DIPLOMATA BRASILEIRO ANTINAZISTA RECORDADO COM MISSA EM ROMA
Roma, 19 jun (RV) - O Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da
Unidade dos Cristãos, Cardeal Walter Kasper, presidiu uma Eucaristia na igreja de
Santa Maria in Traspontina, na última 5ª feira, em sufrágio por dois diplomatas inspirados
pelo cristianismo que lutaram contra o nazismo: Luis Martins de Sousa Dantas, brasileiro,
e Aristides de Sousa Mendes, português.
Os Cardeais Dom Cláudio Hummes, Prefeito
da Congregação para o Clero, Dom William Joseph Levada, Prefeito da Congregação para
a Doutrina da Fé, e o Presidente emérito do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz
e do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Dom Renato Raffaele
Martino, concelebraram a Missa.
Em sua edição de ontem, o jornal Vaticano
“L’Osservatore Romano” publica um artigo recordando que “tanto Dantas como Mendes
pertencem ao grupo de pessoas de reta consciência que, em toda a Europa, arriscaram
sua vida para salvar a de tantas pessoas ameaçadas pelo horror do nazifascismo”.
Nos
anos difíceis da 2ª Guerra Mundial, o brasileiro Luis Martins de Sousa Dantas e o
português Aristides de Sousa Mendes salvaram a vida de milhares de judeus. Segundo
o Cardeal Martino, que proferiu a homilia, “a ação de Dantas e de Mendes foi motivada
por uma profunda fé cristã”.
A ação dos dois diplomatas adquire hoje ainda
mais relevância porque se realizava em total desobediência às disposições de seus
respectivos governos, que - como os da maior parte do mundo - naqueles anos estavam
dispostos a lutar contra os judeus.
Desafiando a ordem explícita do governo
de Salazar de evitar “conceder vistos aos judeus e a outros indesejáveis”, Mendes
organizou um sistema de vistos que ocultava a identidade judaica e conseguiu salvar
mais de 30 mil pessoas dos campos de concentração e da morte certa. A vida não
lhe restituiu a generosidade dedicada aos outros: O diplomata português viu seus 14
filhos emigrar e dispersar-se por diferentes lugares do mundo. Morreu em absoluta
miséria, em um refúgio para pobres administrado por franciscanos em Lisboa, em 1954.
Atendendo a seu desejo, foi sepultado com o saio franciscano.
Por sua vez,
o embaixador Dantas também ouviu a voz de sua consciência e facilitou a fuga de milhares
de pessoas ameaçadas de morte; uma insubordinação que lhe custou a carreira. Em sua
defesa, limitou-se a dizer que agiu “movido pelos mais elementares sentimentos de
piedade cristã”.
Em 2003, o brasileiro (falecido em 1954) foi proclamado “Justo
entre as nações”, título atribuído a pessoas que arriscaram suas vidas para ajudar
os judeus perseguidos pelo regimes nazista e fascista.
Os dois diplomatas,
e outras personalidades da época, inspiraram a criação de um comitê promotor do “Dia
da Consciência”, para recordar e agradecer a Deus por todos os que tiveram a valentia
de ouvir sua consciência naqueles anos difíceis. (CM)