2010-09-23 18:24:47

Em Portugal, caricaturas e anti-clericalismo moldaram opinião pública na Primeira República


(23/9/2010) As caricaturas e o anti-clericalismo, incluindo o que se produziu dentro da Igreja Católica, foram dois dos elementos mais importantes da imprensa portuguesa durante a mudança do regime da Monarquia para a República.
Na conferência de abertura das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, que se realizam hoje e amanhã em Fátima, o historiador António Matos Ferreira sublinhou a importância das caricaturas na fixação de “mitos comunicacionais” que se tornaram “elementos de rigidez societária”.
Além da oposição aos organismos e estruturas eclesiais defendida e propagada por parte significativa de sectores ligados ao regime republicano, o anti-clericalismo foi também factor reagente para a recomposição da Igreja Católica.
Numa época em que o alcance da comunicação social era mais reduzido, a informação difundida através de jornais, diários, semanários, revistas e folhas volantes era ampliada pelo clero, que além de formar a opinião e os comportamentos, difundia as notícias veiculadas na imprensa.
No entender do investigador, a imprensa católica contribuiu para galvanizar energias na Igreja, embora não tenha alcançado “a reconquista cristã total da sociedade”.
“Estamos diante de um jornalismo genericamente militante”, sublinhou António Matos Ferreira, acrescentando que a imprensa, “era em larga medida”, programática e propagandística.
Estes elementos caracterizaram igualmente os jornais ligados a instituições eclesiais, cuja variedade de pontos de vista sobre a Igreja e o novo regime são reveladores da “complexidade do catolicismo” do tempo, tornando difícil a aplicação da distinção entre “boa e má imprensa”, surgida nos meios católicos do tempo.
A construção de diferentes narrativas dos acontecimentos por parte de uma imprensa onde as “fronteiras entre o que acontece e o que se deseja que aconteça eram ténues”, constituíram factores de transformação social, mas também de conflito.








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