Papa Bento XVI ao novo embaixador do Burundi: rezo a Deus para que ampare todos os
burundianos no compromisso corajoso e generoso que os anima para edificar juntos uma
sociedade cada vez mais fraterna e solidária!
Sexta-feira, 1 de Junho de 2007 DISCURSO DO PAPA BENTO XVI À SENHORA DOMITILLE
BARANCIRA NOVA EMBAIXADORA DO BURUNDI JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS
Senhora Embaixadora 1. É com prazer que recebo
Vossa Excelência por ocasião da apresentação das cartas que a acreditam como Embaixadora
extraordinária e plenipotenciária da República do Burundi junto da Santa Sé.
Sensibilizaram-me
as palavras cordiais que acaba de me dirigir e agradeço-lhe sentidamente. Elas dão
testemunho do interesse manifestado pelas Autoridades do seu país pelo desenvolvimento
de relações de estima e de concórdia entre o Burundi e a Sé Apostólica. Por seu intermédio,
apraz-me apresentar a Sua Excelência o Sr. Pierre Nkurunziza, Presidente da República
do Burundi, os votos que formulo pela sua pessoa e pela realização da sua alta missão,
ao serviço da nação. Saúdo também com afecto todos os habitantes do seu país, sem
esquecer os sofrimentos da população, que foi duramente provada por tantos anos de
guerra, que ainda hoje sofre as consequências e que também foi atingida periodicamente
pela seca e por inundações. Desejo garantir a minha constante solicitude por eles.
Rezo a Deus para que ampare todos os burundianos no compromisso corajoso e generoso
que os anima para edificar juntos uma sociedade cada vez mais fraterna e solidária,
que constitua também mais amplamente um sinal concreto e um apelo vigoroso à consolidação
da paz e da estabilidade na região dos Grandes Lagos!
2. Como Vossa Excelência
ressaltou, a Igreja Católica nunca deixou de manifestar a sua proximidade ao povo
burundiano partilhando as suas alegrias e provações e pagando ela mesma um pesado
tributo à causa da paz e da reconciliação no país. Sensibiliza-me a homenagem que
prestais a D. Michael A. Courtney, Núncio Apostólico, assassinado a 29 de Dezembro
de 2003 depois de ter encontrado as Autoridades religiosas, políticas e militares
na Diocese de Bururi. Recordando este Arcebispo bom e fiel, servidor da paz e da fraternidade
entre os povos, formulo votos por que as Autoridades do país não poupem os seus esforços
para que seja esclarecido este assassínio e para que os responsáveis compareçam perante
a justiça.
3. Entre os instrumentos propostos para a consolidação da paz no
seu país, foi considerada uma organização de uma Comissão Verdade e Reconciliação
(C.V.R.). Para não decepcionar as expectativas, que nesta matéria são grandes, é necessário
que todos se preparem para este trabalho de purificação, delicado e fundamental, com
a máxima atenção, abertura de espírito e de coração. Assim, numa busca paciente e
obstinada da verdade, será possível que cada qual contribua para curar as feridas
da guerra com o bálsamo do perdão, que não exclui a justiça, e de encaminhar o país
pela via da paz e do desenvolvimento integral. A Igreja no Burundi está pronta para
assumir uma parte activa neste processo, sobretudo com a celebração do Sínodo diocesano,
com o diálogo, a participação em acções comuns, para contribuir de modo activo ao
estabelecimento de uma paz duradoura e de uma reconciliação sincera. Sem este trabalho
em profundidade, será indubitavelmente difícil para muitas pessoas encarar o futuro
com esperança.
Outros sinais encorajadores manifestam a vontade comum de trabalhar
activamente pela paz e pela reconciliação. Convém sobretudo mencionar as negociações
em curso entre o Governo e o Palipehutu-FNL, em vista da concretização do Acordo de
cessar-fogo assinado a 7 de Setembro de 2006. Alegrando-me por esta vontade de diálogo,
convido todas as partes em causa a respeitar os seus compromissos e a ter acima de
tudo a coragem da paz, sem a qual não pode haver verdadeiro desenvolvimento.
4.
Vossa Excelência recordou o empenho de todos os burundianos no caminho da consolidação
da paz social e do relançamento económico. Neste esforço complexo de longo alcance,
que visa a reconstrução material e moral do país, o Burundi não está só nem pode ser
deixado só. A comunidade internacional não deixou de oferecer a sua ajuda moral e
o seu apoio económico. A mesa redonda dos doadores para o desenvolvimento, realizado
em Bujumbura a 24 e 25 de Maio passado, manifestou de modo eloquente este compromisso
das delegações presentes a recolher os fundos necessários para garantir o financiamento
do Programa das acções prioritárias, em particular o melhoramento do bom governo e
da segurança, a promoção de um crescimento económico duradouro cada vez mais equitativo,
o desenvolvimento do capital humano, assim como a luta contra a Sida. É motivo de
júbilo a entrada do Burundi na Comunidade da África oriental, e da escolha do seu
país para sede do Secretariado executivo da Conferência internacioanl sobre a região
dos Grandes Lagos. Esta prova de confiança exige que o Burundi responda a esta honra
mostrando um sentido exemplar de responsabilidade na adopção e na realização do Pacto
sobre a paz, a estabilidade e o desenvolvimento na região dos Grandes Lagos, assinado
em Nairobi a 15 de Dezembro passado. Não duvido de que será feito o possível para
que os compromissos assumidos sejam respeitados e para que todos os burundianos possam
encarar o futuro com serenidade e tornar-se artífices do seu desenvolvimento.
Se
todos os habitantes do país estão chamados a contribuir na medida das suas capacidades
para a retomada económica e social do Burundi, é justo que eles possam partilhar dos
frutos. A fim de permitir que as categorias sociais mais vulneráveis e as mais expostas
à violência, aos actos de banditismo, às doenças penso sobretudo nas crianças, nas
mulheres, nos refugiados possam usufruir plenamente dos frutos do desenvolvimento,
é principalmente necessário que os responsáveis da vida pública tenham acesso a uma
tomada de consciência cada vez maior e mais autêntica dos valores morais. Estes valores
universais, como o sentido do bem comum, o acolhimento fraterno do estrangeiro, o
respeito da dignidade de toda a vida humana, da solidariedade, aos quais a Igreja
Católica confere muita importância, constituem um património precioso, que deve tornar-se
uma fonte de esperança no futuro e o alicerce que permite fundar a vida social sobre
bases garantidas.
5. Saúdo, por seu intermédio, a comunidade católica burundiana
e os seus Bispos, encorajando-os a partilhar a esperança que têm no seu coração. A
Igreja Católica local e a Santa Sé, cuja contribuição activa para o crescimento e
o desenvolvimento do país não necessita de demonstrações, em particular nos campos
da educação, da saúde e da paz, deseja que as relações entre a Igreja e o Estado,
numa República laica como é o Burundi, sejam cada vez mais marcadas pelo respeito
recíproco e pela colaboração activa para o bem de todo o país. Possam os fiéis, juntamente
com os seus Pastores numa colaboração sincera com os seus compatriotas, trabalhar
fervorosamente para o desenvolvimento solidário do seu país!
6. No momento
em que inicia a sua missão, apresento-lhe, Senhora Embaixadora, os meus melhores votos
pela nobre tarefa que a aguarda. Tenha a certeza de que encontrará aqui, junto dos
meus colaboradores, o acolhimento atento e compreensivo de que poderá precisar. Invoco
sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, sobre o povo burundiano e seus dirigentes,
a abundância das Bênçãos divinas.