São Tomé, 05 jul (RV) – Prossegue na Ilha de São Tomé o encontro dos bispos
lusófonos, inaugurado na última sexta-feira.
Até o dia 9, representantes das
Conferências Episcopais dos países de língua portuguesa, com exceção de Timor-Leste
e Macau, analisam o tema da pobreza, que já esteve no centro da agenda da Caritas
lusófona em um encontro realizado nos meses passados na capital guineense, Bissau.
Espera-se deste encontro de São Tomé um apelo às autoridades políticas e de
governo para promover políticas concretas no combate à pobreza.
Outros aspectos
debatidos no encontro internacional serão a cooperação entre as comunidades de língua
portuguesa, a comunhão entre as Igrejas e o intercâmbio de propostas a serviço da
evangelização e o apoio aos jovens para sua formação superior.
Para mais detalhes,
leia e ouça o boletim da enviada da Rádio Vaticano, Dulce Araújo:
Roças, roças
e roças. São Tomé é essencialmente isto: uma ilha de 875 km coberta por uma densa
vegetação orlada pelo mar azul. Roças de cacau e café introduzidas pelos portugueses
a partir de 1800 em substituição da economia esclavagista e da cana de açúcar entrada,
entretanto, em decadência. A escravatura tinha sido abolida. Mas, a mão de obra escrava
era necessária para essas novas plantações. Então, os portugueses mandaram vir pessoas
das outras colónias: sobretudo de Cabo Verde e Angola, mas também de Moçambique, Guiné-Bissau.
Chamavam-se “contratados”. Na realidade a diferença com a escravatura era mínima.
As pessoas que vivem hoje nas roças são seus descendentes, ou mesmo as que continuaram
ainda a vir nos anos 60. A independência do país a 12 de julho de 1975 (35 anos
daqui a poucos dias) não melhorou nada para elas. Antes pelo contrario! Ficaram abandonadas
à sua sorte. A maioria vive na miséria, em pequenas casas de madeira à beira da estrada
ou escondidas no interior das roças. Ali a estrutura continua a ser a mesma: casa
grande e senzala. Só que a casa grande com as suas estruturas hospitalares, de administração
e exportação, está fechada, ocupada ou danificada. O Estado de São Tomé que nacionalizou
as roças depois da independência não foi capaz, até hoje, de as reabilitar e de dar
uma vida digna às pessoas que lá vivem: muito mais das cerca de 2500 que tinham algumas
delas antigamente – disse-nos um descendente de contratados na Roça Rio do Ouro, dizendo
que o governo deveria confiá-las a pessoas capazes de as gerir em novos moldes. Uma
situação que gera falta de esperança, de auto-estima e passividade nas pessoas, aumentando
ainda mais a sua pobreza. Os bispos que tomam parte neste encontro puderam ver
isso tudo com os próprios olhos nas visitas destes dois dias sobretudo ao Norte da
Ilha. Mas puderam ver também o fervor cristão, em Neves por ex., onde sábado foram
acolhidos em festa por essa comunidade composta sobretudo por originários de Cabo
Verde. A Liturgia foi de facto presidida pelo bispo de Santiago, D. Arlindo Furtado.
Na homilia evocou São Paulo para dizer que ninguém é estrangeiro ou hóspede em Cristo,
aludindo assim a um outro problema do país: a não concessão de cidadania, e um tratamento
de segunda classe a esses cidadãos que vivem em São Tomé há décadas. Uma realidade
de pobreza e exclusão social que bem se coaduna com o tema escolhido para este nono
encontro dos bispos lusófonos: a Igreja na luta contra a pobreza. Este domingo os
bispos concelebraram no adro da Sé catedral, onde o bispo anfitrião, D. Manuel António
dos Santos, conferiu a ordenação sacerdotal a um filho da Terra, Fausto Matos, e
comemorou ao mesmo tempo, os 25 anos do seu sacerdócio, vivendo assim a alegria o
Ano Sacerdotal que, nalgumas dioceses ainda não foi encerrado. Os trabalhos do
encontro continuam, alternados por visitas às comunidades, a partir de hoje em direcção
ao Sul da Ilha, onde predominam oriundos de Angola nas roças.