Cidade do Vaticano, 1° ago (RV) - "Um homem que trabalhou com inteligência,
competência e sucesso vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada
colaborou. Também isso é ilusão e grande desgraça" – nos diz Coélet, autor do Eclesiastes.
E a solução proposta por ele é comer, divertir-se, enfim um moderado aproveitamento
de tudo o que a vida oferece.
A resposta que satisfará plenamente nossa inquietação
virá de Jesus, no Evangelho.
Em Lucas, um homem rico ao ver que sua fazenda
produz bastante, fica muito feliz e planeja não uma redistribuição de sua produção
com os seus empregados, mas encontrar lugar para armazenar mais. O fazendeiro é louco,
pois construiu sua riqueza sobre o suor de seus empregados e, agora, deseja descansar
sobre o trabalho e o sofrimento de outros, sem nada partilhar. Jesus termina o relato
desse caso, dizendo que tudo o que ele armazenou ficará para outros, já que sua vida
será pedida naquela noite.
Os bens tomaram conta da vida daquele homem e ocuparam
o lugar de Deus, da família e dele mesmo.
Por outro lado, o que acumulou não
pode ser chamado de vida, pois a vida se destina a todos e ele acumulou só pensando
em si mesmo.
O pecado do homem rico não está em ser rico, mas no fato que
trabalhou exclusivamente para si e não se enriqueceu aos olhos de Deus. Jesus faz
o alerta não apenas aos ricos, mas a todos aqueles que só trabalham para si mesmos.
Mesmo um estudante de um curso supletivo, que estuda à noite com muito sacrifício
e só pensa em desfrutar a vida no futuro, é destinatário dessa parábola porque, apesar
de ser pobre, tem um coração de rico: deixou-se levar pelo egoísmo.
A segunda
leitura nos dá a indicação de como deve ser a vida daqueles que desejam trabalhar
com sentido e quais deverão ser seus valores. "Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos
por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai
às coisas celestes e não às terrestres." Mais adiante Paulo nos incentiva a fazer
morrer em nós aquilo que é terrestre: "imoralidade, impureza, paixão, maus desejos
e a cobiça, que é idolatria".
O emprego de nossa vida, com seus dons e suas
potencialidades deverá ser realizado com um objetivo maior do que a simples satisfação
mundana e a simples saciação de nossas necessidades básicas. Tudo isso acabará; será
dissolvido pelo tempo, a doença, as traças e a morte. Nada ficará de lembrança. Até
nosso nome, com o tempo, desaparecerá. De fato, tudo ílusão!
Apenas o uso de
nossas potencialidades, de nossa vida em favor do outro, em favor da realização do
Reino de Deus dará sentido ao nosso esforço e transformará tudo de material em imaterial,
de imanente em transcendente, de meramente humano em divino. A eternidade está na
dimensão da partilha, do nós, do outro.
O Homem busca a face do Outro, de
Deus, que é Trindade, a Comunhão. O Homem busca a face de Deus, a comunhão eterna
com o Outro. Só isso o sacia, só isso lhe dará a perenidade que é desejada na profundidade
de seu ser. Abrir-se ao outro é abrir-se a Deus, é abrir-se à felicidade eterna. (CAS)