SANTA SÉ: CONSCIENTIZAR SOCIEDADE CONTRA XENOFOBIA
Cidade do Vaticano, 18 jun (RV) - A Santa Sé voltou a pedir políticas de acolhimento
e solidariedade para as pessoas obrigadas a deixar suas próprias terras e que se encontram
muitas vezes em estado de clandestinidade, “por terem entrado na casa do rico sem
serem convidadas”.
O Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos
Migrantes e Itinerantes, Arcebispo Antonio Maria Vegliò, proferiu uma homilia ontem
na vigília ecumênica realizada na Basílica de Santa Maria in Trastevere por ocasião
do Dia Mundial dos Refugiados, que se celebra em 20 de junho.
Tema unânime
deste momento de oração comum, que reuniu pastores de várias confissões cristãs, foi
“Morrer de esperança”, e recordou, em orações e reflexões, as centenas de pessoas,
muitas das quais anônimas, que ao sonhar uma existência melhor, deixam suas vidas
no Mar Mediterrâneo.
Durante a função religiosa, algumas delas foram recordadas
com círios, e distribuiu-se a chamada “Carta da Líbia”, escrita por 38 imigrantes
eritreus que narram sua aventura ao partir de seu país rumo à costa italiana. Depois
de quatro dias sem alimentos no mar, foram abordados pela Marinha Militar Italiana,
receberam água e foram enviados à Líbia.
Afirmando que a luta contra a xenofobia
exige a conscientização da sociedade, Dom Vegliò defendeu que “não se trata somente
de planos normativos, mas é necessária uma paciente e constante obra de formação da
mentalidade e da consciência”.
“A educação deve se inspirar na gama de valores,
sentimentos e comportamentos que vão do acolhimento, compreensão e solidariedade à
convivência e ao convívio” – continuou ele.
Para o Arcebispo italiano, “estes
são valores de um diálogo que se fragmenta na vida cotidiana: com uma saudação cordial,
atos de solidariedade no ambiente de trabalho, com a participação nos problemas dos
outros, com sentimentos de misericórdia e de perdão. Um diálogo que diz, sobretudo,
a capacidade de conviver com os outros, de escutar, de entender, de aceitar cada um
com sua mentalidade”.
“Seguindo estas sugestões, estou certo que conseguiremos
traçar, na sociedade de hoje, um verdadeiro 'itinerário de paz' e derrotaremos a prepotência
de quem prefere o uso da força em vez do amor, da compreensão e da solidariedade”
– comentou o expoente do Vaticano.
Dom Vegliò definiu o drama da imigração
como uma “verdadeira crise humanitária; um êxodo bíblico sempre mais devorado com
voracidade sem escrúpulos pela criminalidade organizada”. Neste sentido, explicou
que a Igreja pede a todos que assumam as próprias responsabilidades e encontrem soluções
que não sejam somente o reforço das sanções contra os irregulares e o fechamento mais
hermético das fronteiras.
Na mesma linha, o Secretário do Pontifício Conselho
para os Migrantes e Itinerantes, Dom Agostino Marchetto, em discurso sobre proteção
dos direitos humanos para o Conselho Nacional Forense, ressaltou que é preciso “mais
diálogo entre as pessoas, a comunidade, as autoridades e organizações civis, povos
e religiões, para conter o fechamento e a intolerância que, no fundo, escondem a idolatria
de si mesmo, do próprio grupo e das próprias tradições sócio-culturais”. (CM)