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Papa João Paulo II ao novo embaixador do Congo: depois de tantos anos de sofrimento, é necessário que todo o país se empenhe cada vez nas vias da reconciliação e do perdão


25 de Maio de 2000
DISCURSO DO SANTO PADRE AO NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO CONGO JUNTO À SANTA SÉ

Senhor Embaixador
1. Sinto-me feliz por lhe dar as boas-vindas por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Congo junto da Santa Sé.

Sensibilizaram-me as palavras gentis que me dirigiu e agradeço-lhe profundamente. Por seu intermédio, é-me grato saudar Sua Excelência o Sr. Dénis Sassou Nguesso, Presidente da República, que terei a honra de receber daqui a poucos dias. Dirijo os meus cordiais votos a todo o povo congolês, pedindo a Deus que lhe inspire sentimentos de fraternidade e de compreensão recíproca, para que todos possam viver em paz e segurança, e edificar uma sociedade reconciliada e solidária.

2. No seu discurso, Vossa Excelência comunicou-me os esforços empreendidos no seu país para restabelecer de maneira duradoura a paz civil e permitir que todos os cidadãos rejubilem com os seus direitos fundamentais em liberdade. Alegro-me pelos progressos feitos na busca dum entendimento entre todos os filhos da nação, como o acordo de cessação das hostilidades assinado há alguns meses, que levou a um sensível melhoramento da situação da segurança.

Contudo, a fim de consolidar o estado de não-beligerância para alcançar a paz verdadeira e duradoura à qual o povo congolês aspira, é preciso aprofundar um diálogo sem exclusivismos e banir definitivamente o recurso às armas como forma de resolução dos conflitos políticos.

O caminho da concórdia entre todos os congoleses no qual se empenhou o vosso país é também um caminho rumo à democracia, que passa pela defesa das liberdades públicas e dos direitos fundamentais da pessoa e das comunidades humanas. O respeito total delas é o caminho mais certo para tecer relações solidárias entre os cidadãos duma mesma nação, além das clivagens internas, e edificar desta forma um Estado de direito que garanta a todos, sobretudo aos jovens e às pessoas mais débeis, uma inserção estável na vida social bem como a possibilidade de viver com dignidade. Com efeito, "está destinado à falência qualquer projecto que deixe separados dois direitosindivisíveis: o direito à paz e o direito a um processo integral e solidário" (Mensagem para o Dia mundial da paz de 2000, n. 13).

Depois de tantos anos de sofrimento, para chegar a uma paz verdadeira, é necessário que todo o país se empenhe cada vez com mais coragem e determinação nas vias da reconciliação e do perdão. O início do novo milénio é uma ocasião privilegiada para se empenhar pela justiça em favor das vítimas inocentes dos conflitos, eliminar as violências que geram o domínio de uns sobre outros e criar uma nova cultura da solidariedade.

3. Por seu lado, a Igreja católica, que também foi duramente atingida pela violência, empenhou-se decididamente numa pastoral que possa ajudar e favorecer a cura interior. Alegro-me por saber que as Autoridades do seu País desejam assegurar-lhe cada vez mais a possibilidade de exercer livremente a sua missão. Pondo-se de modo incánsavel ao serviço da paz e da fraternidade entre os homens, procurando incrementar uma maior tomada de consciência dos valores morais universais indispensáveis para enfrentar as situações presentes, ela realiza a sua missão evangelizadora, partilha a sua esperança no futuro e participa na edificação social.

Por outro lado, perante as graves ameaças que hipotecam o futuro dos jovens, a Igreja católica deseja contribuir de maneira eficaz para a sua formação humana, espiritual, moral e cívica, através das suas obras de educação, sobretudo as escolas. De facto é primordial que as novas gerações sejam educadas com paciência e tenacidade para a justiça, a paz e o respeito fraterno, a fim de que sintam prazer com o que é justo e verdadeiro, e rejeitem firmemente a tentação do ressentimento e da violência.

4. Por seu intermédio, Senhor Embaixador, permita-me dirigir aos Bispos e à comunidade católica do seu País a minha afectuosa saudação. Conheço as provações que enfrentaram com todos os seus compatriotas e dou graças a Deus pela sua coragem e fidelidade ao Evangelho. Eles são as testemunhas de quanto Cristo realizou nos seus corações, a fim de fazer de todos mensageiros de amor. Neste ano jubilar, convido-os a serem artífices de paz e de reconciliação cada vez mais eficazes, manifestando aos seus irmãos e irmãs que Deus não os abandonou nem os esqueceu.

Que eles se recordem que o nome de cada qual está gravado nas mãos de Cristo, trespassadas pelos pregos da crucifixão (cf. Ecclesia in Africa, 143)! Faço votos por que neste momento particular da história do povo congolês, os católicos unam os seus esforços aos dos homens de boa vontade para construir uma nação solidária e próspera.

5. No momento em que inicia a sua missão junto da Sé Apostólica, apresento-lhe os meus melhores votos pela sua feliz realização. Tenha a certeza de que encontrará sempre aqui, junto dos meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo de que poderá ter necessidade.
Sobre Vossa Excelência, o povo congolês e quantos presidem ao seu futuro, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.







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