Moçambique: Arcebispo de Maputo apela à calma e espera que governo e população se
entendam, depois da violência gerada pela subida do custo de vida no país
(2/9/2010) Tumultos na rua, confrontos entre policia e população, carros, lojas e
armazéns vandalizados, levantamento de barricadas, um clima de guerra que se criou
em Maputo, desde Quarta-feira, dia 1, e que já causou pelo menos 6 mortos e muitos
feridos. Em causa estão os protestos da população devido ao aumento do custo de
vida em Moçambique, principalmente no que diz respeito aos bens de primeira necessidade,
como a água, luz e o pão. Os combustíveis também aumentaram quatro vezes, nos últimos
meses. O D. Francisco Chimoio, descreveu à agência ECCLESIA o cenário que se vive
na cidade, nos últimos dias. O arcebispo de Maputo fala de “um ambiente de caos,
com manifestações nas ruas, levadas a cabo pelas populações, que pedem ao governo
para que os preços não subam tanto”. O governo moçambicano justificou esta escalada
nos preços com a situação de crise que o mundo atravessa. O presidente Armando
Guebuza, declarou ontem que “o governo está consciente da situação que vive o povo”,
mas não hesitou em condenar os protestos, que diz apenas servirem para “trazer luto
e dor ao seio da família moçambicana e para agravar as condições de vida dos nossos
concidadãos”, lamentando ainda “a perda de preciosas vidas humanas e a destruição
de bens públicos e privados”. A arquidiocese de Maputo já apelou à calma e à compreensão,
para ambas as partes, numa mensagem transmitida pela rádio e pela televisão. “O
governo tem de se sentar com as pessoas e procurar ouvir as suas necessidades, encontrando
uma solução conjunta, uma plataforma de entendimento. Ao mesmo tempo, tem de encontrar
uma forma de gerir esta situação”, espera o arcebispo de Maputo. A polícia tem
tentado pôr cobro aos protestos com gás lacrimogéneo e balas de borracha. Apesar
da aparente tentativa das autoridades em lidarem com a situação de forma a evitarem
perdas humanas, D. Francisco Chimoio adianta que já se registaram pelo menos “6 a
10 mortos, há ainda muitos feridos e pelo menos142 pessoas foram já aprisionadas pela
polícia”, acrescentando que “há muitos jovens e crianças envolvidos na confusão”. Neste
momento, está reunido o conselho de ministros, numa reunião extraordinária, e o arcebispo
espera que seja dada uma resposta aos anseios da população. “O governo tem uma
missão não indiferente, porque foi eleito por esta população, para ir ao encontro
das suas necessidades, têm de trabalhar em nome do povo”, diz D. Francisco Chimoio. O
clima de insegurança é tão grande que o prelado nem consegue sair à rua. Os transportes
públicos não circulam, autocarros, carros, lojas e armazéns foram vandalizados, e
continuam a ser queimados pneus à entrada da cidade, onde se podem ver barricadas
com pedras, para impedir a passagem dos carros. Ontem, um avião da South África
Airways não aterrou, porque não havia condições de segurança, no aeroporto, cheio
de manifestantes. Muita gente não trabalhou, e pessoas que visitaram a cidade não
conseguiram regressar às suas casas. “Eu queria ir reunir com os meus sacerdotes,
directores espirituais da juventude na cidade de Beira, por causa da preparação para
as JMM 2010, mas dizem-me que não é seguro”, adianta o prelado. Segundo o arcebispo,
a confusão pode alastrar-se ainda a outras zonas do país.