Cidade do Vaticano, 17 set (RV) - Na tarde de hoje, Bento XVI foi recebido
pelos presidentes das Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns, por quem foi acompanhado
ao local de onde fez seu discurso à sociedade civil, na Westminster Hall.
“Ao
dirigir-me a vocês tenho consciência do privilégio que me é concedido de falar ao
povo britânico – iniciou o Papa - e a seus representantes na Westminster Hall, um
edifício que tem um significado único na história civil e política dos habitantes
destas Ilhas. Permitam-me manifestar a minha estima pelo Parlamento, que há séculos
tem sede neste lugar e que exerceu no mundo uma tão profunda influência no desenvolvimento
de formas de governo participativas, especialmente na Commonwealth (Comunidade de
nações britânicas, ndr) e mais em geral nos países de língua inglesa.”
O Santo
Padre falou sobre política, história e parlamentarismo, sugerindo que “o mundo da
razão e o mundo da fé – o mundo da secularidade racional e o mundo do credo religioso
– precisam um do outro e não deveriam ter temor de entrar num profundo e contínuo
diálogo, para o bem da nossa civilização.”
“Em outras palavras – disse o Papa
-, a religião, para os legisladores, não é um problema a ser resolvido, mas um fator
que contribui de modo vital para o debate público na nação. Em tal contexto, não posso
deixar de expressar a minha preocupação diante da crescente marginalização da religião,
em particular, do Cristianismo, que está tomando pé em alguns ambientes, inclusive
em nações que atribuem à tolerância um grande valor.”
“Existem alguns que defendem
que a voz da religião deveria ser silenciada – continuou - ou relegada à esfera puramente
privada. Há alguns que defendem que a celebração pública de festividades como o Natal
deveria ser desencorajada, segundo a discutível convicção de que ela poderia, de certo
modo, ofender aqueles que pertencem a outras religiões ou a nenhuma. E existem outros
ainda que – paradoxalmente com a finalidade de eliminar as discriminações – consideram
que os cristãos que ocupam cargos públicos deveriam, em determinados casos, agir contra
a sua consciência. Esses são sinais preocupantes da incapacidade de manter em justa
consideração não só os direitos dos fiéis à liberdade de consciência e de religião,
mas também o papel legítimo da religião na esfera pública.”
Bento VXI falou
ainda sobre esse convite sem precedentes do país para a sua visita e lembrou os setores
nos quais o Reino Unido se comprometeu junto à Santa Sé. “Houve, no campo da paz –
afirmou - uma troca de pontos de vista acerca da elaboração de um tratado internacional
sobre o comércio de armas; acerca dos direitos humanos, a Santa Sé e o Reino Unido
viram positivamente o difundir-se da democracia, especialmente nos últimos 65 anos;
no campo do desenvolvimento houve colaboração no perdão da dívida, no comércio equitativo
e no financiamento ao desenvolvimento.
Bento VXI disse ainda que “esse olhar
geral à cooperação recente entre Reino Unido e Santa Sé mostra bem quanto progresso
foi feito nos anos passados, desde o estabelecimento de relações diplomáticas bilaterais,
em favor da promoção no mundo dos muitos valores de fundo que partilhamos”.
“Espero
e peço – continuou o Papa - que essa relação continue produzindo frutos e que se reflita
numa crescente aceitação da necessidade de diálogo e respeito, em todos os níveis
da sociedade, entre o mundo da razão e o mundo da fé.”
Dirigindo-se ao Presidente
da Câmara dos Comuns e ao Presidente da Câmara dos Lordes, Bento XVI encerrou seu
discurso com as seguintes palavras: “permita-me assegurar à senhora e ao senhor Presidente
da Câmara dos Lordes as minhas felicitações e a minha constante oração por vocês e
pelo frutuoso trabalho de ambas as Câmaras desse antigo parlamento. Obrigado, e Deus
abençoe a todos!”. (RL/ED)