Brasília, 23 jun (RV) - O Setor Pastoral da Mobilidade Humana da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com a Secretaria Nacional de Justiça,
lançou ontem no auditório Dom Hélder Câmera, na sede da CNBB, em Brasília, o livro:
“Tráfico de Pessoas”.
O lançamento ocorreu durante a reunião do Conselho Episcopal
Pastoral da CNBB (Consep) e teve a participação do Presidente da CNBB, Dom Geraldo
Lyrio Rocha; do Vice-presidente, Dom Luiz Soares Vieira, e do Secretário-geral, Dom
Dimas Lara Barbosa, além dos outros bispos, membros do Conselho.
Resultado
do Seminário Nacional sobre enfrentamento ao tráfico de pessoas, o livro reúne, em
111 páginas, artigos de especialistas sobre a realidade do tráfico humano. “O lucro
anual das redes criminosas com cada pessoa traficada é estimado em U$ 30 mil, somando
cerca de 31,6 bilhões de dólares anuais” - escreve a delegada no Departamento de Polícia
Federal, Paula Dora Aostri Morales.
“A razão última do porque de nosso trabalho
e compromisso pastoral de resposta ao tráfico de pessoas é que somos discípulos de
Cristo e, como tais, devemos prolongar o amor de Jesus na história, fazendo-o chegar
aos mais vulneráveis e necessitados” - diz a coordenadora do Instituto de Migrações
Humanas, Irmã Rosita Milesi.
No ato de apresentação do livro pais de uma vítima
de tráfico de pessoas ofereceram seu testemunho.
O relatório anual redigido
pelo governo americano “Trafficking in Persons” (TIP) indica o Brasil está no grupo
de países que “não cumprem totalmente os requisitos mínimos para a eliminação do tráfico,
mas estão empreendendo esforços significativos nesse sentido”.
A impunidade
é um dos principais problemas. De acordo com o documento, o Brasil é fonte de homens,
mulheres, meninos e meninas vítimas de tráfico de seres humanos para exploração sexual
forçada, dentro e fora do país, e fonte de homens para trabalho forçado em território
nacional.
O texto aponta o Estado de Goiás como origem de muitas vítimas traficadas
para o exterior, sobretudo para União Européia e Estados Unidos.
Mais de 25
mil brasileiros adultos estão sujeitos ao trabalho escravo dentro do país, principalmente
em fazendas de gado, madeira e mineração, cana-de-açúcar e grandes fazendas de milho,
algodão, soja e carvão vegetal - constata o documento. Um trecho do estudo destaca
ainda que crianças foram identificadas como trabalhadores escravos na pecuária, mineração
e na produção de carvão.
Desde 1995, quando foi criado o sistema público
de combate à escravidão contemporânea para fins de exploração econômica no país, mais
de 37 mil pessoas foram libertadas dessa condição. A recomendação é que o Brasil
aumente os esforços para identificar e punir casos de tráfico de pessoas, incluindo
funcionários públicos cúmplices nos crimes; amplie a colaboração entre órgãos governamentais,
empresas e entidades não-governamentais, e direcione recursos para financiar a assistência
e a proteção às vítimas.
Recordamos que o coordenador da Campanha de Combate
ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Frei Xavier Plassat, foi
um dos nove selecionados pelo governo dos Estados Unidos para ser homenageado pela
sua atuação no combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas.
A premiação
ocorreu aconteceu dia 14 de junho durante o lançamento do relatório, em Washington,
com a participação da secretária de Estado, Hillary Clinton. A homenagem acontece
anualmente e é organizada pelo Departamento de Estado, que escolhe indivíduos ao redor
do mundo que se dedicam à luta contra o tráfico de seres humanos. (CM)