Cidade do Vaticano, 23 mai (RV) – "Na celebração de Pentecostes, somos convidados
a professar a nossa fé na presença e na ação do Espírito Santo" – com esta síntese
da solenidade que conclui o tempo pascal, teve início a homilia pronunciada por Bento
XVI esta manhã, na Basílica de S. Pedro.
O Espírito Santo, recordou o pontífice,
é o dom que Jesus pediu e continuamente pede ao Pai por seus amigos; o primeiro e
principal dom que nos obteve com a sua Ressurreição e Ascensão ao Céu. Este dom produz
unidade e compreensão: "Inicia-se um processo de reunificação entre as partes da família
humana, divididas e espalhadas; as pessoas, muitas vezes reduzidas a indivíduos em
competição ou em conflito entre si, alcançadas pelo Espírito de Cristo se abrem à
experiência da comunhão, que pode envolvê-las a tal ponto de fazer delas um novo organismo,
um novo sujeito: a Igreja. Este é o efeito da obra de Deus: a unidade".
Desde
o início, desde o dia de Pentecostes, explicou o Papa, a Igreja fala todas as línguas.
Ela jamais permanece prisioneira de confins políticos, raciais e culturais; não se
pode confundir com os Estados e deve permanecer autônoma. Por sua natureza, a Igreja
é una e multíplice, destinada a viver em todas as nações, todos os povos, nos mais
diferentes contextos sociais. O Espírito Santo envolve homens e povos e, através deles,
supera muros e barreiras.
Todavia, esta unidade criada pelo Espírito Santo
não significa uma espécie de igualitarismo. Pelo contrário. Em Pentecostes, os Apóstolos
falam línguas diferentes de modo que cada um compreenda a mensagem no próprio idioma.
Às Igrejas particulares, porém, cabe a missão de se confrontar e se harmonizar com
a Igreja una e católica.
A seguir, Bento XVI falou do fogo, a maneira como
o Espírito Santo se manifesta – fogo como chama divina que ilumina a estrada da humanidade.
"Como é diferente do fogo das guerras e das bombas!" – comparou o pontífice. "Como
é diferente o incêndio de Cristo, propagado pela Igreja, em relação ao fogo aceso
pelos ditadores de todas as épocas, inclusive do século passado, que deixa um rastro
de destruição. O fogo de Deus, o fogo do Espírito Santo, ao invés, arde sem queimar,
sem destruir, e, ao se propagar, faz emergir a parte melhor e mais verdadeira do homem,
a sua vocação à verdade e ao amor.
No íntimo do homem, o fogo provoca uma
transformação, consumando as escórias que o corrompem e dificultam sua relação com
Deus e com o próximo. Paradoxalmente, observa o pontífice, este efeito divino nos
assusta, temos medo de nos "queimar", e escolhemos permanecer como somos. Isso depende
do fato de que muitas vezes a nossa vida é marcada pela lógica do ter, do possuir,
e não do doar-se. Muitas pessoas crêem em Deus e admiram a figura de Jesus Cristo,
mas têm medo das exigências da fé, de renunciar a certas experiências, a algo de belo.
Para quem vive esta divisão, o Papa repete o que Jesus dizia aos seus amigos:
"Não tenham medo". Devemos deixar que a presença de Cristo e a sua graça transformem
o nosso coração, sempre sujeito às fraquezas humanas. "Vale a pena deixar-se tocar
pelo fogo do Espírito Santo. A dor que provoca é necessária para a nossa transformação."
(BF)