Não alimentar o ódio, rezar juntos pelas vítimas do terrorismo e dar tempo para cicatrizar
as feridas: arcebispo de Nova Iorque entrevistado pela RV
O mundo viveu, nas semanas passadas um forte foco de tensão, antes do nono aniversário
do 11 de Setembro. Primeiro pela contestação à construção de uma mesquita na zona
do “Ground Zero”, em Nova Iorque, onde foram abatidas as Torres Gémeas, e depois devido
à insensata iniciativa de um pastor protestante que propunha que naquela data comemorativa
se procede a queimar exemplares do livro sagrado do Islão – o Alcorão. Unânime a condenação
internacional. Também a Santa Sé, através do Conselho para o Diálogo Inter-religioso
exprimiu a sua total oposição a um gesto que só poderá suscitar mais ódio no mundo
e graves consequências para a segurança dos cristãos, nos países de maioria islâmica. A
RV recolheu um depoimento do arcebispo de Nova York, Timothy Dolan. Entrevistado telefonicamente
por Alessandro Gisotti, o prelado criticou duramente a proposta da Jornada para o
rogo do Corão: - Não é uma coisa
boa, é contra a Bíblia, é contra a verdadeira religião, contra a verdadeira fé! -
Queimar o Alcorão é um acto de violência e um acto de divisão num dia (11 de Setembro)
que pretende ser (nomeadamente) nos Estados Unidos, uma jornada de memória e de reconciliação... -
Especialmente, aqui em Nova Iorque, o 11 de Setembro é um dia de memória para todos
– para os católicos, para os muçulmanos, para os judeus. Nós encontramo-nos todos
juntos para um acontecimento que passou a ser uma solenidade, em Nova Iorque. É uma
festa de oração, uma festa de paz e justiça. Toda a cidade de Nova Iorque se reúne
para recordar todas as pessoas que morreram no ataque do 11 de Setembro. Não é uma
jornada contra ninguém, não contra os islâmicos. O 11 de Setembro aqui em Nova Iorque
representa uma ponte entre as religiões… É uma ocasião de oração. Todos estão unidos
nesta jornada. Não é uma jornada de ódio, é uma jornada de amor, de fé, de esperança,
de oração. - Senhor arcebispo: as reacções ao projecto da mesquita perto do Ground
Zero demonstram, sem dúvida, que o 11 de Setembro é uma ferida ainda aberta para muitos
americanos e sobretudo para muitos nova-iorquinos… - Sim, infelizmente a ferida
está ainda aberta, mas pelo menos todos dialogam. Há tantos valores: aqui na América
há o valor da liberdade religiosa e há uma grande tradição de hospitalidade, especialmente
em relação a todos os emigrados. Isto é um valor americano, é um valor católico, é
um valor da nossa Igreja. Está claro que há ainda muito sofrimento e as pessoas –
especialmente aqui em Nova Iorque, nas famílias que perderam alguns dos seus membros
– dizem: “Temos muito respeito pela comunidade islâmica, mas, por favor, há que ter
um pouco de paciência, dêem-nos tempo. É possível que esta ideia de construir uma
mesquita na zona onde estavam as Torres Gémeas seja um decisão demasiado rápida, porque
a ferida ainda está aberta. É preciso dar tempo ao tempo, para que a ferida possa
cicatrizar, porque este lugar é para nós como que uma “nova Lourdes” na América, porque
há tantas lágrimas e é para nós um lugar de oração, um lugar para esperar no futuro,
para imaginar um tempo em que deixe de haver guerra e violência.