Rio de Janeiro, 14 ago (RV) - No primeiro domingo deste mês vocacional rezamos
pelos nossos padres. Domingo passado agradecemos a vida e o dom da paternidade, colocando
nossos pais, vivos e os que estão na glória de Deus, diante do altar. O terceiro domingo
é dedicado a todos os consagrados: freiras, freis, irmãos e irmãs que dão a sua vida
pelo Evangelho na contemplação ou na ação pastoral, segundo os conselhos evangélicos.
A vida consagrada é um desdobramento da vida batismal, na esteira dos Conselhos Evangélicos
da pobreza, da obediência e da castidade.
Toda a nossa existência de fiéis
cristãos deveria ter como destaque a nossa vida batismal, pois nela somos incorporados
a Cristo, nela somos libertos do pecado e assim regenerados pelo Espirito Santo. Nela
nos tornamos participantes da vida trinitária. Portanto, a nossa consagração começa
no batismo, pois este é fonte de responsabilidade e de deveres, tal como servir aos
outros na comunhão da Igreja.
A vida consagrada em que se professa os três
votos mencionados é uma resposta a esta consagração batismal dentro de um chamado
a um carisma especial na Igreja. É uma resposta radical ao extraordinário amor de
Deus sobre nossas vidas. É um ir além, numa vida comprometida com a implantaçaõ do
Reino de Deus entre os homens e entre as mulheres.
O cristão sempre é chamado
a jogar suas redes em águas mais profundas, ao se provocar pelo estímulo a uma nova
vida, mais radicalizada e mais enrraizada em Deus. Corre-se o risco para Deus, e descobre-se
que só Deus basta para nossa vida.
No processo da consagração ouve-se a voz
de Deus que chama. A Igreja reconhece este chamado e o autentica ao autorizar a existência
dos Institutos de Vida Consagrada, que tanto bem fizeram e fazem ao Povo de Deus e
a toda população, através da entrega da própria vida pelo irmão, e, além dos vários
serviços de missão, evangelização, catequese, também nos diversos organismos de caridade,
educacionais, do cuidado com a saúde, no desvelo com a terceira idade e de promoçao
humana existentes.
Deus chama homens e mulheres, através da vida consagrada,
para um missão de amor em favor dos homens, e, principalmente, pelos preferidos: os
pobres.
A riqueza da Igreja, já nos dizia o mártir São Lourenço, celebrado
nesta semana, não está nos seus edifícios que são do Povo de Deus ou no propalado,
cobiçado e imaginado poder financeiro, mas nos pobres, nos que sofrem, nos que a Igreja
acolhe, educa, cuida e apresenta como o seu inexorável tesouro que jamais a traça
comerá.
Os religiosos e congrados são um dom precioso da Igreja e do mundo,
este tão carente, tão sedento de Deus e de sua palavra, mas também de testemunhos.
Porém,
antes mesmo do serviço que os religiosos prestam às pessoas, a sua mais importante
missão é o « ser », quer dizer, o testemunho de vida em comunidade, doada diariamente
com alegria e generosidade. São os « sinais escatológicos » do Reino de Deus. Nestes
últimos tempos, ao lado de antigas tradições de consagrados juntaram-se muitas outras
novas experiências de grupos de pessoas que atualizam dentro das atuais realidades
e, muitas vezes, como sinais de contradição: o chamado de Deus para essa consagração
radical. Dentro dos vários estilos de carismas encontramos o equilíbrio entre a vida
de ação e contemplação, de oração, de trabalho – presentes em cada pessoa, em cada
instituto e na própria estrutura eclesial.
No mundo do descartável, do prazer
sem limites, na opulência do dinheiro e do ter, da autossuficiência, sentimo-nos atraídos,
através da vida consagrada, a uma outra proposta de seguimento mais sublime de Jesus
Cristo através da dedicação a Deus pelos conselhos evangélicos e, desta forma, são
um doce e eloquente sinal de Deus neste mundo.
Neste dia de oração pela Vocação
à Vida Religiosa quero enviar um afetuoso abraço de encorajamento na sua vocação e
na sua missão a todos os consagrados que trabalham no âmbito de nossa Arquidiocese,
que fazem a diferença do rosto de Cristo e da Igreja no Rio de Janeiro. Agradecemos
a Deus por nos proporcionar tantas vocações na vida consagrada, e pedimos-Lhe que
estes continuem a ser um sinal de graça perene no mundo, na construção da justiça
e do amor.
Por isso, agradecidos a Deus pela vocação consagrada, peçamos novas
e autênticas vocações para este serviço e que a Trindade ilumine todos os que continuam
dando passos para que o Reino de Justiça e de Paz se estabeleça entre nós pelo testemunho
dos que deixam tudo para trás, por amor, para ser totalmente de Jesus e da Igreja.
Que Deus guarde, abençoe e proteja os consagrados!
+ Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ