“O coração fala ao coração” - lema da viagem pastoral de Bento XVI ao Reino Unido,
de 16 a 19, domingo
A expressão, de São Francisco de Sales, bem exprime a espiritualidade de John Henry
Newman, que o Papa beatificará no último dia da viagem, em Birmingham. “Cor ad cor
loquitur” era de facto o lema do seu brasão cardinalício. Com um programa intenso,
esta deslocação do Papa é sem dúvida a mais árdua e complexa de 2010, depois das que
realizou a Malta, Portugal e Chipre, e antes da que terá lugar em Novembro, à Espanha
(Santiago de Compostela e Barcelona). Não obstante algumas polémicas surgidas nos
últimos meses, tudo indica que Bento XVI será bem acolhido tanto na Escócia (Edimburgo
e Glasgow) como na Inglaterra (Londres e Birmingham). De Roma, o Papa voa directamente
para Edimburgo, em cujo aeroporto será recebido pelo Príncipe Filipe, excepcional
gesto de cordialidade da parte de Isabel II. É precisamente por a rainha se encontrar,
neste período, na Escócia, que a viagem papal inicia ali, com todas as honras protocolares.
Já quinta-feira de tarde Bento XVI parte para Glasgow, onde celebrará missa num parque
para os católicos escoceses (e eventualmente do País de Gales e Irlanda). Após uma
jornada extenuante, o Papa chegará à noite a Londres, pernoitando na Nunciatura Apostólica.
Sexta
e sábado serão vividos na capital britânica, com destaque para o encontro do Papa,
sexta de manhã, com o Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, “Primaz de toda a Inglaterra”,
e uma celebração ecuménica, ao fim da tarde, na Westminster Abbey, congregando os
bispos católicos e os da Comunhão Anglicana. Dada a delicadeza da situação que se
vive, neste momento, nas relações entre Católicos e Anglicanos, com as especiais condições
de acolhimento, da parte de Roma, aos fiéis da Igreja inglesa que não aceitam certas
opções tomadas nas últimas décadas pela Igreja Anglicana, estes encontros são, inegavelmente,
dos mais importantes da viagem.
Ainda sexta-feira, de destacar outros dois
acontecimentos. Antes de mais, o encontro com expoentes da sociedade civil, do mundo
académico, cultural e empresarial, assim como o Corpo Diplomático e Líderes religiosos.
Terá lugar no histórico Westminster Hall, a sala mais antiga do Palácio de Westminster,
testemunha de um milénio da história civil e religiosa da nação. Construída em 1099
como salão para festas reais e banquetes da coroação, em 1178 passou a ser a Corte
Real de Justiça. Pode conter 1.800 pessoas. Nesta sala foram condenados à morte S.
Tomás More (1535) e o jesuíta Santo Edmundo Campion (1581), por se recusarem a aceitar
o Acto de Supremacia do Rei sobre a Igreja da Inglaterra. Desde 1883 é esta a sala
onde têm lugar as celebrações de maior relevo nacional e internacional, como a câmara
ardente dos soberanos e os solenes discursos de Isabel II ao Parlamento, nos 25 e
50 anos do seu acesso ao trono e no quinquagésimo aniversário do fim da II Guerra
Mundial. Finalmente, sexta à noite, sem a presença de Bento XVI, todo o séquito
papal participará, com os principais ministros do governo de Londres, num “jantar
de trabalho” (“working dinner”). Cada mesa juntará pessoas ligadas a um dos temas
abordados: ambiente, desarmamento, direitos humanos, educação, fé, sociedade civil,
etc.
Sábado, para além de encontrar o primeiro-ministro britânico e o líder
da oposição, Bento XVI celebra Missa na catedral católica de Westminster com os fiéis
ingleses. Ao fim da tarde, no Hyde Park, participa numa vigília de oração que prepara
a beatificação, no dia seguinte, do cardeal Newman. Domingo de manhã, o Papa despede-se
da nunciatura de Londres, partindo de helicóptero para Birmingham (150 Km, uma hora),
onde preside à Missa de beatificação, num parque, a dois passos de uma Casa de férias
dos Padres de São Filipe de Neri, onde se encontra sepultado o cardeal Newman, que
aqui residiu desde a sua conversão (1846), até à morte (1890). Primeira sede dos Oratorianos
no Reino Unido, este “Saint Mary’s College”, agora Seminário da arquidiocese de Birmingham,
encontra-se ligado à história da Igreja Católica no país, desde a ruptura da Reforma,
no século XVI, até à “segunda Primavera” do século XIX, que teve em John Henry Newman
uma figura de primeiro plano.