Cidade do Vaticano, 29 ago (RV) - No Evangelho, Jesus está jantando na casa
de pessoas importantes da sociedade judaica. Ele observou, não apenas neste jantar,
mas em diversas refeições de que participou, especialmente em banquetes, que as pessoas
faziam verdadeiras ginásticas para estarem em lugar de destaque, próximos do anfitrião
ou do homenageado. Ele aproveitou o momento para fazer algumas observações que não
são de etiqueta, mas de postura em relação ao Reino do Céu.
Ele inicia
quebrando certa visão conservadora de Deus e de relacionamentos “queridos” por ele.
Para
Jesus não existe um Deus distante das pessoas e nem a necessidade de render-lhe homenagem
com mortificações, penitências e jejuns. O Deus de Jesus Cristo é o Emanuel, Deus
Conosco, que vem armar sua tenda em nosso meio, que vem participar de nossas alegrias
e tristezas, que vem viver a nossa vida e nos quer ver alegres, felizes, em paz.
Em
seguida, o Senhor faz uma advertência sobre quem convidar para o festim.
Os
convidados deverão ser os coxos, os aleijados, os excluídos, aqueles que jamais poderão
retribuir o convite. Dentro da tradição, os convidados seriam irmãos, parentes, amigos
e vizinhos. Jesus, rejeitou esse costume e deu novas orientações, como vimos.
Jesus
dá o alerta em relação aos marginalizados, aos esquecidos. É com eles, com os que
estão presentes apenas para servir, que o Senhor se identificou. Do mesmo modo Maria,
nas Bodas de Caná, se identificou com os servidores, por isso ela percebeu a falta
de vinho. Se estivesse sentada à mesa, não perceberia, mas como certamente estava
ajudando a servir, apesar de convidada, percebeu.
Neste momento poderemos
nos perguntar de que lado nos posicionamos? Qual é nosso lugar social no mundo em
que habitamos? Lugar social não tanto de nascimento, mas de opção. Colocamo-nos ao
lado dos ricos, dos incluídos ou nos identificamos com os despossuídos?
Depois
o Senhor entra na questão do acolhimento. Banquete, almoço, jantar ou uma simples
refeição, supõe acolhida. Acolhemos apenas os sadios, os perfeitos, os íntegros, os
santos, ou temos espaço para os doentes, para os que levam vida irregular e estão
fora do politicamente e eticamente aceito?
Acolher os cegos, coxos e aleijados,
siginificava na sociedade judaica acolher os pecadoores, já que o defeito físico,
a doença e a miséria eram vistos como consequencias de pecados.
Jesus não
está se referindo a uma refeição concreta, mas a uma postura de vida que aceita os
puros, perfeitos, santos aos olhos dos valores éticos de nossa sociedade e rejeita
aqueles que deveriam estar cobertos de vergonha pela vida que levam ou que levaram,
pelas suas opções erradas, pela demonstração pública de que rejeitaram as inspirações
para o bom caminho. Podemos pensar nos alcoólatras, drogados, viciados em jogos de
azar, prostitutas e outros praticantes de atitudes que desabonam mocinhas e mocinhos
virtuosos.
Concluindo nossa reflexão, peçamos ao Senhor a graça de
mudarmos nosso lugar social e de nos identificarmos com aqueles que ele, sua e nossa
bendita Mãe, se identificaram, ou seja, com os pobres, com os marginalizados.
Que
a celebração eucarística, que nossa presença na igreja durante a missa, seja sinal
do que acontece em nosso interior, e sintamo-nos irmanados com aquele que estiver
ao nosso lado, seja conhecido ou não, bem apresentável ou não.
Não importa
tanto se em nossa vida é frequente esse tipo de refeição, mas é fundamental que isso
faça parte de nosso coração, de nosso querer, de nossa identificação, de nosso lugar
de fé. (CA)