MÉXICO: PADRE USA LINGUAGEM POPULAR PARA ATRAIR VICIADOS À IGREJA
Cidade do México, 20 jul (RV) - Frederick Loos xingava como um qualquer sujeito
desqualificado: uma surpresa, já que ele é um sacerdote católico, e seu discurso desbocado
foi feito no púlpito, para centenas de fiéis que se amontoavam diante dele.
O
padre falou de Deus, da necessidade de servi-Lo e como Ele pode transformar vidas.
Porém, o pároco usava o mais puro espanhol de rua, o que provocou risadas em muitos
membros de gangues, em viciados e outros jovens que se acotovelavam para ouvir o sacerdote.
"Quando
vamos à China, temos de falar chinês" – explicou depois o padre, tirando os paramentos.
"Se você fala com crianças, usa as expressões delas. Não acho que Deus se ofenda,
desde que isso traga as pessoas para perto d'Ele."
Os indivíduos enredados
na cultura de drogas do México – usuários e traficantes – mantêm uma relação pouco
usual com a Igreja. Cheirar cola e fazer o sinal da cruz aparentemente podem não combinar,
assim como assassinato e catequese. Todavia, para muito fiéis mexicanos dos dias de
hoje, essas coisas podem combinar sim.
A multidão de pessoas que aparece
na Igreja Santo Hipólito, no dia 28 de cada mês, é composta de fiéis, no mínimo, pouco
convencionais. Com piercings e tatuagens, os jovens vêm dos bairros mais problemáticos
da capital, e muitos admitem envolvimento em gangues e uso de drogas. Na verdade,
o consumo de drogas prevalece até diante da porta da igreja, onde a fumaça de maconha
preenche o ar e a moda é cheirar cola.
No entanto, um santo do século
I, amado por muitos jovens mexicanos, também vem tendo um efeito capaz de alterar
mentalidades. Milhares de jovens dos bairros mais duros e oprimidos recentemente começaram
a realizar peregrinações mensais a Santo Hipólito, carregando velas, rosários e imagens
de São Judas, o santo padroeiro das causas desesperadas.
"Quero me
comunicar com Deus" – disse um adolescente de óculos que segurava uma imagem de São
Judas e cheirava cola, quando questionado sobre seu fervor religioso.
Os
jovens chegam de metrô, ônibus e bicicleta, vindos das periferias da capital mexicana,
ansiosos por obter suas bênçãos. A Igreja está tentando canalizar esse fervor de massa.
Pe. René Perez, popular pároco encarregado de manter a nova multidão de fiéis desordeiros
sob controle, espera reinventar São Judas como o patrono local extra-oficial dos viciados.
"Não temos uma varinha mágica, mas queremos tirar vantagem dessa fé que eles têm"
– disse Pe. Perez.
Como resultado, ele aceita drogas na cestinha de
esmolas, se a esmola for seguida do compromisso de abandonar o vício. Foi ele o responsável
pela vinda de Pe. Loos, 74 anos, norte-americano que mora no México há mais de quatro
décadas e cuja linguagem de rua o ajuda a se comunicar com os novos fiéis. (AF)