Rio de Janeiro, 1° ago (RV) - Com a memória de Santo Afonso Maria de Ligório,
pai de todos os moralistas do mundo, iniciamos o mês de agosto, que, na Igreja no
Brasil é considerado um mês temático, propício para refletirmos acerca das vocações
específicas em toda a riqueza da vida da Igreja Católica, mãe e mestra, que nos conduz
na via deste mundo rumo à cidade do Céu.
A Constituição Dogmática Lumen
Gentium, do Concílio Ecumênico Vaticano II, recorda, em seu número 5, o Chamado, portanto,
a vocação universal à santidade; pela graça do Batismo, quando somos incorporados
na Igreja, recebemos as virtudes teologais da fé, esperança e caridade e somos constituídos
o novo Povo de Deus, ou seja, Povo de Sacerdotes, Profetas e Reis. Na Igreja existem
duas condições pessoais dentro das quais se pode responder à vocação: a condição clerical
e a condição laical, e dentro dessas duas condições pode-se também viver o estado
religioso, que é o daqueles que professam os Conselhos Evangélicos de pobreza, castidade
e obediência.
O Documento de Aparecida, fruto da V Conferência Geral
do Episcopado Latinoamericano e Caribenho, trata as duas condições, especificando
o modo de viver a vocação de Discípulos-Missionários em cada um dos três graus do
Sacramento da Ordem, na condição laical e no estado religioso.
O Documento
de Aparecida possui uma página de ouro no capítulo quinto, dedicado à comunhão, onde
afirma que na Igreja todos somos discípulos missionários. Tanto o Bispo como o presbítero,
o diácono, o leigo, o consagrado e a consagrada, todos vamos no caminho do seguimento
de Jesus Cristo.
Então, qual é a diferença? Aparecida o diz no subtítulo
5.3: “Discípulos missionários com vocações específicas”. Assim, o Bispo é missionário
de Jesus, Sumo sacerdote; o presbítero, de Jesus Bom Pastor; o diácono, de Jesus Servidor;
os leigos e leigas, de Jesus Luz do Mundo; e os consagrados e consagradas, de Jesus
Testemunho do Pai. Todos somos discípulos-missionários!
“Os leigos
também são chamados a participar na ação pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho
de vida e, em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica
e outras formas de apostolado, segundo as necessidades locais, sob a guia de seus
pastores. Estes estarão dispostos a abrir para eles espaços de participação e confiar-lhes
ministérios e responsabilidades em uma Igreja onde todos vivam de maneira responsável
seu compromisso cristão. Aos catequistas, ministros da Palavra e animadores de comunidades
que cumprem magnífica tarefa dentro da Igreja, os reconhecemos e animamos a continuarem
o compromisso que adquiriram no Batismo e na Confirmação” (DAp 211).
O
Diácono, além do seu serviço habitual na vida paroquial e diocesana, teria uma diversidade
de desafios, como o acompanhamento na criação e na formação de novas comunidades eclesiais;
no fortalecimento de uma comunhão entre os diáconos e com os presbíteros; o ministério
ao lado dos mais necessitados e excluídos da sociedade; o apostolado familiar e a
colaboração na renovação das Pastorais Sociais.
O Papa Bento XVI assim
se expressou com relação aos presbíteros: “Os primeiros promotores do discipulado
e da missão são aqueles que foram chamados “para estar com Jesus e ser enviados a
pregar” (cf. Mc 3,14), ou seja, os sacerdotes. Eles devem receber de modo preferencial
a atenção e o cuidado paterno dos seus Bispos, pois são os primeiros agentes de uma
autêntica renovação da vida cristã no povo de Deus. A eles quero dirigir uma palavra
de afeto paterno desejando “que o Senhor seja parte da sua herança e do seu cálice”
(cf. Sl 16,5). Se o sacerdote fizer de Deus o fundamento e o centro de sua vida, então
experimentará a alegria e a fecundidade da sua vocação. O sacerdote deve ser antes
de tudo um “homem de Deus” (1Tm 6,11); um homem que conhece a Deus “em primeira mão”,
que cultiva uma profunda amizade pessoal com Jesus, que compartilha os “sentimentos
de Jesus” (cf. Fl 2,5). Somente assim o sacerdote será capaz de levar Deus – o Deus
encarnado em Jesus Cristo – aos homens, e de ser representante do seu amor.
Falar
de discipulado-missão, é falar da centralidade e da dimensão constitutiva da Igreja.
Ontem, como hoje, Jesus segue chamando e enviando; e o seguimento é a atitude básica
que se pode viver em diferentes formas na comunidade eclesial. Hoje, mais que em outros
tempos, esse seguimento implica um estilo novo de vida no meio da sociedade. O Papa
nos disse que “Discipulado e missão são como as duas faces de uma mesma moeda: quando
o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só
Ele nos salva (Hb 4,12). Com efeito, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não
há esperança, não há amor, não há futuro” (DAp 146).
Com a consciência
de pastores, fizemos esta pergunta em Aparecida: Como nós, Bispos, vivemos esta dimensão
de ser discípulos missionários? A esse respeito vêm à memória as palavras de Agostinho
de Hipona: “Lembra-te que estás mais acima não porque sejas o primeiro. Mas, à frente,
como o dono da vinha que constrói uma torre para poder ver melhor a vinha… Lembra-te
que és servo dos servos de Deus”.
Também a vida religiosa é um dom
do Pai, por meio do Espírito Santo, à Igreja; é um caminho especial do seguimento
de Jesus; está convocada a ser discípula, missionária e servidora do mundo; é testemunho
de que somente Deus basta para chegar à vida de sentido e de alegria. Essas são algumas
das belas expressões que utilizaram os Bispos latinoamericanos e caribenhos para se
referir à vida consagrada.
No campo da missão, as consagrada e consagrados
estão chamados a fazer um anúncio explícito do Evangelho, especialmente aos mais pobres,
em seus lugares de presença, em sua vida fraterna e em suas obras. Também estão chamados
a colaborar, a partir de seus carismas fundacionais, na gestação de uma nova geração
de discípulos missionários e de uma nova sociedade onde se respeite a justiça e a
dignidade da pessoa humana. E, por último, está chamada a ser experta em comunhão,
tanto no interior da Igreja como na sociedade.
Na riqueza de vocações
na Igreja, leigos, diáconos, presbíteros, bispos, consagrados, quero ressaltar que
a maior, primeira e mais sublime vocação é a santidade. Sem a santidade de vida e
de estado nossa pregação é nula. Refeitos por um compromisso de anunciar o Evangelho,
na vida própria de cada um, busquemos sempre novas formas para viver e dar testemunho
da santidade, iluminando nossa vida com a nossa palavra e o nosso exemplo.
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Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ