspectos, as normas sobre os casamentos de segunda união, a não participação na política partidarista, as últimas indicações pontifícias sobre o comportamento moral dos clérigos. Saiba, Santo Padre, que estamos integral e filialmente unidos a Sua Santidade. Nossas ações, nosso trabalho pastoral e nossas orações estão intimamente ligados e direcionados ao sucessor de Pedro.

O nosso povo do Estado do Rio de Janeiro é um povo fervorosamente religioso. Nos últimos cinco anos tem aumentado sensivelmente o número dos que participam das celebrações eucarísticas, e é notável o incremento das vocações sacerdotais. Há seminários do nosso Regional que estão lotados, e alguns deles com cerca de cem seminaristas. Agradecemos a relevante participação de Bento XVI na V Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe e os imensos frutos dela decorrentes, como o desenvolvimento da Missão Continental, que em muitas das nossas dioceses está em plena expansão através das missões populares. As milhares de visitas domiciliares, já realizadas, têm propiciado o incremento substancial do número de fiéis que frequentam os meios de formação das suas paróquias.”

Em seguida, ao se dirigir a nós, o Papa Bento XVI abençoou a Igreja e o povo do Rio de Janeiro: “Sobre todos e cada um desça, radiosa, a benevolência do Senhor: Ele «faça brilhar sobre ti a Sua face, e Se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o Seu rosto e te dê a paz» (Nm 6, 25-26).”

Falando sobre os jovens, esperança viva de nossas Dioceses, o Papa Bento XVI manifestou a sua alegria com a juventude, aurora da Igreja: “Rica de um longo passado sempre vivo, e caminhando para a perfeição humana no tempo e para os destinos últimos da história e da vida, ela é a verdadeira juventude do mundo. (…) Olhai-a e encontrareis nela o rosto de Cristo, o verdadeiro herói, humilde e sábio, o profeta da verdade e do amor, o companheiro e o amigo dos jovens”. (Mensagem do Concílio à humanidade: Aos jovens).

O Papa ensinou-nos uma verdade que precisa ser sempre reafirmada e proclamada: “Deixando transparecer o rosto de Cristo, a Igreja é a juventude do mundo. Mas será muito difícil convencer alguém disso mesmo se não se revê nela a geração jovem de hoje. Por isso, como certamente vos destes conta, um tema habitual nos meus colóquios convosco é a situação dos jovens na respectiva diocese. Confiando na providência divina que amorosamente preside os destinos da história, não cessando de preparar os tempos futuros, apraz-me ver raiar o dia de amanhã nos jovens de hoje. Já o Venerável Papa João Paulo II, vendo Roma tornar-se «jovem com os jovens», no ano 2000, saudou-os como «as sentinelas da manhã» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 9; cf. Homilia na Vigília de Oração da XV Jornada Mundial da Juventude, 19/VIII/2000, 6), com a tarefa de despertar os seus irmãos para se fazerem ao largo no vasto oceano do terceiro milênio. E, a comprová-lo, para além do mais aflui à memória a imagem das longas filas de jovens que esperavam para se confessar no Circo Máximo, e que voltaram a dar a muitos sacerdotes a confiança no sacramento da Penitência”.

Aí, o Papa recordou-se de um outro tema também importante: “como bem sabeis, amados Pastores, o núcleo da crise espiritual do nosso tempo tem as suas raízes no obscurecimento da graça do perdão. Quando este não é reconhecido como real e eficaz, tende-se a libertar a pessoa da culpa, fazendo com que as condições para a sua possibilidade nunca se verifiquem. Mas, no seu íntimo, as pessoas assim «libertadas» sabem que isso não é verdade, que o pecado existe e que elas mesmas são pecadoras. E, embora algumas linhas da psicologia sintam grande dificuldade em admitir que entre os sentidos de culpa possa haver também os devidos a uma verdadeira culpa, quem for tão frio que não prove sentimentos de culpa nem sequer quando deve, procure por todos os meios recuperá-los, porque no ordenamento espiritual são necessários para a saúde da alma. De fato, Jesus veio salvar não aqueles que já se libertaram por si mesmos pensando que não têm necessidade d’Ele, mas quantos sentem que são pecadores e precisam d’Ele (cf. Lc 5, 31-32). “

O Papa nos convida a buscar a educação na verdade, que é sempre nova: JESUS CRISTO RESSUSCITADO! Insistindo em uma vida eclesial mais transparente, sem busca de poder, ou sem querer jamais destruir o outro, o Papa fala do Perdão: “Precisamos do perdão, que constitui o cerne de toda a verdadeira reforma: refazendo a pessoa no seu íntimo, torna-se também o centro da renovação da comunidade. Com efeito, se forem retirados o pó e o lixo que tornam irreconhecível em mim a imagem de Deus, torno-me verdadeiramente semelhante ao outro, que é também imagem de Deus, e, sobretudo, torno-me semelhante a Cristo, que é a imagem de Deus sem defeito nem limite algum – o modelo segundo o qual todos nós fomos criados. São Paulo exprime isto de modo muito concreto: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). Sou arrancado ao meu isolamento e acolhido numa nova comunidade-sujeito; o meu «eu» é inserido no «eu» de Cristo e assim é unido ao de todos os meus irmãos. Somente a partir desta profundidade de renovação do indivíduo é que nasce a Igreja, nasce a comunidade que une e sustenta na vida e na morte. Ela é uma companhia na subida, na realização daquela purificação que nos torna capazes da verdadeira altura do ser homens, da companhia com Deus. À medida que se realiza a purificação, também a subida – que a princípio é árdua – vai-se tornando cada vez mais jubilosa. Esta alegria deve transparecer cada vez mais na Igreja, contagiando o mundo, porque ela é a juventude do mundo.”

Realmente valeu muito a pena ouvir as Palavras do Papa, que nos pede para arrancarmos o pé da rivalidade, da disputa de poder, da falta de senso comunitário que leva ao escândalo aqueles que, na Igreja ou fora dela, querem destruir o irmão, a pessoa humana e viver em contra-valores que não são os valores do Reino.
Que as palavras do Papa nos ajudem, no Estado do Rio de Janeiro e no Brasil, a buscar uma renovação completa, radical – na força do Espírito de Deus, espírito de justiça, espírito de verdade, espírito de graça!

Bento XVI nos convoca a formação de mentes e de corações, particularmente de nossos jovens. Que possamos, ouvindo a sua voz, colocar em prática a face jovem das Dioceses do Rio, investindo na autêntica formação da juventude na busca dos valores sempre atuais da vida, da verdade, da santidade e da espiritualidade. Vi Pedro, vi Bento XVI, por isso vejo Jesus Cristo nos jovens do Rio de Janeiro e em cada fiel batizado. Amém!

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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