Cidade do Vaticano, 23 jun (RV) - A poucos dias da data em que a Igreja recorda
Pedro e Paulo, o Vaticano anunciou ontem ter descoberto as primeiras imagens sacras
conhecidas dos apóstolos de Jesus Cristo.
Elas foram reveladas, juntamente
com representações inéditas dos apóstolos João e André, em uma câmara subterrânea
para sepultamento localizada embaixo de um prédio de escritórios numa movimentada
rua de Roma, a poucos metros da Basílica de São Paulo.
O achado foi apresentado
oficialmente ontem em coletiva de imprensa pelo presidente da Pontifícia Comissão
de Arqueologia Sacra e do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi.
Usando uma nova tecnologia a laser, arqueólogos e restauradores de arte encontraram
as pinturas num ramal das catacumbas de Santa Tecla, do lado de fora das muralhas
da Roma antiga.
A moderna técnica permite queimar espessos depósitos de carbonato
de cálcio sem danificar as cores das pinturas e pode revolucionar a forma como o trabalho
de restauração é realizado em ambientes de umidade extrema e ausência de circulação
de ar.
Barbara Mazzei, que chefiou o projeto, disse que o laser foi usado como
um “bisturi óptico” para fazer o carbonato cair sem prejudicar a pintura: “O laser
criou uma espécie de pequena explosão de vapor, desprendendo-o da superfície” – explicou.
O resultado deu uma surpreendente clareza a imagens que, antes, eram borradas e opacas.
Outras
imagens bíblicas, como Jesus ressuscitando Lázaro ou Abraão preparando o sacrifício
de Isaac, também estão muito mais claras e brilhantes.
Os quilômetros de catacumbas
escavadas sob a capital italiana são uma importante atração turística, pois oferecem
aos visitantes uma visão sobre as tradições das origens da Igreja, quando os cristãos
eram perseguidos por causa de sua fé.
As pinturas têm as mesmas características
de imagens posteriores, como a testa alta e enrugada de Paulo, a cabeça começando
a ficar calva e a barba pontuda. Isso indica que essas figuras podem ter sido as que
fixaram o padrão.
Os quatro ícones, com cerca de 50 centímetros de diâmetro,
estão no teto da sepultura subterrânea de uma nobre que teria se convertido ao cristianismo
no mesmo século em que o imperador Constantino legalizou a religião.
Os primeiros
cristãos escavaram as catacumbas do lado de fora das muralhas de Roma como cemitérios
subterrâneos porque os enterros eram proibidos dentro das muralhas da cidade - os
romanos pagãos eram geralmente cremados.
Segundo Dom Gianfranco Ravasi, a presença
dos apóstolos neste sepulcro evoca uma espécie de devoção e de protetorado em relação
aos dois mártires romanos.
"No que diz respeito a pinturas no interior de
catacumbas, estamos acostumados a ver pinturas muito pálidas, geralmente brancas,
com poucas cores. No caso das catacumbas de Santa Tecla, a grande surpresa foram as
cores extraordinárias. Quanto mais avançamos, mais surpresas encontramos. Foi uma
descoberta de forte impacto emocional” - disse a pesquisadora Barbara Mazzei.
Dom
Giovanni Carrú, secretário da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, indicou aos
jornalistas que estes trabalhos “restituíram aos especialistas e visitadores um patrimônio
iconográfico muito importante para reconstruir a história da comunidade cristã de
Roma, que, com as pinturas que decoram seus cemitérios, expressavam sua cultura, sua
civilização e sua fé".
A Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra foi instituída
pelo Papa Pio IX em 1925. Trabalha na conservação das catacumbas cristãs, na restauração
das obras e escavações. Há 20 anos está empenhada no projeto de recuperação do patrimônio
pictórico conservado nas catacumbas.
O Professor Fabrizio Bisconti, diretor
de arqueologia das catacumbas de Roma, que pertencem ao Vaticano, disse que o achado
ainda não está aberto ao público porque as obras continuam, há dificuldade de acesso
e o espaço é limitado. A entrada é permitida exclusivamente a especialistas, por enquanto. (CM)