IGREJA VÊ COM CAUTELA CRIAÇÃO DA PRIMEIRA CÉLULA POR MÃOS HUMANAS
Cidade do Vaticano, 21 mai (RV) – O Vaticano reagiu hoje, com cautela, ao anúncio
feito nesta quinta-feira, nos Estados Unidos, sobre a produção de uma célula artificial.
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, disse ser "necessário
saber mais" sobre o tema para poder tecer algum comentário.
Da mesma
forma, o presidente emérito da Pontifícia Academia para as Ciências, Dom Elio Sgreccia,
também usou a palavra "cautela" para comentar o assunto.
Uma equipe
de geneticistas norte-americanos, chefiada por Craig Venter, anunciou ontem, a produção,
pela primeira vez, de uma célula controlada por DNA elaborado pelo ser humano, um
passo que deixa a ciência mais próxima de criar vida artificial.
Craig
Venter, o cientista que já fora corresponsável, em 2000, pela primeira sequenciação
do genoma humano, anunciou que sua equipe conseguiu criar a primeira célula viva com
um genoma sintético.
"Este cromossoma – o elemento portador da informação
genética – foi produzido a partir de quatro frascos de substâncias químicas e um sintetizador;
e tudo começou com informações informáticas" – disse Venter, assinalando que a descoberta
poderá ajudar a compreender os mecanismos da vida e a produção de vacinas.
Membros
da hierarquia católica italiana manifestaram a própria perplexidade e inquietação
diante do anúncio, que abre caminho à fabricação de organismos artificiais. "Nas mãos
erradas, trata-se de uma descoberta que amanhã poderá levar a um salto para um desconhecido
devastador" – considerou o presidente da Comissão para os Assuntos Jurídicos, da Conferência
Episcopal Italiana, Dom Domenico Mogavero, em declarações ao jornal "La Stampa".
Do
ponto de vista ético, Dom Domenico Mogavero adverte que "é a natureza humana que concede
a sua dignidade ao genoma humano, e não o contrário. O pesadelo a combater é a manipulação
da vida, ou seja, a eugenia".
Por sua vez, o arcebispo de Chieti-Vasto,
Dom Bruno Forte, afirmou que "a preocupação pode ser resumida na seguinte questão:
"Será que tudo o que é cientificamente possível é igualmente correto, do ponto de
vista ético?""
Sustentando que a Igreja olha para pesquisas do gênero
"não com preconceito, mas sim com atenção e simpatia" e que ele próprio "admira as
capacidades da inteligência humana manifestadas de forma singular e elevada", Dom
Bruno Forte defende, através das páginas do jornal "Corriere della Sera" que a resposta
àquela questão "reside num parâmetro que nos une a todos, não apenas os cristãos:
a dignidade do ser humano".
Ao anunciar o feito científico, o cientista
Craig Venter sublinhou que a criação da primeira célula artificial mudou seu ponto
de vista de definição da vida e de seu funcionamento". (AF)