Cidade do Vaticano, 20 jun (RV) - O mundo inteiro nestes dias tem os olhares
e pensamentos dirigidos para a África do Sul onde se realiza a Copa do Mundo de Futebol.
Um evento que reúne 36 equipes de todos os continentes. Na sua 19ª edição a Copa do
Mundo se realiza pela primeira vez no continente africano. Um instrumento odiado e
amado, barulhento, dá o tom antes, durante e depois das partidas, é a “vuvuzela”.
Para muitos esse instrumento, é mais do que um instrumento é um símbolo do grito da
África para chamar a atenção do mundo sobre a realidade de um continente, esquecido
nas suas dificuldades e explorado nas suas riquezas. A Copa do Mundo, recheada
de patrocinadores, dá visão de uma riqueza que flutua no espaço, através de imagens
e comerciais cada vez mais tecnológicos, e que muitas vezes não deixa transparecer
o que realmente este continente passa e sofre no seu dia a dia, com lutas para a sobrevivência
de multidões de pessoas, que vivem à margem da sociedade do bem estar. Uma luta diária
contra a pobreza, injustiças e desigualdades. Nos Estádios, onde se realizam as
partidas de futebol que transmitem emoções a milhões de pessoas em todas as partes
do mundo, do lado de foram estão outras pessoas que não dispõem de dinheiro para comprar
bilhetes para ver os jogos. Elas vivem em casas onde nem sequer têm eletricidade e
não podem acompanhar os jogos nem mesmo pela televisão. É ai que a “vuvuzela” com
seu barulho ensurdecedor pode despertar a consciência de milhões de pessoas, que sentadas
em suas paltronas confortáveis em suas casas de primeiro mundo, vêem pela televisão
somente o retângulo de jogo e as peripécias dos jogadores. A Copa do Mundo de
Futebol dever ir além deste retângulo de terra e ajudar este continente explorado
e sofrido a reconquistar sua dignidade, e a caminhar com suas próprias pernas. A
Copa do Mundo representa assim uma ocasião importante para todo o continente africano.
O futebol pode ser capaz de construir pontes e derrubar barreiras. Pode ajudar a cancelar
o racismo e as discriminações. A Copa do Mundo é uma ocasião que não deve e não pode
ser desperdiçada, para fazer conhecer a verdadeira face da África, que não é a imagem
muitas vezes proposta pelos meios de comunicação, pobre, misera, desesperada. É um
continente que foi e continua sendo explorado por causa de suas riquezas, pisoteado
pelos interesses, transformado em território de conflitos e discriminado. A verdadeira
África que deve ser mostrada é de uma terra que tem muito a dar e dizer para o resto
do mundo. Rica de recursos econômicos, de humanidade, de história de integração, diálogo
e luta cotidiana pelos direitos humanos. Se a Copa do Mundo ajudar a ver esta África
e provocar interrogações sobre o futuro deste continente, então terá valido a pena,
ter construído o grande circo midiático do futebol e suportado o som da “vuvuzela”.
(SP)