2010-08-01 10:59:31

VOCAÇÃO À LUZ DE APARECIDA


Rio de Janeiro, 1° ago (RV) - Com a memória de Santo Afonso Maria de Ligório, pai de todos os moralistas do mundo, iniciamos o mês de agosto, que, na Igreja no Brasil é considerado um mês temático, propício para refletirmos acerca das vocações específicas em toda a riqueza da vida da Igreja Católica, mãe e mestra, que nos conduz na via deste mundo rumo à cidade do Céu.



A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Ecumênico Vaticano II, recorda, em seu número 5, o Chamado, portanto, a vocação universal à santidade; pela graça do Batismo, quando somos incorporados na Igreja, recebemos as virtudes teologais da fé, esperança e caridade e somos constituídos o novo Povo de Deus, ou seja, Povo de Sacerdotes, Profetas e Reis. Na Igreja existem duas condições pessoais dentro das quais se pode responder à vocação: a condição clerical e a condição laical, e dentro dessas duas condições pode-se também viver o estado religioso, que é o daqueles que professam os Conselhos Evangélicos de pobreza, castidade e obediência.



O Documento de Aparecida, fruto da V Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano e Caribenho, trata as duas condições, especificando o modo de viver a vocação de Discípulos-Missionários em cada um dos três graus do Sacramento da Ordem, na condição laical e no estado religioso.



O Documento de Aparecida possui uma página de ouro no capítulo quinto, dedicado à comunhão, onde afirma que na Igreja todos somos discípulos missionários. Tanto o Bispo como o presbítero, o diácono, o leigo, o consagrado e a consagrada, todos vamos no caminho do seguimento de Jesus Cristo.



Então, qual é a diferença? Aparecida o diz no subtítulo 5.3: “Discípulos missionários com vocações específicas”. Assim, o Bispo é missionário de Jesus, Sumo sacerdote; o presbítero, de Jesus Bom Pastor; o diácono, de Jesus Servidor; os leigos e leigas, de Jesus Luz do Mundo; e os consagrados e consagradas, de Jesus Testemunho do Pai. Todos somos discípulos-missionários!



“Os leigos também são chamados a participar na ação pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho de vida e, em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e outras formas de apostolado, segundo as necessidades locais, sob a guia de seus pastores. Estes estarão dispostos a abrir para eles espaços de participação e confiar-lhes ministérios e responsabilidades em uma Igreja onde todos vivam de maneira responsável seu compromisso cristão. Aos catequistas, ministros da Palavra e animadores de comunidades que cumprem magnífica tarefa dentro da Igreja, os reconhecemos e animamos a continuarem o compromisso que adquiriram no Batismo e na Confirmação” (DAp 211).



O Diácono, além do seu serviço habitual na vida paroquial e diocesana, teria uma diversidade de desafios, como o acompanhamento na criação e na formação de novas comunidades eclesiais; no fortalecimento de uma comunhão entre os diáconos e com os presbíteros; o ministério ao lado dos mais necessitados e excluídos da sociedade; o apostolado familiar e a colaboração na renovação das Pastorais Sociais.



O Papa Bento XVI assim se expressou com relação aos presbíteros: “Os primeiros promotores do discipulado e da missão são aqueles que foram chamados “para estar com Jesus e ser enviados a pregar” (cf. Mc 3,14), ou seja, os sacerdotes. Eles devem receber de modo preferencial a atenção e o cuidado paterno dos seus Bispos, pois são os primeiros agentes de uma autêntica renovação da vida cristã no povo de Deus. A eles quero dirigir uma palavra de afeto paterno desejando “que o Senhor seja parte da sua herança e do seu cálice” (cf. Sl 16,5). Se o sacerdote fizer de Deus o fundamento e o centro de sua vida, então experimentará a alegria e a fecundidade da sua vocação. O sacerdote deve ser antes de tudo um “homem de Deus” (1Tm 6,11); um homem que conhece a Deus “em primeira mão”, que cultiva uma profunda amizade pessoal com Jesus, que compartilha os “sentimentos de Jesus” (cf. Fl 2,5). Somente assim o sacerdote será capaz de levar Deus – o Deus encarnado em Jesus Cristo – aos homens, e de ser representante do seu amor.



Falar de discipulado-missão, é falar da centralidade e da dimensão constitutiva da Igreja. Ontem, como hoje, Jesus segue chamando e enviando; e o seguimento é a atitude básica que se pode viver em diferentes formas na comunidade eclesial. Hoje, mais que em outros tempos, esse seguimento implica um estilo novo de vida no meio da sociedade. O Papa nos disse que “Discipulado e missão são como as duas faces de uma mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva (Hb 4,12). Com efeito, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (DAp 146).



Com a consciência de pastores, fizemos esta pergunta em Aparecida: Como nós, Bispos, vivemos esta dimensão de ser discípulos missionários? A esse respeito vêm à memória as palavras de Agostinho de Hipona: “Lembra-te que estás mais acima não porque sejas o primeiro. Mas, à frente, como o dono da vinha que constrói uma torre para poder ver melhor a vinha… Lembra-te que és servo dos servos de Deus”.



Também a vida religiosa é um dom do Pai, por meio do Espírito Santo, à Igreja; é um caminho especial do seguimento de Jesus; está convocada a ser discípula, missionária e servidora do mundo; é testemunho de que somente Deus basta para chegar à vida de sentido e de alegria. Essas são algumas das belas expressões que utilizaram os Bispos latinoamericanos e caribenhos para se referir à vida consagrada.



No campo da missão, as consagrada e consagrados estão chamados a fazer um anúncio explícito do Evangelho, especialmente aos mais pobres, em seus lugares de presença, em sua vida fraterna e em suas obras. Também estão chamados a colaborar, a partir de seus carismas fundacionais, na gestação de uma nova geração de discípulos missionários e de uma nova sociedade onde se respeite a justiça e a dignidade da pessoa humana. E, por último, está chamada a ser experta em comunhão, tanto no interior da Igreja como na sociedade.



Na riqueza de vocações na Igreja, leigos, diáconos, presbíteros, bispos, consagrados, quero ressaltar que a maior, primeira e mais sublime vocação é a santidade. Sem a santidade de vida e de estado nossa pregação é nula. Refeitos por um compromisso de anunciar o Evangelho, na vida própria de cada um, busquemos sempre novas formas para viver e dar testemunho da santidade, iluminando nossa vida com a nossa palavra e o nosso exemplo.



+ Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ



 








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