Cidade do Vaticano, 25 set (RV) -A reflexão sobre a primeira leitura da liturgia
deste domingo nos coloca no interior de uma sociedade onde um grupo, formado pelo
nobres da Samaria (governantes, palacianos, chefes políticos e latifundiários) desfrutava
das conquistas militares do rei Jeroboão. Nesse ambiente surgiu a fala discordante
do Profeta Amós que dizia estarem enganados os poderosos ao esperarem o Dia de Javé
como um dia de glória. O Dia de Javé será um dia de castigo, culminando com a destruição
da própria Samaria e com o exílio de seus moradores. Ele foi claríssimo ao dizer:
“ o bando dos gozadores será desfeito”. Eis os motivos: enriquecimento à custa
do pobre e “não se preocupar com a ruína do povo”. Será que também não existem
pobres que desejariam usufruir dessas benesses e sonham em ser como um desses ricos?
Pessoas vendem seu corpo, sua inteligência para poderem conviver nesse mundo de privilegiados.
Deixam-se corromper para isso.
O Evangelho nos apresenta a reflexão de Jesus
diante desse quadro. Ele usa a parábola do rico e de Lázaro para nos dar o seu recado.
O rico, que nem nome possui, é descrito como alguém que se veste com luxo, usando
roupas importadas, se banqueteando diariamente e morando em uma mansão. Do lado de
fora, um sem-teto, Lázaro. Ele via entrar os comensais em traje de festa. Sentia vontade
de comer, queria matar a fome, a sede, mas nada lhe era dado. Ao contrário, ainda
era incomodado pelos cães que lambiam suas feridas. Era o excluído! Contudo, Deus
- que optou preferencialmente pelos pobres - ao permitir a morte dos dois, acolhe
Lázaro em sua casa, enquanto o rico continua em seu fechamento, agora absolutizado
pela morte. Neste momento, o nome Lázaro revela seu significado, Deus ajuda, e de
fato Deus o ajudou. Enquanto o rico, sem nome, fica agora totalmente ignoto, morto,
sepultado e desconhecido! Dentro da parábola vemos também o resultado, a consequência
da atitude surda, absolutamente insensível do rico. O abismo que ele criou, excluindo
o pobre de toda e qualquer participação nos bens que ele julgava possuir, volta agora
contra ele mesmo. É tão grande que é impossível haver comunicação entre eles. Pior,
a inversão foi drástica. Aquele que sempre esteve saciado, suplica por uma gota d’água
e pede que Lázaro faça isso. Existe nesse trecho do Evangelho algo que muitas vezes
passa despercebido e que não deveria, porque é importante. Quando Abraão fala com
o rico, apesar de se dirigir a uma pessoa, ele usa o plural – “..nem os daí poderiam
atravessar até nós.” O rico não está só. Outros o antecederam na ocupação de acumular
bens gananciosamente. Mas o rico faz um segundo pedido a Abraão, que salve os irmãos
dele, para que não tenham a mesma sorte. Para isso ele pede a ida de Lázaro à casa
deles, para que, vendo um morto, se convertam. Abraão diz ser inútil isso. Para salvá-los,
já existe Moisés e os profetas. Veladamente aí está que nem a ressurreição de Jesus
irá salvá-los, caso não se abram ao pobre. De fato, quantas pessoas batizadas vivem
uma existência surda e insensível em relação aos excluídos! A partilha gera vida,
o acúmulo, morte! A única força capaz de mudar o coração do rico, de ser fechado
em si mesmo, é a Palavra de Deus. Ela tem o poder de abrir os corações! Neste domingo
celebramos o Dia da Bíblia. Que ela seja utilizada por nós de tal modo que permita
ao nosso coração permanecer sempre aberto aos irmãos, praticando a partilha. (CA)