Rio de Janeiro, 27 ago (RV) - Nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de
Janeiro realiza no próximo sábado, dia 28 de agosto, a sua 21ª. Peregrinação oficial
ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira
do Brasil, em Aparecida, SP. Toda a família arquidiocesana vai à Casa de Maria para
beber na fonte límpida de Maria como ser autênticos discípulos-missionários de Jesus
Cristo, respondendo com Maria Aparecida: “Eis-me aqui Senhor para fazer a Sua Vontade!”.
Por
isso todos nos colocamos como peregrinos de Jesus e de Maria. Peregrinar faz parte
de várias tradições religiosas. A peregrinação é uma viagem, um deslocar-se, um “sair
de” para um “sair para”. É a partida para um lugar sagrado. Mas uma viagem que conte
com a ação de Deus nesta caminhada. Ou seja, estamos certamente num contexto sagrado.
O
significado mais importante de uma peregrinação não é o simples visitar um lugar de
culto, mas sim o desejo de fazer uma experiência de Deus que nos acompanha em nossa
caminhada. Quantos relatos existem sobre as experiências místicas durante as peregrinações!
Durante
o IV Congresso Mundial da Pastoral do Turismo, realizado em Roma, em 1990, debateu-se
sobre o contexto da peregrinação de grupos religiosos. Seria simplesmente um turismo
religioso? Chegou-se à conclusão que não. A motivação principal é a busca de um relacionamento
com Deus e uma compreensão mais profunda da vida humana, inserida numa comunidade
peregrina sobre a terra, tal como o é, em sentido teológico, a própria essência da
Igreja.
Nota-se, como um dos aspectos peculiares da peregrinação, a busca
mais profunda de valores, de reflexões pessoais. Está em jogo aqui a evangelização,
eu diria mesmo, a reevangelização dos que estão afastados da prática sacramental e
da inserção comunitária. Quantos que voltaram a prática cristã após peregrinações!
Há na peregrinação uma influência sobre os demais grupos que não participam diretamente
dela: é o testemunho público que se dá à fé. E isso, nos dias de hoje, é de fundamental
importância: não nos confinarmos apenas dentro do templo, mas sairmos para dizermos
a todos em que acreditamos, e como acreditamos. Aqui também se situa, em nosso caso,
a unidade de uma caminhada eclesial, pois a tradição desta arquidiocese nos faz caminhar
juntos neste momento para que possamos também caminhar juntos durante os nossos trabalhos
pastorais.
A viagem religiosa, certamente, torna-se uma verdadeira ação religiosa,
um diálogo, verbal e não verbal, e serenamente testemunha os valores sobrenaturais
do grupo em peregrinação.
O lugar visitado torna-se para o peregrino um lugar
de Epifania, de manifestação do Senhor, que lhe espera para lhe dizer algo em sua
vida como bem se expressou nesse sentido o documento da V Conferência do Episcopado
Latino Americano e Caribenho realizado em Aparecida.
Embora Deus esteja em
todos os lugares, no entanto, o peregrino que vai para o lugar “onde mora o Senhor”,
ou como dizemos de Aparecida, à “casa da mãe”, não permanece apenas como um observador
de fora, mas quer participar do eterno mistério que ali quer encontrar e responde
com a oração e adoração.
Desta forma, o peregrino é uma pessoa caminhando
na fé.Cada peregrinação é uma expressão do ser humano e de sua espiritualidade. Lembremos
da grande peregrinação do Povo de Israel do Egito para a terra prometida para conseguir
a sua liberdade para adorar o seu Deus e viver segundo a Sua santa lei.
A peregrinação
assume, assim, uma dimensão superior. É um anseio pela busca do caminho espiritual,
onde precisamos chegar, não só de forma material, concreta, mas na realidade do Espírito
de Deus.
Abraão sai e anda pela mão de Deus, buscando a plenitude do encontro
com seu Deus, o Senhor. O livro do Gênesis nos narra esta peregrinação. Torna-se o
caminho de fé para o encontro com Deus. Ele buscava no visível, o invisível. Caminha
e deixa tudo para trás para buscar o que o Tudo que seria nele: Deus. Ele foi seduzido,
na sua caminhada, pelo encontro que teria com Ele.
O peregrino é uma pessoa
de fé que busca o algo mais do que ele é. O peregrino é um insatisfeito: quer sair
de onde está para alcançar o melhor: Deus. O peregrino sabe o que quer e onde procura
para encontrar. Sai na estrada determinado. Vai, mas não o faz à deriva, tem um objetivo
especifico. Ele arrisca, deixa o conforto da casa, como um sair de si mesmo, de suas
próprias aspirações, para alcançar a aspiração somente em Deus. Procura o algo novo,
que deseja superar obstáculos graças à força que busca no alto. Mas não é um sonhador:
é realista, pois sabe de suas dificuldades: a distância, o sol, a chuva, o frio. Supera
tudo pela força do Espírito que o motiva sempre.
Querido povo de Deus da nossa
Arquidiocese. Peregrinar ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida é a grande adesão
pública e solene do povo carioca que nós, os cariocas, amamos a Mãe de Jesus e queremos
seguir o seu caminho para chegar até Jesus Cristo. Este é o pensamento que deve nos
mover nesta caminhada à Aparecida. Vamos à casa de Deus, entregue à sua Mãe, Maria,
e de lá haurir força e motivação mais profundas em nossa vida de cristãos e cristãs
engajados para que a renovação da Igreja do Rio de Janeiro conte sempre com o patrocínio,
a proteção e a intercessão de Nossa Senhora a Jesus Cristo, o Salvador, em favor de
nossas múltiplas necessidades espirituais e na construção da santidade. A Jesus por
Maria: esse é o nosso propósito! Boa romaria a todos, rezemos, renovemos a nossa fé
e que a nossa peregrinação seja tempo de graça e de santificação.
Rogai por
nós Santa Mãe Aparecida, para que sejamos dignos das promessas de Cristo, Amém!
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Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ