Deus, família, biotecnologias e meios de comunicação: temas abordados pelo Papa ao
receber o novo Embaixador alemão
Recebendo nesta segunda-feira em Castel Gandolfo as Cartas Credenciais do novo Embaixador
da Alemanha junto da Santa Sé, Walter Schmid, Bento XVI reafirmou a posição da Igreja
em relação às novas possibilidades oferecidas pela biotecnologia e pela medicina,
reconhecendo os passos em frente alcançados nestes campos, mas advertindo que tal
não deve levar a formas de manipulação da dignidade humana. O Papa Ratzinger exortou
os seus concidadãos a considerarem como “luminosas indicações” para o presente os
gestos heróicos e as corajosas palavras de diversos sacerdotes mártires do período
do regime nazista, que serão beatificados nos próximos tempos: padre Gerhard Hirschfelder,
no próximo domingo, em Munster, e depois, no próximo ano, um outro sacerdote, em Wurzburg.
Finalmente, em Lubeca, outros três padres católicos, unidos pela amizade entre si
e com um pastor protestante, que caíram todos eles vítimas dos nazis. “A comprovada
amizade destes quatro eclesiásticos – disse o Papa – constitui um impressionante testemunho
do ecumenismo da oração e do sofrimento, que floresceu em diversos lugares, durante
o obscuro período do terror nazista”. “Para o nosso caminho comum podemos ver
estas testemunhas como luminosas indicações. Contemplando estas figuras de mártires,
aparece cada vez mais claro e exemplar o facto de certos homens estarem dispostos,
a partir da sua convicção cristã, a darem a vida pela fé, pelo direito a exercer livremente
o próprio credo, pela liberdade de palavra, pela paz e pela dignidade humana”.
Hoje
em dia, felizmente, prosseguiu o Papa, vivemos numa sociedade livre e democrática.
Mas ao mesmo tempo notemos que em muitos dos nossos contemporâneos falta um forte
apego à religião, de que deram prova estas testemunhas da fé. A tal ponto que – acrescentou
textualmente Bento XVI – nos poderíamos perguntar se haverá ainda hoje cristãos que,
sem compromissos, se tornem garantes da própria fé”. E acrescentou ainda: “Se
Deus não tem uma própria vontade, o bem e o mal acabam por já não se distinguir. O
bem e o mal já não estão em contradição entre si, mas numa oposição em que um seria
complementar do outro. E o homem perde assim a sua força moral e espiritual, necessária
para um desenvolvimento global da pessoa. O agir social fica cada vez mais dominado
pelo interesse privado e pelo cálculo do poder, em prejuízo da sociedade.” Daqui,
segundo o Papa, há uma missão que toca aos homens de fé: seguir “de modo positivo
e crítico o desenvolvimento de novas relações entre Estado e religião, mesmo para
além das grandes Igrejas cristãs até agora determinantes”. Em última análise, trata-se
de manter elevado o nível daquela “cultura da pessoa” de que falava uma vez João Paulo
II. Ora – sublinhou o Papa Ratzinger – verifica-se hoje em dia que se vai reduzindo,
em certas sociedades, esta cultura da pessoa. E apresentou dois exemplos concretos,
que suscitam a preocupação da Igreja. Primeiro: “crescente tentativa de eliminar
da consciência da sociedade o conceito cristão de matrimónio e da família”. A Igreja
– reafirmou Bento XVI – não pode aprovar iniciativas legislativas que impliquem uma
valorização de modelos alternativos de casal e de família”. E isso porque levam “ao
enfraquecimento dos princípios do direito natural e, portanto, à relativização de
toda a legislação e mesmo à confusão sobre os valores da sociedade”. O segundo
exemplo aduzido pelo Papa diz respeito às novas possibilidades da biotecnologia e
da medicina. O Papa sublinhou o desafio que representam e o dever de “estudar diligentemente
até que ponto estes métodos podem constituir uma ajuda para o homem e quais os casos
em que pelo contrário se trata da manipulação do homem, de violação da sua integridade
e dignidade”. “Não podemos recusar estes desenvolvimento, mas devemos ser muito
vigilantes. Quando se começa a distinguir – e isso acontece já muitas vezes no seio
materno – entre vida que merece ou não merece ser vivida, nesse caso não se poupará
nenhuma outra fase da vida, menos ainda a velhice e a enfermidade”. Finalmente,
e sempre no âmbito da “fidelidade à verdade”, uma referência do Papa a certos fenómenos
que têm lugar no âmbito dos meios públicos de comunicação, os quais, enfrentando uma
concorrência sempre crescente, são levados a suscitar o máximo de atenção possível”,
recorrendo à lei mediática do contraste, mesmo em detrimento da veracidade dos factos.