Bispos chamados ao exercício da autoridade e da caridade, de modo "forte e decidido,
justo e sereno", em clima de acolhimento e de afecto: Bento XVI aos bispos de recente
nomeação
O Bispo está chamado a ser “forte e decidido, justo e sereno”, sendo ao mesmo tempo
“pai, irmão e amigo” no caminho humano e cristão, com um “discernimento sapiencial
das pessoas, da realidade e dos acontecimentos”. Recordou-o Bento XVI nesta segunda-feira
de manhã, recebendo em Castelgandolfo uns 120 bispos recentemente nomeados, de variadas
partes do mundo, que participaram nos últimos dias em Roma num Encontro promovido
pela Congregação para as Bispos, sob a responsabilidade do novo Prefeito, o cardeal
Marc Ouellet. O Papa evocou “algumas expressões de São Tomás de Aquino que – disse
– podem constituir, para cada Bispo, um autêntico programa de vida”. Comentando a
expressão de Jesus no Evangelho de João “O Bom Pastor oferece a vida pelas suas ovelhas”,
São Tomás observa que o pastor consagra a sua pessoa no “exercício da autoridade e
da caridade”, e sublinha que ambos os aspectos são importantes: é preciso que as ovelhas
lhe obedeçam, mas é também preciso que o pastor as ame. Não é suficiente a autoridade
sem a caridade. Justamente a Constituição dogmática sobre a Igreja, “Lumen gentium”,
recorda aos bispos que devem dar contas a Deus pelas almas dos fiéis que lhes estão
confiados, com a oração, a pregação e todo o tipo de obras de caridade, e deve sentir-se
também responsável mesmo daqueles que não são ainda do seu rebanho. Como o Apóstolo
Paulo, também ele é “devedor de todos”.
“A missão do Bispo não pode ser entendida
com a mentalidade da eficiência e da eficácia de quem ser preocupa sobretudo com o
que há a fazer, mas há que ter sempre em conta a dimensão ontológica que está na
base da dimensão funcional. De facto, pela autoridade de Cristo de que está revestido,
quando se senta na sua Cátedra, está colocado “acima” e “em face da” comunidade, na
medida em que ele existe “para” a comunidade à qual dirige a sua solicitude pastoral”. Neste
contexto, Bento XVI evocou a “Regra Pastoral” de São Gregório Magno, classificando-a
como o primeiro “Directório” para os Bispos de toda a história da Igreja. Aquele santo
Papa classifica o governo pastoral como “a arte das artes” e considera que exerce
bem o governo quem sabe “ser igual aos outros e dominar sobre os vícios, mais do que
sobre os irmãos”. Reflectindo sobre a liturgia da ordenação episcopal, e o significado
da entrega do anel – “sinal de fidelidade”, para “defender e conservar a Santa Igreja,
Esposa de Cristo, na integridade da fé e na pureza de vida”, Bento XVI deixou, porém,
uma advertência. “O conceito de defender e conservar não quer apenas dizer
conservar o que está já estabelecido – embora não deva faltar este elemento – mas
inclui também, na sua essência, o aspecto dinâmico, isto é, uma perpétua tendência
concreta ao aperfeiçoamento, em plena harmonia e contínuo adequação às novas exigências
surgidas do desenvolvimento e do progresso daquele organismo vivo que é a comunidade”. Recordando
que um Bispo tem “grandes responsabilidades em relação ao bem, não só da diocese,
mas da sociedade, estando chamado a ser “forte e decidido, justo e sereno”, para um
discernimento sapiencial das pessoas, da realidade e dos acontecimentos”, atitude
exigida pela tarefa que lhe toca de ser “pai, irmão e amigo”, no caminho cristão e
humano. “Trata-se de uma profunda perspectiva de fé e não simplesmente humana,
administrativa ou de tipo sociológico, aquela em que se situa o ministério do Bispo,
o qual não é um mero governante, ou um burocrata, ou um simples moderador e organizador
da vida diocesana. São a paternidade e a fraternidade em Cristo que dão ao Superior
a capacidade de criar um clima de confiança, de acolhimento, de afecto, mas também
de franqueza e de justiça".