SAN SALVADOR: IGREJA NA COMISSÃO DOS DESAPARECIDOS
San Salvador, 21 ago (RV) - O bispo de San Salvador, Dom Gregorio Rosa Chávez,
junto com outras personalidades e na presença do Chefe de Estado, Mauricio Funes,
assumiu ontem o cargo como membro da Comissão Nacional de Investigação de meninos
e meninas que "desapareceram" durante os doze anos de guerra civil. O conflito causou
a morte de mais 75.000 salvadorenhos e o desaparecimento de mais de 8.000 pessoas,
entre as quais centenas de crianças. A guerra, depois de uma longa e difícil mediação
da ONU e do Prêmio Nobel da Paz, Oscar Arias, duas vezes presidente da Costa Rica,
terminou no dia 1º de janeiro de 1992 e, desde então, a Igreja local, junto com outras
organizações nacionais e internacionais, está fortemente empenhada em encontrar soluções
para os muitos problemas herdados, com a finalidade de fazer justiça e consolidar
um autêntico processo de reconciliação.
Em 1994, o padre Jon Cortina criou
a Associação para busca de crianças desaparecidas, baseando a sua ação numa lista
que registra mais de 600 denúncias. A Associação, até hoje, pôde esclarecer o destino
dessas 200 crianças, mas as outras 400 continuam desaparecidas. Por outro lado, existem
receios de que o número de crianças desaparecidas seja muito maior pois se sabe, com
certeza, que em muitos casos, especialmente nas zonas rurais, os pais nunca apresentaram
queixas.
A criação dessa Comissão foi solicitada diversas vezes nos últimos
anos pela Igreja de El Salvador, mas os governos precedentes sempre se recusaram a
instituí-la. O presidente Mauricio Funes, alguns meses atrás, pediu desculpas em nome
do Estado a todo o país pelas vítimas da guerra civil e pelos graves crimes cometidos
por militares salvadorenhos. “Reconheço publicamente a responsabilidade do Estado
diante desses fatos, seja pelas ações cometidas seja pelas omissões” disse o presidente
durante a cerimônia de comemoração do fim da guerra, no último mês de janeiro. Funes
é um militante da “Frente Farabundo Marti para a Libertação Nacional”, hoje partido
político constitucional, mas entre 1980 e 1982 foi o maior grupo de guerrilheiros
que entrou em confronto com os governos de El Salvador que se seguiram nos anos de
guerra civil. (SP)