Cidade do Vaticano, 13 jun (RV) - Neste XI domingo do tempo comum, as leituras
nos revelam a força do amor de Deus, seu profundo desejo de salvação e a necessidade
de abertura da nossa parte, a fim de que os desígnios divinos possam acontecer.
Na
primeira leitura, percebemos claramente a iniciativa amorosa de Deus a favor de Davi,
homem de Deus que se deixou seduzir pela violência e pelo adultério. Por causa de
seus pecados, a desordem se estabeleceu no seu lar. Deus, por meio do profeta Natã,
fala ao coração de Davi, que humildemente, acolhe a Palavra de Deus e se arrepende
em profundidade. Para Davi, a Palavra de Deus não foi só ensinamento, mas também correção
de Vida (cf. 2Tm 3,16).
São Paulo, na segunda leitura, contraria o pensamento
de sua época no contexto religioso. Para os religiosos judaicos, as obras eram fundamentais
para a salvação. As obras da Lei eram essenciais para a vida de fé daquele povo. Nesse
sentido, a salvação podia ser concebida como um ato do ser humano, algo a partir dele.
Depois de um encontro transformador com Jesus Cristo, Paulo prescindiu dessa doutrina
farisaica e mergulhou na Pessoa de Jesus Cristo. Segundo ele, conforme escrito na
carta ao Gálatas (cf. G 2), “somos justificados pela fé em Cristo e não pela prática
da Lei... Morri para a Lei, a fim de viver para Deus... Eu vivo, mas não eu, é Cristo
que vive em mim”. Então, S. Paulo quer nos dizer que não existe outra forma de salvação
fora da fé em Jesus Cristo nosso Senhor. A salvação é, portanto, dom de Deus. Ele
é que vem a nós e espera, da nossa parte, uma resposta de adesão sincera. No encontro
entre a iniciativa de Deus e a nossa resposta de fé, se dá a nossa salvação.
No
Evangelho, deparamo-nos com essas duas realidades: do perdão (1ª leitura) e da necessidade
da fé em Jesus Cristo (2ª leitura). Jesus está na casa de Simão fariseu, homem que
pensa conforme os princípios de sua expressão farisaica de fé. Talvez Simão quisesse
conhecer mais os ensinamentos do Mestre Jesus ou até, quem sabe, corrigi-lo. Era,
portanto, um banquete semelhante aos da diplomacia mundial. De repente quebra-se o
protocolo. Uma pecadora invade o recinto e se lança aos pés de Jesus e manifesta sua
gratidão e sua pequenez. Simão e convidados começam a murmurar contra Jesus, porque,
segundo eles, um profeta já teria reconhecido a pecadora e a mandado embora. Jesus
entende seus pensamentos e procura, na sua condição de salvador da humanidade, salvar
tanto aquela mulher quanto os fariseus.
Jesus, como fez Natã a Davi, na primeira
leitura, também conta uma parábola, a fim de que a resposta verdadeira brote dos lábios
dos próprios acusadores, dos próprios responsáveis pela direção da comunidade de fé:
“Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentas moedas de prata, o outro,
cinqüenta. Como não tivessem com que pagar, o homem perdoou os dois. Qual deles o
amará mais? Simão respondeu: Acho que é aquele ao qual perdoou mais” (Lc 7,41-43).
Pois bem, a resposta libertadora foi proclamada pelo próprio acusador. É aqui que
Jesus manifesta a infinita misericórdia de Deus, concedendo àquela que muito pecou
e não podia por si mesma ser salva, a graça do perdão. Observe que esse momento tanto
é de libertação para a mulher quanto para Simão, pois Jesus o faz pensar não segundo
as normas judaicas, mas segundo a lógica do amor. É interessante perceber também que
Jesus não se escandaliza com as concepções dos fariseus, mas, pelo contrário, quer
conduzi-los também para a mesma experiência de amor.
Outro dado importante,
além do perdão, é a necessidade da fé. Depois de conceder o perdão à pecadora, Jesus
observou: “Tua fé te salvou. Vai em paz!” (Lc 7,50). Aqui pensamos com S. Paulo quando
afirma que a justificação é obra da fé em Jesus Cristo. Essa mulher acreditou na Pessoa
de Jesus Cristo; viu nele algo diferente. Certamente não o olhou como fazia antes
ao ver um homem qualquer. Em Jesus, ela encontrou alguém que a viu de modo diferente,
que não quis usá-la, não a desprezou, mas a percebeu como pessoa, como gente, como
ser humano. Ela acreditou e isso foi causa de salvação.
Simão e convidados
se espantam diante do perdão concedido por Jesus. É sabido que só Deus perdoa pecados.
Pois bem, Lucas, nesse texto quer dizer aos fariseus e aos cristãos que Jesus é Deus
agindo no meio de nós para nossa salvação; que Jesus é o cumprimento das profecias:
ele é o Messias libertador esperado, mas que não foi percebido pelos de sua pátria.
Ele é o portador da esperança, do perdão e da salvação. Nele, a comunidade cristã
e toda a humanidade podem encontrar o fundamento de sua existência. Mesmo que o pecado
seja grande, mesmo que as desordens pareçam se sobrepor, mesmo que os homens se combatam
entre si, e tudo pareça não ter mais solução, ainda há espaço para o amor e o perdão.
Amemo-nos, perdoemo-nos e lutemos por um mundo segundo Jesus Cristo, expressão máxima
do amor de Deus por nós.
Deus seja sempre louvado em sua vida. Amém. Pe. José Erinaldo
de Lima