Rio de Janeiro, 05 ago (RV) - Neste mês de agosto, conforme já salientamos
em artigo anterior, celebramos um mês temático: o mês vocacional! E nós iniciamos
no primeiro domingo com o Dia de Orações pelas Vocações Sacerdotais pelo fato da proximidade
da celebração de São João Maria Vianney, patrono específico dos párocos e dos presbíteros
em geral.
E foi assim que no recém-findo Ano Sacerdotal, em função do 150º
aniversário da morte do Cura D’Ars, o Santo Padre Bento XVI o apresentou como um modelo
para os sacerdotes de hoje.
O que é o ser presbítero hoje? Como deve agir o
padre, hoje, na cena deste mundo em grande transformação? O presbítero, antes de tudo,
é o homem da Palavra de Deus, o homem do sacramento, o homem do “mistério da fé”.
Os
padres, como nos ensina o Concílio, “têm o dever primário de proclamar o Evangelho
de Deus a todos os homens” (Presbyterorum Ordinis, 4). Mas, nesta proclamação está
o dever também de levar cada homem e cada mulher deste mundo a um encontro pessoal
com Jesus.
Hoje, mais do que antes, devemos nos empenhar para que cada pessoa
possa fazer esta experiência do encontro com Deus, o devemos fazer com uma renovada
esperança, mesmo nas adversidades de um mundo extremamente secularizado, liberal,
ateísta e até cético.
As pessoas devem perceber no sacerdote “Aquele” a quem
ele está a serviço: o que chamamos na teologia da configuração com Cristo. Nesta dimensão,
encerra-se a sua vital presença na celebração eucarística, ápice da vida espiritual
da Igreja, em que o sacerdote age na pessoa de Cristo. Em suma, o Sacerdote deve ser
um homem em contato com Deus, e que nos leva a fazer esta mesma experiência de santidade.
A
mais sublime missão do sacerdote hoje é, sem dúvida, ser um Cristo agora, pois “Jesus
Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre”. Porém, o padre deve avançar com o tempo, com
a história, mas não deve ter uma atenção superficial sobre tal “modernidade”. É chamado
a ser crítico e também vigilante com a realidade que se lhe apresenta. O grande salto
qualitativo na vida de qualquer padre seria uma autêntica renovação, que é possível
e necessária, e ao mesmo tempo uma grande afeição a uma plena e radical fidelidade
à Palavra de Deus e à tradição da Igreja, aos quais ele serve no seu ministério. A
sua primeira e fundamental vocação é a da santidade, juntamente com a de toda a Igreja!
O
sacerdote é chamado a ser capaz de se entreter com cada pessoa, acreditando que o
outro vale à pena; a ser uma pessoa mística e que, ao mesmo tempo, se interessa pelas
coisas do mundo, pela vida do homem, nas suas angústias e alegrias, para que elas
se tornem algo sagrado e agradável ao Senhor.
O sacerdote é também aquele que
procura uma nova linguagem para se comunicar com o mundo de hoje, principalmente neste
mundo da multimídia.
Particularmente, dirijo-me ao presbitério da Arquidiocese
de São Sebastião do Rio de Janeiro para partilhar com todos as alegrias e tristezas,
as esperanças e decepções, as vitórias e dificuldades que marcam o nosso ministério
neste mundo confuso e até preconceituoso com a figura do Bom Pastor, que deve ser
todo ministro do altar. Recordo as palavras que o Papa Bento XVI dirigiu aos padres
por ele ordenados em junho de 2010: “O sacerdócio – insistiu – se funda na coragem
de dizer sim à vontade de Deus”. Nesta orientação das vidas dos novos sacerdotes,
o Papa, enfim, indicou a prioridade da Eucaristia, que sempre enche de “íntimo estupor”.
“Quando celebramos a Santa Missa – disse – temos nas mãos o pão do Céu, o pão de Deus,
que é Cristo, grão dividido para multiplicar-se e tornar-se o verdadeiro alimento
da vida para o mundo”.
O sacerdócio ministerial é entrega, é imolação, é doar-se
integralmente, é cruz. Tomar a cruz significa comprometer-se para derrotar o pecado
que impede o caminho rumo a Deus, acolher cotidianamente a vontade do Senhor, aumentar
a fé, sobretudo diante dos problemas, das dificuldades, do sofrimento.
Que
possamos, junto com o Santo Padre Bento XVI, como na oração para o Ano Sacerdotal,
repetir com todos os nossos padres, e com o mesmo fervor do Santo Cura D’ars, as palavras
com que ele costumava rezar: “Eu te amo, Senhor, e meu único desejo é amá-Lo até o
último suspiro da minha vida”.
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ