Brasília, 26 mai (RV) - A Organização Internacional do Trabalho, OIT, a Comissão
Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo do Brasil e a Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República abriram ontem, na capital, uma reflexão sobre
o combate ao trabalho em regime de escravidão.
A abertura teve a presença do
presidente Lula, do secretário Paulo Vannuchi, ministro chefe da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, e outros ministros do governo. O 1º Encontro Nacional pela Erradicação
do Trabalho Escravo reúne até quinta-feira representantes do governo, setor privado
e sociedade civil.
Em declarações, o ministro da Secretaria Especial dos Direitos
Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, afirmou que “a questão da erradicação
do trabalho escravo não é unanimidade no Brasil, pois alguns nichos da sociedade alegam
que há exageros quando se fala em exploração de mão de obra e, por isso, não aderem
à política dos direitos humanos para o setor”.
Vannuchi garantiu que “o que
foi encarado como trabalho escravo nas condicionalidades da Constituição federal vai
ser combatido como tal. As irregularidades trabalhistas ficarão a cargo do ministro
do Trabalho”.
Por sua vez, o coordenador do projeto de combate ao trabalho
escravo da Organização Internacional do Trabalho, OIT, no Brasil, Luiz Machado, afirmou
que o crime persiste justamente por causa da impunidade e da vulnerabilidade dos trabalhadores.
Machado
disse que “esses trabalhadores são homens, na sua maioria entre 18 e 31 anos, oriundos
do Maranhão, Piauí, estados que têm IDH mais baixo, que têm menos presença de estado
no seu interior. Isto favorece a atuação dos chamados gatos, os aliciadores, que recrutam
as pessoas de forma ilegal e as levam para frentes de trabalho. Percebe-se que o fenômeno
está muitas vezes associado ao desmatamento ilegal” – revelou.
De acordo com
a OIT, desde o início da fiscalização do governo brasileiro, em 1995, mais de 36 mil
trabalhadores foram resgatados desta situação.
Para os integrantes da Comissão
de Direitos Humanos e Minorias, uma das principais medidas para erradicar a prática
no Brasil é a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição do Trabalho Escravo no
Congresso (PEC 438/01). Foi o que afirmaram ontem à relatora da Organização das Nações
Unidas (ONU) sobre Formas Contemporâneas de Escravidão, Gulnara Shahinian, que participa
do encontro em Brasília.
Nestes dias, a relatora da Organização das Nações
Unidas mantém reuniões com representantes entidades da sociedade civil, pesquisadores
e lideranças comunitárias, além de visitar áreas onde foram registradas ocorrências
de trabalho escravo.
A advogada Gulnara Shahinian é armênia e exerce a função
na ONU desde 2008. Ela deve apresentar um relatório sobre a visita ao Brasil em setembro
próximo, ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra, na Suíça.
Sua missão ao
Brasil teve início no último dia 17 e prossegue até o dia 28. A relatora já esteve
em São Paulo, Cuiabá e Açailândia (MA). (CM)