Fenómenos climáticos extremos intensificam-se: um alerta para cientistas e políticos
(10/8/2010) Quatro situações de calamidade simultâneas em pontos distintos do globo
levam especialistas a admitir que o ritmo de fenómenos climáticos extremos se está
a intensificar. Tal coincidência é "muito rara", mas ainda insuficiente para mostrar
que o clima mudou. Onda de calor na Rússia, inundações no Paquistão, chuvadas intensas
causando deslizamentos na China e precipitação elevada em países como a Alemanha e
Polónia. Tudo nas últimas semanas. Esta concentração de fenómenos climáticos extremos
é tida como "muito rara” pelos especialistas . De acordo com a Organização Meteorológica
Mundial, este ano está a caminho de ser o mais quente desde que há registos, que vêm
apenas de meados do século XIX. Se a tendência se mantiver, será suplantada a
temperatura média global do ano de 1998. O aumento de temperaturas , segundo esta
agência das Nações Unidas, é sobretudo devido à acumulação de gases com efeito de
estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis. “Omar Baddour, responsável
pela aplicação de dados climáticos da Organização Meteorológica Mundial, considera
que “ainda é muito cedo para apontar culpas à influência humana”, e indica que a
causa provável das chuvadas destruidoras na China e no Paquistão pode ter sido uma
desregulação do regime de monções, devido à influência do fenómeno La Niña, que arrefece
a região do Oceano Pacífico.
A onda de calor que hoje fustiga a Rússia pode
ser comparável à do Verão quente de 2003 no Sul da Europa, que só em Portugal fez
1316 mortes. As temperaturas extremas russas, causadas por um anticiclone fora de
tempo, conjugam-se com as chuvas no Paquistão, China e Europa Central para desenhar
um quadro meteorológico hoje fora do comum. Mas pode vir a ser o normal no final deste
século.
As temperaturas elevadas devem-se a correntes de ar vindas dos desertos
da Ásia Central, da península Arábica e do Norte de África. Além disso, o anticiclone
exerce um efeito de barreira para as chuvas e as tempestades de Verão vindas do Norte,
empurrando-as em direcção ao Árctico. O mapa mundial das temperaturas para a próxima
semana, produzido pelo Centro Europeu de Previsão Meteorológica a Médio Prazo (ECMWF),
prevê grandes probabilidades de continuação do tempo quente para a Rússia e a península
Ibérica. Os meteorologistas, dizem que, na Rússia, o calor vai continuar até meados
de Agosto ou até mais tarde. Os primeiros seis meses deste ano foram, segundo os
especialistas, os mais quentes do mundo desde que há registos oficiais, meados do
século XIX.
-O Paquistão enfrenta uma catástrofe mais grave do que
o tsunami que em 2004 atingiu a Ásia, alertou esta segunda-feira a ONU, pedindo aos
doadores internacionais para reforçarem a ajuda ao país. Os números da tragédia
são avassaladores. Quinze milhões de pessoas foram afectadas pelas cheias na bacia
do rio Indo, que atravessa o Paquistão de Norte a Sul. Dois milhões ficaram desalojados
e calcula-se que um milhão continuem isoladas, pelas águas ou pelos deslizamentos
de terra que impedem o acesso a zonas mais remotas, como o vale de Swat (Centro).
E a situação ameaça agravar-se na província de Sindh (Sul), onde as águas ultrapassaram
já o nível de risco máximo num dique de protecção. -Em Moscovo
o número de óbitos duplicou, deixando as morgues à beira da ruptura, anunciou ontem
o director dos serviços de saúde da capital, atribuindo a situação à vaga de calor
e à bruma que há vários dias envolve a região ocidental da Rússia. O número diário
de mortes aproxima-se das 700” quando em situação normal não vai além dos 380. Pela
terceira semana consecutiva, as temperaturas na cidade rondam os 40 graus Ao calor
junta-se a poluição provocada pelos centenas de incêndios que consomem floresta e
turfa (combustível formado por matérias vegetais), 40 dos quais só na região de Moscovo.
E a situação pode ainda agravar-se, já que há várias instalações militares e nucleares
ameaçadas pelas chamas. Entre elas está o centro de tratamento de resíduos nucleares
de Maiak, nos Urais (Leste).