Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: um projecto que nasceu envolto em grande
esperança, mas que 10 anos depois, tarda em confirmar as expectativas
(22/9/2010) Uma ambição desadequada, a falta de políticas correctas, no que respeita
à defesa dos direitos humanos e uma excessiva preocupação pela busca de resultados,
descurando os processos necessários para os atingir. O bispo moçambicano Francisco
Silota, vice-presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar,
explica desta maneira o fracasso anunciado para os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio (ODM). Passam 10 anos desde a criação dos ODM – lançados pelas Nações Unidas
(ONU) em Setembro de 2000 – e para o prelado africano, este trata-se de “um aniversário
amargo”. “Os ‘pais’ temem que este ‘filho’ não consiga corresponder às expectativas
criadas, incluindo aquelas que dizem respeito à redução da pobreza no mundo, para
metade, até 2015”, sustenta D. Francisco Silota, num comunicado publicado pela Rádio
Vaticano. Numa altura em que os ODM estão a ser debatidos, na cimeira da ONU em
Nova Iorque, o vice-presidente da SECAM reflecte acerca de algumas questões que ainda
estão por resolver, concretamente no continente africano. Antes de mais, falharam
as verbas que tinham sido prometidas para desbravar o caminho, rumo ao desenvolvimento. “No
seu relatório para 2010, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) avisou que os níveis totais de assistência ao desenvolvimento deste ano são
escassos, face aos compromissos assumidos em 2005, de 17 biliões de dólares” revela
D. Francisco Silota. “Os governos têm de reconhecer que as políticas não podem
ser aplicadas de forma isolada, e que as suas acções, nas mais diversas áreas, têm
influência ao nível do desenvolvimento”, reforça o bispo de Moçambique. Para voltar
a colocar os ODM no caminho certo, será preciso que os países mais ricos fomentem
um clima de cooperação e solidariedade e, sobretudo, que se consiga responsabilizar
aqueles que assumiram o compromisso de ajudar. “Em África, por exemplo, tem vindo
a crescer cada vez mais a consciência de que só nós, os africanos, é que podemos encontrar
soluções para lutar contra a pobreza no continente”, escreve o prelado moçambicano. A
Igreja em África, conclui D. Francisco Silota, tem tentado tomar parte nessa busca
de soluções, substituindo muitas vezes o papel dos próprios governos. Exemplo disso
mesmo foi a cimeira europeia promovida pelo SECAM, em conjunto com vários especialistas
em matéria de desenvolvimento, entre 8 e 15 de Setembro.