São Tomé, 12 jul (RV) - O Arquipélago de São Tomé e Príncipe está estes dias
em grande movimento. Diversas presenças e acontecimentos se cruzam, deixando traços
que ficarão para a história do país: presença de bispos lusófonos; de delegações do
Governo de Cabo Verde; festa dos 35 anos da independência do país; campanha eleitoral.
A ilha do Príncipe acordou sábado, 10 de julho, às 6h da manhã com apitos
de carros e vuvuzelas. Não é o mundial de futebol. É o início da campanha eleitoral,
que tem pelo meio os 35 anos de independência, este ano comemorados na ilha. Para
este efeito chega segunda-feira 12 à ilha o Presidente da Republica, Fradique de Menezes.
Foi precedido já no domingo pelo Primeiro-Ministro, Joaquim Rafael Branco, acolhido
em festa no aeroporto pelos simpatizantes do seu partido: o MLSTP, um dos 14 partidos
concorrentes a estas eleições autárquicas, regionais e legislativas.
Festa
calorosa também, mas de índole diferente, foi a que os fiéis, o pároco e as irmãs
reservaram aos bispos que lá chegaram sexta-feira para uma visita. As batucadeiras
de Santiago de Cabo Verde, nesta ilha habitada majoritariamente por cabo-verdianos,
pediram logo no aeroporto através cântico e a dança da Tchabeta uma bênção dos bispos
para que venha a chuva. Não para Cabo Verde, cuja seca as obrigou a vir para São Tomé
e Príncipe, mas para estas duas ilhas verdejantes, onde excepcionalmente não chove
há meses. Todos estão confiantes de que a presença, pela primeira vez no Príncipe,
de 4 bispos, irá trazer a chuva. Trata-se dos dois bispos da Guiné-Bissau, o de Cabo
Verde e o de São Tomé que, terminado o encontro dos bispos lusófonos, foram dois dias
a Príncipe visitar a comunidade. A realidade não difere muito de São Tomé: vida difícil
nas roças, e um pouquinho mais aliviada na capital, da qual Santo António é o padroeiro.
Mas há um agravante, a falta de transportes aéreos, marítimos, terrestres, faltando
assim mercadorias, gasóleo, etc. A tudo isto se acrescenta a típica desestruturação
familiar do país, o alcoolismo difuso, o desemprego, a sensação de se estar num beco
sem saída.
O momento alto da presença histórica dos 4 bispos na Ilha foi a
missa campal no sábado em que D. Manuel dos Santos crismou cerca de trinta jovens.
Na homilia, insistiu no significado profundo deste sacramento que nada tem a ver com
a magia ou com soluções para tudo; na responsabilidade que todos têm na sociedade,
elemento indispensável para o desenvolvimento e, mais uma vez, condenou a compra dos
votos e apelou à harmonia durante a campanha eleitoral. Enfim, uma forma de recordar
que a pobreza não é uma condenação, mas que é preciso pôr a mão seriamente para que
Deus ajude; uma forma de combater a resignação e a falta de esperança que se nota
em muitos especialmente no mundo rural, pois tanto em São Tomé como em Príncipe existem
dois mundos distintos: a extensa área rural feita de roças paupérrimas e o mundo urbano
com algum sinal de dinamismo.
A Igreja, com os seus serviços sociais e de
evangelização, constitui uma indispensável força impulsionadora, mas sabe que sozinha
pode fazer pouco. É preciso diálogo constante com as autoridades para que cumpram
os seus deveres em prol do bem-estar do povo. E foi esta a tônica das conclusões finais
do IX encontro dos bispos lusófonos, que teve lugar na cidade de São Tomé de 2 a 9
deste mês. O ato final do encontro foi a missa concelebrada pelos 10 bispos presentes,
na Sé Catedral da Cidade. E para quem gosta de símbolos, a cor verde das casulas enfeitadas
de tecido africano, oferecidas na véspera pelo pároco da catedral aos bispos, dava
um tom geral de esperança, consubstanciada também na grande alegria do coro e a plena
participação das pessoas.
A dar um pouco mais de esperança a delegação de
Cabo Verde, chefiada pelo Ministro das Comunidades emigradas, Sidónio Monteiro. Tal
como os bispos, percorreu roças, em São Tomé e no Príncipe, visitou anciãos, falou
com as autoridades e contatou os chefes associativos, a quem entregou, no Príncipe,
as chaves duma viatura para uso comunitário. É o rosto da atenção que o governo de
Cabo Verde vem dando a esta comunidade e da cooperação entre aquele arquipélago e
São Tomé e Príncipe para melhorar a vida dos cabo-verdianos e de todo o povo de São
Tomé.