2010-09-18 16:36:23

AFEGÃOS ELEGEM PARLAMENTO EM MEIO A PROCESSO DE PAZ COM TALIBÃS


Islamabad, 18 set (RV) - O movimento talibã ameaçou, com seus ataques, acabar com as eleições parlamentares deste domingo, no Afeganistão: as primeiras a se realizarem após o início do incerto processo de diálogo com os insurgentes.

Três são os eventos que a ONU havia considerado como "cruciais" para o progresso do Afeganistão, em 2010: a "Jirga" (assembleia) de paz de junho; a Conferência de Cabul, em julho; e este pleito para eleger os 249 membros da Câmara Baixa.

Nos dois primeiros eventos – que serviram para que o Presidente Hamid Karzai tentasse recuperar a legitimidade perdida – se buscou o consentimento afegão e internacional ao chamado "Plano de reconciliação" que prevê uma despesa de US$ 784 milhões ao longo de cinco anos, para recolocar na sociedade 36 mil insurgentes.

Todavia, segundo fontes oficiais citadas pela imprensa internacional, os Estados Unidos investiram, até agora, apenas US$ 200 mil no plano e, desde abril, apenas 100 insurgentes aliaram-se ao Governo, frente aos nove mil que o fizeram nos últimos cinco anos.

No último dia 4, Karzai anunciou a criação de um Conselho de Paz composto por 50 membros, cujas identidades ele revelaria após o fim do mês do jejum de Ramadã. Mas esse passo – como tantos outros – foi criticado pelo movimento insurgente.

"A formação de uma nova "Shura" (Conselho) em nome da paz é a repetição de experiências de fracasso anteriores" – observou um porta-voz talibã, em declarações à agência afegã AIP.

Os fundamentalistas insistem em que não aceitarão nenhum diálogo, enquanto as tropas estrangeiras não abandonarem o país; enquanto isso, eles continuam boicotando as iniciativas do Governo e atacando as forças internacionais e afegãs.

A prova de que o movimento talibã continua no auge é que a Comissão Eleitoral declarou o pleito de amanhã como "de alto risco", e decidiu manter fechados 938 colégios (do total de 6.835) em 25 das 34 províncias afegãs, sobretudo no sudeste "pashtun". Os cerca de 50 mortos nas últimas eleições – as presidenciais de 20 de agosto de 2009 – em consequência da violência talibã, são motivo suficiente para isso.

"A crescente violência no país dificultará, sem dúvida alguma, o processo eleitoral e dará ensejo a que haja uma significativa fraude nestas eleições", disse à agência espanhola de notícias EFE, o analista Wadir Safi, professor na Universidade de Cabul.

Mas não é apenas a previsão de ataques talibãs que ofusca o sucesso do pleito eleitoral. Durante as últimas semanas, os candidatos viram como o movimento talibã – que qualificou o pleito como uma forma de ampliar a "ocupação" do país – os impedia de desenvolver suas campanhas. "Não é possível ter boas eleições sem uma boa campanha" – disse à EFE, o candidato Daoud Sultanzoy que pretende revalidar sua cadeira no Parlamento, pela província de Ghazni.

Sultanzoy explicou que muitos dos candidatos a deputado não conseguem participar de atos eleitorais, especialmente no sul e leste afegãos, áreas de tradicional domínio talibã.

Até o momento, pelo menos três candidatos e mais de 12 membros de equipes da campanha eleitoral morreram em fatos violentos; dezenas deles foram sequestrados, e centenas receberam ameaças desde o início da campanha.

O contraste com o último pleito parlamentar – em 2005 – é incontestável: na ocasião, as eleições ocorreram num clima de quase normalidade, o que gerou reflexões sobre a suposta fraqueza da insurreição talibã. No entanto, agora se admite abertamente, que o movimento talibã tem capacidade para causar um grande estrago.

Em 2005 também não se ventilava a possibilidade de negociar com os insurgentes; agora, foi aberto um processo formal, justamente quando a guerra está em um de seus piores momentos. Julho, de fato, foi o mês com mais baixas militares norte-americanas (66 mortos) e junho foi o mais sangrento para o conjunto das forças internacionais (102 mortos) que, nestes nove meses de 2010, já perderam mais de 500 homens.

Para os civis, a situação é ainda pior. Durante o primeiro semestre de 2010, 1.271 civis morreram, vítimas do conflito: 21% a mais do que nos primeiros seis meses de 2009, segundo um relatório da ONU. (AF)







All the contents on this site are copyrighted ©.