Na Nigéria, Colóquio internacional sobre "Escravatura, Tráfico negreiro e consequências":
Dulce Araújo entrevista historiador moçambicano Simão Souindoula
Está a decorrer
até ao próximo dia 28 na Nigéria um colóquio internacional sobre “A Escravatura, o
Tráfico Negreiro e as suas Consequências”. É um dos eventos que marcam este ano o
Dia de Memória do Tráfico Negreiro Transatlântico e a sua Abolição” que ocorreu ontem
23 de Agosto. Este ano o fulcro das comemorações oficiais impulsionadas pela UNESCO
têm lugar precisamente na Nigéria, onde já nos dias passados decorreu um seminário
de estudo sobre “A Trata Negreira e a Escravatura no Mundo Árabe-muçulmano”, um fenómeno
ainda pouco estudado. Isto por diversas razões, explica o historiador angolano, Simão
Souindoula…
Para além destes seminário e colóquio organizados respectivamente
nas cidades nigerianas de Sokoto e Oshogbo pela UNESCO, o Governo da Nigéria e o Centro
for Black Culture and International Understanding, vários outros eventos tiveram lugar
em diversos países. Em Angola, por ex. Simão Souindoula que anda a investigar sobre
as marcas culturais e antropológicas deixadas pelos escravos negros na América Latina
deu, na Casa dos Escritores em Luanda, uma palestra intitulada: “Este es el Rei de
los Congos, ou seja a presença angolana no Peru”. Pouco antes da conferência explicou-nos
de que ia falar, começando por ilustrar a origem da expressão “Este es el Rei de los
Congos”…
Tráfico Trans-sahariano praticado pelos árabes; Tráfico Negreiro
Transtlântico praticado pelos europeus, colonialismo, neo-colonialismo... Como pôde
tudo isso acontecer à África? Que lição devem tirar os africanos de hoje de tudo isto?
O historiado angolano, Simão Souindoula, vice-presidente do Projecto “A Rota
do Escravo”, um projecto lançado em 1994 pela UNESCO a pedido do Haiti e de alguns
países africanos, para promover a investigação histórica sobre o Tráfico Negreiro
e dar o devido relevo ao terrível drama vivido pelos africanos, assim como à sua
luta pela própria dignidade e liberdade. Um drama definido pelo Papa João Paulo II
“O holocausto esquecido”. Na sua mensagem para o Dia de ontem, a directora geral
da UNESCO, Irina Bukova, pôs em realce todo esse enredo histórico e garantiu a vitalidade
e a perenidade do Projecto a “Rota do Escravo”, um projecto – disse – virado para
o futuro e para a convivência pacífica entre os povos.