Antonio Guterres pede debate internacional sobre os refugiados
(16/6/2010) António Guterres que iniciou esta terça-feira um segundo mandato de cinco
anos na liderança do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados advertiu
que o século XXI “será o século das pessoas em fuga”, apelando a um debate internacional
para se enfrentar este desafio.
As grandes tendências globais, como o desenvolvimento
demográfico, a urbanização, a escassez de víveres e de água potável, de matérias primas,
e sobretudo as mudanças climáticas, “agudizam situações de conflito e obrigam as pessoas
a abandonar as suas pátrias”, advertiu.
Depois de revelar que o Alto Comissariado
da ONU para os Refugiados aumentou as suas actividades em 50 por cento nos últimos
quatro anos, Guterres sublinhou que, “ao contrário do que políticos populistas querem
fazer crer”, oito em cada dez refugiados vivem em países em vias de desenvolvimento.
Os
primeiros 25 lugares da lista dos países que acolhem mais refugiados são ocupados
por países em desenvolvimento, e só no 26.º posto surge um país industrializado, a
Alemanha.
Em África, vivem 40 por cento dos refugiados de todo o mundo. “Estamos
perante uma injustiça, originada pelas mudanças climáticas, porque os que são menos
responsáveis e têm menos recursos são os mais atingidos” pela drama dos refugiados,
afirmou.
Neste contexto, o Alto Comissário apelou à União Europeia para unificar
o seu direito de asilo político, lembrando que no total dos 27 países que a constituem
foram acolhidos, em 2009, 286 700 refugiados, e só a África do Sul acolheu 222 mil,
no mesmo período.
“As taxas de admissão de pessoas em busca de asilo político
estão praticamente no zero em alguns países europeus, enquanto noutros países as taxas
de admissão superam os oitenta por cento, embora em função da origem das pessoas”,
lamentou.
Guterres apontou ainda os três grandes desafios que se colocam ao
ACNUR, o primeiro dos quais é o crescente número de conflitos duradouros, como no
Afeganistão, na Somália ou no Congo.
O segundo grande desafio é a redução do
espaço de manobra humanitário, nomeadamente devido à proliferação do banditismo, que
causou três vítimas mortais entre funcionários do ACNUR, nos últimos seis meses.
O
último grande desafio é a erosão do espaço de asilo político, acompanhado por “tendências
preocupantes”, como a xenofobia, o racismo e a crescente indiferença perante o drama
dos refugiados, alertou o Alto Comissário