Papa João Paulo II ao novo embaixador das Ilhas Maurícias: a sua Nação tem procurado
ser um modelo de harmonia entre os diferentes grupos e de cooperação frutuosa para
a construção de um mundo justo e hospitaleiro
6 de Dezembro de 2001 DISCURSO DO SANTO PADRE AO EMBAIXADOR DAS ILHAS MAURÍCIAS,
GOBURDHUN MOHUNLALL, POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS
Excelência É-me
grato aceitar as Cartas mediante as quais Vossa Excelência é acreditado como Embaixador
Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da República das Ilhas Maurícias junto
da Santa Sé. Peço-lhe a amabilidade de transmitir ao Presidente, Sua Excelência o
Senhor Cassam Uteem, assim como ao Ilustríssimo Senhor Primeiro-Ministro as minhas
cordiais saudações e a certeza das minhas preces pelo seu País e povo. Embora já tenham
passado doze anos desde a minha Visita Pastoral às Ilhas Maurícias, ainda conservo
as lembranças da calorosa hospitalidade que me foi reservada pelos seus compatriotas
e das surpreendentes belezas naturais com que o Criador abençoou a sua terra.
Durante
a minha visita, foi-me concedido observar pessoalmente a rica diversidade étnica,
religiosa e cultural da sua Nação, e tomar conhecimento dos esforços que se estão
a levar a cabo para promover uma vida cívica caracterizada pela tolerância, o respeito
ao próximo e o progresso do bem comum. No momento em que Vossa Excelência e os seus
compatriotas se preparam para comemorar o 10º aniversário da proclamação da República
das Ilhas Maurícias, estes valores profundamente enraizados na sua história e cultura
indicam o caminho para um futuro de promessas e de esperanças. No Oceano Índico, a
sua Nação tem procurado ser um modelo de harmonia entre os diferentes grupos e de
cooperação frutuosa para a construção de um mundo justo e hospitaleiro. Continuando
a aceitar-se mutuamente na diversidade das suas culturas, crenças, raças e línguas,
o povo das Ilhas Maurícias há-de tornar-se, como disse durante essa minha Visita,
"a imagem de uma sociedade de convivência pacífica, prefigurando de algum modo, em
diversas escalas, uma comunidade internacional que seja Pátria verdadeira para todos
os povos" (Discurso em Plaisance, 14 de Outubro de 1989, em: ed. port. de L'Osservatore
Romano de 22.10.1989, pág. 8, n. 4).
O Senhor Embaixador está a dar início
à sua missão junto da Santa Sé num momento em que a atenção do mundo se encontra centrada
na questão do terrorismo global, que ameaça exacerbar as divisões já sérias, existentes
no seio da família humana, e impedir o progresso que se está a realizar em ordem a
uma maior solidariedade na vida internacional. A crise actual apresenta um desafio
a todas as nações, grandes e pequenas, para que renovem os seus esforços destinados
à formação de uma cultura da paz através do diálogo, da compreensão e da cooperação.
É precisamente como modo de contribuir para este grande empreendimento que a Santa
Sé está presente na família das nações. A Santa Sé procura confirmar os valores religiosos
e espirituais, que são essenciais para a aspiração da humanidade à criação de uma
ordem internacional assente sobre o respeito pela cultura específica de cada povo
e, ao mesmo tempo, à realização do anseio humano universal pelo bem-estar e pela paz.
Como
Vossa Excelência observou e como a longa experiência de pluralismo étnico, religioso
e cultural do seu País tem demonstrado, os seguidores das várias religiões têm um
papel importante a desempenhar no serviço à causa da paz. Com efeito, "a relação com
o único Deus, Pai comum de todos os homens, não pode deixar de nos ajudar a sentir-nos
irmãos e a vivermos como tal" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 1).
Hoje, mais do que nunca, os crentes são chamados a condenar toda a tentativa de exploração
da raça ou da religião para fomentar o ódio, a violência e a divisão. Ao mesmo tempo,
podem lançar um fundamento firme para a autêntica renovação social, contribuindo para
formar as consciências nos caminhos da fraternidade e no respeito pela dignidade e
pelos direitos invioláveis de cada indivíduo. A todos os níveis, deve existir um compromisso
convicto em ordem à eliminação radical, ou seja, nas profundezas do coração do homem,
de todas as formas de hostilidade, preconceito e discórdia.
Um papel fundamental
na edificação desta cultura da paz é desempenhado pela família, pelos mestres e pelas
instituições educativas. Desde o início da sua presença nas Ilhas Maurícias, em fidelidade
ao Evangelho, a Igreja católica proclamou as dignidade da família e o seu papel no
desígnio de Deus para a sociedade humana. De modo especial agora, que a identidade
da família está a ser ameaçada por modelos culturais alheios aos valores que, tradicionalmente,
formaram a sua sociedade, é essencial que esta "unidade fundamental da sociedade"
receba o reconhecimento que lhe é devido e o apoio necessário, se quiser cumprir a
sua missão de prover à preparação moral e cívica dos cidadãos que devem edificar e
defender o futuro da sua democracia. A educação católica desempenha um papel significativo,
não só ajudando os pais a criar os seus filhos, de acordo com os valores humanos e
espirituais que orientam a sua vida, mas também formando os jovens para que sejam
membros amadurecidos, responsaveis e produtivos da comunidade. Trata-se de um serviço
vital para o bem de todos os habitantes da Nação. No momento em que dá início à
sua missão junto da Santa Sé, transmito a Vossa Excelência os meus sinceros votos
pelo bom êxito do cumprimento das responsabilidades que agora assume, ao serviço da
sua Nação. Asseguro-lhe, outrossim, as constantes disponibilidade e assistência dos
departamentos da Santa Sé. Sobre o Senhor Embaixador, a sua família e todo o querido
povo das Ilhas Maurícias, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus.