DOM ERWIN KRÄUTLER: SANGUE DERRAMADO DOS INDÍGENAS CLAMA AOS CÉUS
Brasília, 10 jul (RV) - O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), organismo
vinculado à CNBB, lançou nesta sexta-feira, na sede da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), em Brasília, o relatório sobre a violência contra os povos indígenas
no Brasil em 2009.
O presidente do CIMI, Dom Erwin Krautler, ressaltou que
o objetivo do relatório não é dizer se a violência contra os indígenas aumentou ou
diminuiu, mas mostrar que existe violência contra os povos indígenas. "Não se trata
de estatística, porque nosso relacionamento é pessoal com esta gente" - disse o bispo
da Prelazia do Xingu (PA).
A antropóloga, Lúcia Rangel, coordenadora do relatório,
concorda com Dom Erwin. "Os números contidos no relatório não são números que podem
ser trabalhados estatisticamente. Nos últimos dez anos podemos falar de aumento de
violência contra o patrimônio indígena, assassinatos, suicídio" - ressaltou Rangel.
"O
sangue derramado dos indígenas clama aos céus" - disse Dom Erwin Krautler. "Queremos
que este relatório chegue aos Governos Federal e Estadual para colocarmos um basta
na violência contra os povos indígenas”.
Segundo o coordenador do CIMI no Mato
Grosso do Sul, Egon Heck, neste estado, desde 2003, ocorre o maior número de violência
contra os indígenas no país. Ele aponta a omissão do Governo Federal como causa desta
realidade no estado.
O CIMI sublinha no relatório que os conflitos pela posse
da terra estão na origem da violência contra os indígenas. "No Mato Grosso do Sul
prosperam as usinas de etanol que incidem sobre as terras indígenas, tanto as já identificadas
quanto as que estão em processo de identificação", disse Heck.
Em 2009, foram
registrados 133 casos de violência provocados pela omissão do poder público. Quarenta
e uma pessoas morreram por falta de assistência médica. Deste número, 22 vítimas são
do povo Xavante, da comunidade Parabubure, localizada no município de Nova Xavantina,
Mato Grosso. Outro dado alarmante é o elevado índice de desnutrição. No ano passado
foram registrados 90 casos na comunidade Guarani Kaiowá de Dourados (MS).
O
relatório aponta que existe um crescente processo de criminalização de lideranças
e uma intensificação de ações contra os indígenas em diversos estados do Brasil. Os
casos que mais chamam atenção foram os praticados contra os Tupinambás, na Bahia,
e os Xukuru, em Pernambuco.
Em junho de 2009, cinco indígenas Tupinambás da
Serra do Padeiro, município de Buerarema, foram capturados e agredidos pela Polícia
Federal. Exames comprovaram ainda, que três deles receberam choques elétricos na região
dorsal e genital. Essas agressões tinham por objetivo intimidar os indígenas para
que saíssem da terra que tradicionalmente ocupam. (MJ⁄CNBB)