PAPA: PE. MATTEO RICCI, HUMANISMO, SABEDORIA E VERDADE DE DEUS
Cidade do Vaticano, 29 mai (RV) - O Papa recebeu esta manhã um grupo de 7 mil
fiéis peregrinos das Dioceses da região das Marcas (Macerata-Tolentino-Recanati-Cingoli-Treia),
que celebram neste mês de maio 400 anos da morte de Pe. Matteo Ricci (Macerata, 6
de outubro de 1552 — Pequim, 11 de maio de 1610).
Padre Matteo Ricci foi um
sacerdote jesuíta, estudioso de astronomia e matemática e cartógrafo conhecido por
sua atividade missionária na China da dinastia Ming. A ele é atribuída a introdução
do cristianismo na China.
Em tempos em que os Ocidentais eram vistos no Império
chinês como intrusos de índole preguiçosa, Pe. Ricci gozava de grande estima na capital
e na corte. Prova disso foi o extraordinário privilégio, impensável para um estrangeiro,
de ser sepultado no país. Hoje, pode-se ainda venerar seu túmulo, totalmente restaurado,
em Pequim.
Na Sala Paulo VI, Bento XVI cumprimentou todos os Bispos, autoridades
e membros da Companhia de Jesus, inclusive o Prepósito Geral, Pe. Adolfo Nicolas.
Surpreendendo os presentes, iniciou seu discurso proferindo uma saudação em chinês.
O Papa disse que essa é uma ocasião para descobrir e aprofundar a obra do
missionário e após citar seus méritos científicos, o definiu como uma “feliz síntese
entre anúncio do Evangelho e diálogo com a cultura do povo a quem o leva: um exemplo
de clareza doutrinal e prudente ação pastoral”.
Na China, Pe. Ricci não só
aprendeu a língua, mas assumiu o estilo de vida e costumes até ser aceito pelos chineses
e visto como ‘Mestre do grande Ocidente’. Hoje, no Museu do Milênio, em Pequim, somente
dois estrangeiros são recordados como parte da história local: Marco Polo e Pe. Matteo
Ricci.
No fulcro de seu discurso, o Papa recordou a perspectiva com a qual
o missionário italiano se relacionou com o mundo e a cultura chinesas: o humanismo
que considera a pessoa inserida em seu contexto, que cultiva valores morais e espirituais,
que colhe o positivo da tradição chinesa e que se oferece para enriquecê-lo com a
sabedoria e a verdade de Cristo.
Pe. Ricci não foi à China para levar a ciência
e a cultura do Ocidente, mas sim o Evangelho; para apresentar Deus:
“E justamente
neste momento, Pe. Ricci respondeu ao quesito mais amplo e o encontro motivado pela
fé se transformou em diálogo entre culturas; um diálogo desinteressado, livre de ambições
de poder econômico ou político, vivido na amizade, que fez da obra do missionário
e de seus discípulos um dos pontos mais altos e felizes na relação entre a China e
o Ocidente”.
Em chinês, Pe. Ricci escreveu o eloquente “Tratado da Amizade”,
em 1595. Ao levar ao coração da cultura e da civilização da China a herança da reflexão
clássica greco-romana e cristã sobre a própria amizade, nesta obra o missionário definia
o amigo como “metade de mim mesmo, aliás, outro eu”. Por conseguinte, “a razão de
ser da amizade é a necessidade recíproca e a ajuda mútua”.
Bento XVI recordou
sua relação com os quatro ‘célebres convertidos’, pilares da nascente Igreja chinesa.
Eles ajudaram o jesuíta italiano na tradução de obras de geometria, astronomia e cartografia,
que possibilitaram a reforma do calendário chinês e a reedição do mapa-múndi, oferecendo
ao chineses uma nova imagem do globo.
Recordando o Dia de Oração pela Igreja
na China e pelo povo chinês (24 de maio), o Pontífice auspiciou que estes homens de
Deus sejam de estímulo e encorajamento para viver com intensidade a fé cristã no diálogo
com as culturas diversas na certeza de que em Cristo se realiza um verdadeiro humanismo,
aberto a Deus, rico de valores morais e espirituais e capaz de responder aos anseios
mais profundos da alma humana.
E encerrando o discurso, disse:
“Assim
como o Pe. Matteo Ricci, eu também expresso hoje a minha profunda estima ao nobre
povo chinês e à sua cultura milenar, certo de que hoje, um novo encontro com o Cristianismo
produzirá muitos bons frutos, como naquele época ocasionou a pacífica convivência
entre os povos”. (CM)